sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

# consummatum est



Aqui muito já falamos sobre o mais novo ópio do povo.

E, por algumas vezes, já também nos debruçamos sobre religiões.

Arriscamos reuni-las para agora brevemente falar do que estrutura, in corpore, o vigente modus vivendi capitalista.

Pois bem, essa renovada configuração deontológico-dogmática parece estar exigindo dos seus seguidores, antes de tudo, a verve "ateísta".

Sim, diferentemente do que, em regra, antes acontecia – vez que tal sistema político-econômico era absolutamente preenchido pelos católicos anônimos –, os tempos pós-modernos vêm exigir da sociedade de consumo a prática e a crença ateia, ainda que desprovidos de tal rótulo, cuja confissão pouco cai bem na “sociedade”.

Como um novo tsunami comportamental (e, especialmente, sócio-antropológico), ser ateu passou a ser a única forma de, interiormente, a luxúria consumista autoexplicar-se, propondo a si mesmos uma razão dogmática que postula uma pseudoverdade universal e científica.

Nada discutem, apenas publicitam as suas crenças – e, claro, consomem.

Sem se importarem em qual contexto histórico enquadraram-se os pensamentos cartesiano e darwiniano – dentre outros racionalistas clássicos –, a sociedade do consumo – irmã siamesa daquela "do espetáculo" – busca, ao revés de qualquer fé religiosa, cientificar o seu modo de vida (e de consumo, de riqueza) com o jeito ateu de viver.

Mas tal assentamento científico é precário, volúvel e oco.

Tal jeito, nesta atual fase da história, é o american way of life, o qual, é evidente, melhor consegue atuar como porta-voz desse ideário consumista, alienante, conservador e burguês.

Esse, pois, é o campo de ultradesenvolvimento do capitalismo neoliberal, o da mercantilização de tudo, que, para se fazer bem funcionar, exige da sua gente a conformação na visão ateísta do ser.

De onde viemos?, por que somos? e para onde vamos? – perguntas cósmicas de sempre –, precisam, para tais intelectos (e para as corriqueiras práticas burguesas), ser respondidas pragmática e concretamente, posto que devidamente adaptadas ao consumo desenfreado, desigual e desumano.

Questões cruciais como liberdade, igualdade e fraternidade são, aos seus peculiares modos, tergiversadas ou obtusamente divagadas, sempre de modo a sustentar os prazeres e as posses pessoais.

Ora, como nas relações sociais presentes é flagrante a superposição do “ter” – você tem para “ser” –, a ideologia consumista e as outras formas de alienação da atualidade sobrepõem-se a qualquer crença socializante do século XIX.

Aquilo passou, e os que hoje insistem em não passá-la são considerados lunáticos e utópicos.

O materialismo histórico de Marx, causa daquela fase ateísta, sucumbe ao materialismo tout court do presente, e inverte a relação de causa-efeito: o ser ateu justifica o "ter", e passa a ser o maior justificante do consumo, da capitalização, da propriedade e da alienação.

Neste momento, o ser ateu não transcende, nada exige de ninguém (essa é a fraternité apregoada) e, sob a ode de que tudo se cria para se consumir (a liberté deles), faz da égalité mera retórica.

Portanto, é o capital consumista o novo ópio do povo.

E o ateísmo o seu conforto divinal.



 

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

# petróleo, patrimônio nacional



A Petrobras é a maior produtora de petróleo do mundo entre as empresas de capital aberto e a espinha dorsal do desenvolvimento brasileiro.

Foi com tal desiderato, inclusive, que Getúlio Vargas não arrendou o pé enquanto não pudesse oficializar que "o petróleo é nosso".

Logo, desde sempre o ouro negro foi objeto de desejo dos abutres internacionais.

E, claro, dos conservadores nacionais, que sempre preferiram arrendar as nossas riquezas ao invés de nelas trabalhar.

Este, a propósito, é outro drama do nosso capitalismo de araque, pois, não apenas arredio à competição -- a tendência do capital é o "monopólio", bem disse Marx --, no nosso caso ainda não se quer trabalhar por ele, preferindo-se o cômodo e nefasto "rentismo".

Ora, ainda ter a Petrobras como coisa nossa, como propriedade da sociedade brasileira -- apesar de todos os pesares que advieram com a grande abertura do seu capital -- provoca as mais coceguentas urticárias nas multinacionais e na direita de plantão, a reboque de estratégicos interesses de países como EUA e Inglaterra.

E é por isso que tanto se detona a nossa empresa e que tanto se quer enfraquecê-la, a ponto de torna-la tão frágil que caia sozinha (ou que a venda se torne a única opção...).

Afinal, não restam dúvidas de que os canalhas que roubaram -- e que sempre roubaram, nos mesmo cargos e com outros nomes -- lá de dentro merecem a mais exemplar e severa punição, made in China, diria.

Mas, bem ao contrário do disseminado pela grande mídia nativa, não se deve promover a xepa do petróleo brasileiro.

Há muita coisa de crucial interesse político nacional, que diz respeito à nossa soberania e às nossas riquezas históricas, e que jamais poderíamos flertar em perdê-las.

