quarta-feira, 8 de junho de 2016

# bento carneiro



Em que mundo vivem estes magistrados (v. aqui) e estes membros do Ministério Público (v.  aqui)?

Não ouso imaginar o que passa pela cabeça da maioria dessa gente.

Duvido, porém, que aguentem encarar o espelho e o travesseiro, numa imagem distorcida e histriônica que não devem render bons sonhos.

Afinal, são servidores públicos que fazem concurso para entrar em carreiras que pagam 20 ou 25 mil reais por mês e, de repetente, não mais que de repente, veem os seus contra-cheques de meses e mais meses recheados com 50, 100, 200 e até 300 mil reais mensais (v. aquiaqui).

E, ainda pior do que agir como se nada estivesse acontecendo, não querem que isso seja noticiado, com manifesto receio de que a verdade e o sol queimem a pele vampira de quem suga o pescoço do erário (v. aqui).

Ora, como verdadeiras castas hindus, divertem-se com os kinder-ovos mensais numa realidade cármica e carnal que só mesmo o Brasil-sil-sil pode lhes proporcionar (v. aqui).

E acham isso natural, moral, legal.

E assim ficam engordando às custas do orçamento público, crentes que a árvore que dá dinheiro lhes pertence, como se um pé de feijão fincado no exclusivo quintal do feudo mais ou menos hereditário que creem ter.

Nada, nada, nada justifica isso.

Podem enfeitar o pavão como quiserem, podem abusar da exegese administrativa, podem esgarçar a hermenêutica regulamentar, podem consultar astros, bulas, dogmas e evangelhos: nada soará menos do que o inadmissível, o escracho, o abjeto.

Podem colocar aditivos, donativos, atrasados, auxílios, empecilhos, brindes, diárias, canários, funções, cumulações, bônus, ônus, saldos, caldos, elfos, incrementos, excrementos... o diabo!

Não há conta séria que lhes permitam – num obsequioso silêncio ou numa pura e seca ladainha – aceitar receber o que se revelou receberem.

Sublinhe-se: não são agentes do mercado, não são seres vivos dos negócios sem fronteiras que, sob o espírito e a ética do capitalismo golfam o direito de entupir o culchão de dinheiro como e da maneira que seus estômagos e suas consciências bem queiram.

Não, não, não são.

De novo, o que imaginam esses indivíduos? Quem pensam que são?

Não são pássaros, não são aviões, não comem gilete, não são homens-fluido, não têm molas e nem se multiplicam em doze capazes de fazer o impossível pelo interesse público.

Pelo contrário, até.

Despidos das fantasias da toga e da autoridade constitucional, a quatro paredes, o que será que pensam sobre ética e justiça, sobre desigualdade e república, sobre sociedade e democracia?

Qual, pois, é a visão de Brasil-sil-sil que eles têm?

Uma raça, enfim, que na maioria confortável numa não-indignação não dignifica o suor a ferro e sangue do miserável brasileiro.

O qual por aí continua, macambúzio, vendo "dotôres" e suas sinhás como totem ou tabu da sombria fábula nativa.