quinta-feira, 30 de setembro de 2010

# aspas (xxxiv)


fds Leonardo Boff é magnífico em seus textos e conversas.
fds E a "Teologia da Libertação", que ajudou a construir com diversos outros católicos e teólogos latino-americanos, é ainda mais magnífica, pois é a que (talvez) melhor materialize o ideário cristão e uma daquelas que (talvez) melhor interprete a nossa Bíblia Sagrada.
fds Isso, pois, são fatos que a história posta insiste em negar, tergiversar e omitir. Tal como é posta a histórica relação dos donos do poder com a grande mídia nativa.
fds Assim, este texto do filósofo vem de novo (tentar) abrir os olhos dos ainda brancamente cegos. E sobre o assunto nada mais precisa ser dito (v. aqui).

fds Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso” pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o “Brasil Nunca Mais”, onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.
fds Esta história de vida me avalisa fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de ideias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.
fds Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando veem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos de O Estado de São Paulo, de A Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja, na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem desse povo. Mais que informar e fornecer material para a discussão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.
fds Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido a mais alta autoridade do país, ao Presidente Lula. Nele veem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.
fds Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.
fds Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma),
“a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e não contemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes, nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo - Jeca Tatu; negou seus direitos; arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação; conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)”
.
fds Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles têm pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidente de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.
fds Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados, de onde vem Lula, e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coronéis e para
“fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”
, frase tão distorcida por essa mídia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palabra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.
fds O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa se fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.
fds Outro conceito inovador foi o desenvolvimento com inclusão social e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituídas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas, importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.
fds O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, ao fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA, que faz questão de não ver; protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra, mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.
fds O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocolonial, neoglobalizado e, no fundo, retrógrado e velhista; ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes?
fds Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das más vontades deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.


 
fds

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

# o epifenômeno verde

fdsDantes uma mera eco-fundamentalista neandertal, eis que a grande mídia (e a classe pequeno-burguesa) descobre Marina Silva e faz dela a evolução da espécie política e a nova “queridinha do Brasil”.
fdsMas, convenhamos, não há nenhuma surpresa nesse fato: há quatro anos, até em Heloísa Helena o Grupo Globo-Folha-Abril depositou as esperanças de conter Lula; porém, agora, a coisa vem esverdeada, com um sorriso fransciscano e ares de mico-leão-dourado.
fdsMarina, frustrada pelo fato de o Presidente da República ter preterido-a em relação à Dilma como candidata presidencial, e, em especial, balançada diante do antigo e insistente assédio dos verdes, enxergou a oportunidade de, numa atitude egóica (como diria um amigo meu...), finalmente sair do ostracismo e despontar para os holofotes platinados e midiáticos globais. Há alguns meses, portanto, ela saiu do PT (e do Governo) para não entrar para a história.
fdsSabe-se, claro, que no Brasil os verdes já não fedem nem cheiram o orgânico sabor de um partido alternativo e independente. Foi-se aquele tempo. O real foco, agora, é outro, menos sócio-filosófico-ideológico-antropológico-ecológico. Nestes nossos tempos, os verdes olorizam-se pelo aroma prosecco das cheias “taças” que desfilam sobre as mesas enfeitadas da malta pequeno-burguesa e já nem bem se lembram mais. É, segundo eles, a lógica darwinização.
fdsHoje, capitaneados pelo neo-tucano-de-plumagem-esmeraldina Gabeira, os verdes vêm insistir, com Marina, naquela cantilena da "terceira via" (A. Giddens), uma ladainha que fantasia ao mostrar que há outro caminho para além da direita e da esquerda. Ora, ora... e um parêntesis: se não vou para lá e nem para cá – ainda que mais ou menos próximo das extremas e do centro –, fico no meio e, então, passo a ser um conservador (e, pois, da direita, que é quem luta por, no mínimo, manter o status quo, afastar reformas e estancar mudanças). E é desse jogo que as famiglias nacionais gostam, e é dos seus resultados que são dependentes.
fdsE, assim, eis que a grande mídia – grã-porta-voz dos interesses desses suseranos tupiniquins e eco dessa nossa elite branca – nela vê a única (e última) esperança de derrotar a famigerada Hidra que, de chapeuzinho do MST e vestida de vermelho, virá com as suas cabeças e o seu hálito venenoso matar e comer as criancinhas do nosso Brasil varonil.
fdsSim! Agora, só a Senhora-do-Capuz-Verde será capaz de levar o prélio (e Serra) para um segundo turno, momento em que se tentará, a todo custo, promover a reviravolta eleitoral e devolver a ordem num país que, veja só, bem progride (v. aqui).
fdsAfinal, como o candidato da direita (v. aqui) não conseguirá ultrapassar a barreira dos 30%, somente esta exótica nova musa será capaz de convencer a classe média-alta, os prosélitos do TFP (“tradição, família e propriedade”) e a turma dos demais alienados e descolados, de que o projeto Lula – o Menino-do-Dedo-Vermelho – não pode seguir em frente.
fdsMas, digo aos meus, não tenhamos "medo" (ou o anti-medo), pois, ainda assim, mesmo que essa gente toda resolva sair do “nulo”, do “branco”, da "indecisão" ou da “abstenção” – vez que, definitivamente, não têm coragem de ir votar no ideal demo-tucano e se re-cu-sam (e têm hor-ror) a votar numa ex-guerrilheira (e então admitir, nas urnas, que Lula fez, embora com falhas e pouco sangue, um dos melhores governos da história deste país), preferindo, pois, “lavar as mãos” e confirmar esse seu modus vivendi –, o contingente não será suficiente diante da grande onda avermelhada (ainda não vermelha, infelizmente) que atinge todos os cantos do país. .
fdsDilma, meus caros, com uma surra, já está eleita.
fdsE então restará à Marina poucos holofotes, o amarelo sorriso e, claro, um grande mico.
fds

# desova


À minha sombra, voltei.
Para ficar?
fds