domingo, 30 de outubro de 2005

# uma vitrine humana


Finalmente fizeram-me conhecer o tal orkut.

Há tempos, neste horizonte da internet, não constatava tamanha aberração, pluri-sensorial: mental, cultural, social, físiológico etc. Enfim, algo bizarro.

Antes, de início, soube que os brasileiros somos os maiores utentes deste troço.

Péssimo sinal: em linguagem nada criptografada, significa sermos, talvez, o povo mais desocupado do planeta.

Há quem diga que este clube não passa de mais uma conseqüência inútil da vida online. 

Há quem o considere uma vil panelinha virtual. 

Se entendi um pouco da sua idiota mecânica, afora àquela ladainha de que entra quem quer, trata-se da quase-perfeita união entre estas duas teses e outras tantas bestialidades, nas quais não consigo encontrar um pouco justificado motivo para o ingresso.

No clubinho há espaço para tudo -- um breve conhecido, a concunhada gente fina, a nora da irmã da calista da secretária, o moço que traz o gás, adolescentes, vigários-gerais, cães...

Ora, o que leva a massa a desabrochar seus sentimentos em busca de relações minguadas em um fel contagioso onde qualquer um entra e pode ver - eis, então, a princípio, a cultura do grande irmão, trazendo seres que rompem continuamente a sua privacidade, os seus dados, a sua alma; e, a posteriori, o universo das sacanagens atômicas, ou melhor, à bits, indecifráveis, indestinadas e imbecis.

Na esteira, vêm as anomalias cultural, mental e física havidas neste tal clubinho. 

O que interessa-me pensar é: por quê? O que são aqueles porta-retratos virtuais que os selecionáveis dispõem no ecrãn? Vêem-se poses mil, com roupas e nus estrategicamente expostos, com pinturas na cara e muques constrangedores que fazem a autofagia de cada clubenauta. 

E as “citações testemunhais”? Percebo que o brilhante clube tem um espaço para recados do coração, no qual todos os clubenautas sabem, com nome, cara e quase cpf, de quem e para quem vão as declarações. 

Assim, com tudo isso visceralmente exposto, acabam-se as cartas intimamente dirigidas, acabam-se as descobertas à dois, olho no olho, instigantes, particulares, românticas -- tudo em prol de uma rede de centenas de "friends" que surgem após meu nome, entre meus parênteses, restando em números frios, vazios e que, no máximo, nos remetem à uma época rançosa, traduzidas em uma operação de soma zero.

E os "fãs"? Como grande consolo para os não-artistas ou não-boleiros, eis que surgem, de um nada (absoluto ou relativo), seres que te assumem como tal e, mesmo com tamanha puxada-de-saco, permanecerão olvidados em algum canto baldio da tua vida. E as risonhas carinhas amarelinhas ao lado de pulsantes coraçãozinhos vermelhinhos que ilustram o perfil do infeliz?

E, então, eis que surge o maior caos, o caos social, que vai sim, rechear-se de demagogia, de hipocrisia, de superficialidade, de mecanização das relações. 

Só porque você encontrou aquele estúpido que nem se lembrava, lá da quarta série, acha bacana? Ou somente porque você é fã daquele seu amigo superbacana acha interessante estrumar algumas palavras ali, na tela, bacana? Ou será que toda essa gente se engana ou então finge que não vê?

E o que dizer do “perfil” que cada um oferece: gosto de ler nietzsche, sou parda e simpática, i don't need labels, tenho aracnofobia e uso pasta dental crest menthol extra-light.

Ora, para que me interessa saber o que fulanos, beltranos e cicranos fazem das suas vidas? 

As pessoas têm amigos e relacionamentos que permitem e velam por tal abertura, por tais (re)conhecimentos, por tais intimidades recíprocas... agora, fazer desse clubinho uma vitrine humana, que nos fazem reféns diários de novos contatos, de um encarniçado networking e de mais números entre parêntesis é certamente execrável. 

E lastimável, pois, da mesma forma que não podemos perder ou mascarar nossa indentidade, não permitamos escancará-la -- e ninguém me convencerá deste contrário.

Em breve, a realidade dirá quanto desta árvore virtual restará inútil (ou criminosa) para estes prosélitos e, comme il faut, se verá que esta rede não passou de outro funesto modismo acolhido por um infausto contingente humano e que não deixou restos, úteis ou recompensadores.

