terça-feira, 10 de dezembro de 2013

# madiba



Como sempre fiel cumpridora do seu papel, eis que a grande mídia global resolve descolorir Nelson Mandela, um dos últimos dos moicanos. 
 
(E, a propósito... daqui há 40 ou 50 anos, para quem derrubaremos lágrimas e faremos funerais grandiosamente merecedores? Há alguém neste caminho? Ou esta minha solúvel instantânea geração não se mostrará digna e capaz de lamentar a morte de pessoas que significativamente mudaram o mundo?) 
 
Bem, o que as donas da informação insistem em esconder é que o grande Mandela não foi este vovozinho de túnica branca e gestos papais que cavalgou África afora montado num pequeno pônei portando uma mensagem apolítica de axé. 
 
Não! 
 
Nelson Mandela só era Nelson Mandela porque foi um revolucionário, porque foi político, porque fez política. 

E porque a sua vida pautava-se rotundamente pelo lado esquerdo do peito.
 
Mandela enfrentou os poderosos e racistas nativos e confrontou os ricos donos do poder. 
 
Mandela foi para a linha de frente contra os interesses das grandes potências brancas (e negras) que faziam vistas grossas ao apartheid sul-africano. 
 
Mandela não admitia uma África pobre, desigual, separatista, antidemocrática, controlada por poucas famílias e sob o jugo europeu. 
 
Mandela combateu o podre poder local, combateu os EUA e a intervenção cotidiana da CIA e foi preso, assim ficando durante 27 anos. 
 
E foi por estas e outras que, durante décadas, o seu nome foi proibido nos jornalões do mundo e que a sua figura era non grata nas grandes sociedades. Margaret Thatcher, por exemplo, considerava-o terrorista, comunista e comedor de criancinhas. 
 
Antes da prisão, na clandestinidade, foi o grande líder e mentor do Congresso Nacional Africano (CNA), partido que reunia um grupo cada vez maior e mais competente de militantes com vistas a acabar com o racismo, a segregação sócio-racial e as injustiças de um país negro sob as rédeas de suseranos brancos. 
 
E neste período todo de lutas e com Mandela já encarcerado, foi Cuba um dos poucos países do mundo que sempre esteve ao seu lado e ao lado do seu povo – lembre-se, pois, que Fidel conseguiu em Cuba o que Mandela queria conseguir na África; não apenas na retórica, por inúmeras vezes a Ilha caribenha prontificou-se a ir se juntar aos revolucionários sul-africanos na guerra contra a opressão e o apartheid, tal qual fez, com sucesso, na batalha pela independência da vizinha Angola (v. aqui). 
 
Mandela, assim, sempre teve Fidel e Cuba como seus parceiros (e espelhos, e horizontes) históricos, deles recebendo total e incondicional apoio, com altruísmo e solidarismo ímpares – e todo essa amizade internacional mereceu, mais uma vez, a eterna gratidão do povo sul-africano. 
 
Hoje, neste capítulo final da vida de Mandela, não por acaso o presidente cubano Raul Castro foi convidado a ser um dos cinco oradores no funeral do líder máximo do continente negro, ao lado de Dilma (o Brasil é o maior parceiro da África do Sul e o maior país negro não-africano), de Obama (por razões de simbolismo racial) e dos chefes de Estado da Índia e da China. 
 
E a mídia, claro, continua louvando-o pelo fato dele não ter conseguido fazer tudo o que queria ter feito (v. aqui), a insistir com borboletas e baobás, com crisântemos e croissants, com adornos de carneirinhos em nuvens brancas e com a imagem de um Mandela alvejado, doce e fofo. 
 
Ora, embora sin perder la ternura jamás, o herói universal Nelson Mandela nunca quis ser Madre Tereza de Calcutá. 
 
E nem poderia. 
 
Ave, Madiba!  Nkosi sikelel' iAfrika!