Porém, são modas, que vem e que vão, assim como a moda de não-ser-do-orkut...


quarta-feira, 26 de outubro de 2005

# cai, cai balão?

Não sonhei. Peguei a tabela e apenas calculei. E ficou fácil de prever.

Cruzeiro - amanhã - no Couto Pereira
É O JOGO DECISIVO. NÃO SERVE PRA NADA AO CRUZEIRO. TEM OBRIGAÇÃO DE VENCER. (3)

Mas daí...

Internacional - 28/10 - no Beira-Rio
INTER, LIBERTADORES, FORA DE CASA. ESQUEÇAM. (0)
Flamengo - 31/10 - na Arena Petrobrás
FLA, DESESPERO, MAIOR TIME DO BRASIL, A PROBA JUIZADA E A SÉRIA CBF NAO VÃO DEIXÁ-LO NA MÃO. E O DELEGADOZINHO CAI. (0)
Figueirense - 3/11 - no Couto PereiraRETRANCA BRABA DOS CATARINAS PRA NAO CAIR. DEZ NA DEFESA. EDMUNDO NA BANHEIRA FAZ O GOL UNICO DO JOGO. (0)

Brasiliense - 5/11 - em Taguatinga
NA BOCA DO JACARÉ, O LUIS ESTEVÃO JÁ ACERTOU COM OS DOIS BANDEIRAS. OZÉAS FAZDOIS GOLS IMPEDIDOS. LORI SANDRI CAI. (0)
Corinthians - 13/11 - no Couto Pereira
JOGO DO TITULO PARA OS PAULISTAS. GOLEADA. GALVÃO GRITA: É TETRA, É TETRA. (0)
Ponte Preta - 17/11 - no Couto Pereira
A MACACA QUER ENTRAR FINALMENTE EM UMA SUL-AMERICANA, ALGO QUE NÃO FAZ DESDE A SUA FUNDAÇÃO (SÉC. XIX). JOGO HORROSOSO. ZERO A ZERO. ALADIM LARGA A CÂMARA, PEGA A LÂMPADA, SE AGARRA NO EX-GOLEIRO JAIRO, E ASSUMEM O TIME. FAZEM TRÊS PEDIDOS. ESTE PRIMEIRO JÁ NÃO É OUVIDO PELOS PANGARÉS. (1)
Atlético-MG - 20/11 - no Mineirão
IMPOSSIVEL. 120 MIL TORCEDORES A EMPURRAR O GALO PRA LONGE DA SEGUNDONA. (0)
São Caetano - 27/11 - no Anacleto Campanella
A MALA PRETA APARECE EM SÃO CAETANO. EDILSON, MIXIRICA E DIMBA FAZEM UM GOL CADA. DESESPERO. JOEL SANTANA DIZ QUE AINDA DÁ TEMPO. (0)
Internacional - 4/12 - no Couto Pereira
O INTER JOGA O RETORNO A LIBERTADORES DA AMERICA. OS COXAS JOGAM A QUEDA PARA A SEGUNDA DIVISÃO.NERVOS À FLOR DA PELE. 50 MIL EM CAMPO. FOGOS, FAIXAS E FETICHES. FRUSTRAÇÃO. FERNANDÃO FAZ UM A ZERO. RENALDO EMPATA. O BANDEIRA ANULA. SEGUNDO TEMPO. FERNANDÃO FAZ DOIS A ZERO. TORCEDOR-VOVÔ INVADE O CAMPO. DÁ UMA BENGALADA NA CABEÇA DO CAPIXABA. A TORCIDA GRITA: "VERGONHA,VERGONHA!". RENALDO DESCONTA, NOS DESCONTOS. A TORCIDA CHORA: "COXA EU TE AMO".(0)

Com 42 pontos, os coxas estão rebaixados. Corro até Lisboa para o balcão da TAP. Não consigo vôo. Perco o glorioso dia depois do amanhã. Já reservo o pagar-pra-ver da net. O Atlético fica um pouco de lado. E, no primeiro sábado de abril, sento-me confortável, abro uma lata de cerveja e assisto CRB x Coritiba, direto de Maceió. Sim, não era um primeiro de abril.

Quo vadis, coxas?