Sim, não restam dúvidas de que a empresa precisa criar e consolidar ferramentas e mecanismos de controle, não apenas nas áreas de licitações e contratos, mas em várias outras, algumas absolutamente estratégicas e mais importantes -- como aquelas ligadas à tecnologia do pré-sal e aos assuntos geoeconômicos; contudo, daí a misturar alhos com bugalhos corre uma distância abissal.

Ora, confundir a atitude destes calhordas ladrões com um sangramento que fulmine toda uma empresa é estratégia ideal da turma que sempre quis uma "Petrobrax" -- como nos anos de FHC, e sua ode às privatizações -- e que ainda não engoliu a decisão de Lula com o modelo de partilha da produção, que coloca a nossa empresa como operadora única do pré-sal.

A Petrobras é muito, muito maior que estes bandidos presos e acusados dos mais diversos crimes.

E não se trata apenas das bilionárias receitas que se seguirão com as descobertas do pré-sal -- em cujo domínio a expertise brasileira é a maior do planeta -- e cuja aplicação será exclusivamente na educação e na saúde públicas.

A Petrobras é uma criadora e difusora de alta tecnologia, de investimentos e de produtividade que beneficiam toda a economia brasileira -- a cadeia produtiva e comercial do petróleo e do setor naval, por ela liderada, representa mais de 10% do nosso PIB, é a nossa principal âncora da indústria de bens de capital, em especial porque dá ênfase às políticas de conteúdo local, ou seja, de contratar e transferir conhecimento internamente.

Enfim, a Petrobras é vital e um dos segredos para o desenvolvimento nacional, razão pela qual não aceita corrupção e nem entreguismo.

E fortalecê-la com mãos de ferro é a nossa única opção.



 

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

# sociedade e fraternidade



Melhor do que o título -- cujo termo empregado ("Fraternidade: Igreja e Sociedade"), para não ferir ou magoar todos os interesses dos conservadores e da própria Igreja Católica, foi por demais subliminar ou metalinguístico --, o mote de discussão da campanha da fraternidade é deveras apropriado: "Eu vim para servir" (Mc 10,45).
 
Capitalismo, neoliberalismo, privatizações, sociedade de consumo, desigualdade e socialismo, economia solidária, Estado, sociedade de caridade, igualdade, tudo reflete -- e tudo merece reflexão -- no pensamento e nas atitudes que se esperam de nós cristãos.

No texto-base da campanha, lê-se uma Igreja a serviço da sociedade e uma Igreja fundada à luz da doutrina social, para um debate de a partir do diálogo e da cooperação entre Igreja e sociedade que reflita sobre a dignidade humana, o bem comum e a justiça social. E como nas raízes do ideário cristão, uma Igreja que venha par servir.

Assim, retoma-se um tema -- e uma missão -- fundamental para a Igreja: o seu irrestrito engajamento político e social, com alicerce no amor, na fraternidade, na liberdade e na igualdade em nossa sociedade.

Simples assim? Não.

Embora sem ainda fazer a devida mea culpa pelo combate e boicote históricos à alternativa para o grande sistema econômico-social vigente e aos seus representantes -- como, no caso, todos aqueles que lideraram e consolidaram a "teologia da libertação" --, a Igreja Católica ajuda (e se ajuda) a reconhecer a nossa omissão diante das injustiças que causam exclusão social , fome, morte e miséria, de forma a tornar vital a relação que combina desenvolvimento, eficiência econômica, direitos fundamentais, justiça social e prudência ecológica.

Mais, busca repercutir os interesses neste universo do espetáculo, do consumo e do individualismo, que privilegia o ter e releva o ser.
 
Hoje, finalmente, temos uma campanha da fraternidade que atinge o âmago do grande problema e que nos convida a lutar para que as agruras provocadas pela economia capitalista possam, ao menos, serem minimizadas, mediante a concretização do mínimo necessário para a subsistência de cada ser humano.

A ideia, inclusive, corrobora outro lema da Campanha de uns anos atrás -- "Economia e Vida" (v. aqui) --, na qual se registrara a afirmação de Jesus: "Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro" (Mt 6,24), fazendo-nos propor uma escolha entre os valores cristãos e sociais -- da nossa sociedade e coletividade -- e os "valores" do capital, visto como entidade absoluta a dirigir a vida privada, egoísta e solitária.

Na história humana, marcada por ambições, explorações, injustiças e ganância, a Bíblia se volta decididamente para a defesa dos pobres. No âmbito social, a Bíblia nos mostra profetas acusando reis e gente poderosa que enriquece à custa do povo e não cuida bem daqueles a quem deveriam servir -- eis, aqui, uma incontestável relação com a atual realidade dos grandes capitalistas e de inúmeros governantes.

No âmbito comunitário e pessoal, a Bíblia fala sobre os direitos do trabalhador, ao socorro que devemos prestar aos pobres e aos dever de evitarmos a corrupção e a desonestidade e de viver a partilha no amor fraterno. Eis as palavras de João no Evangelho de Lucas (Lc 3, 11): "Quem tem duas túnicas dê uma ao que não tem; e quem tem o que comer, faça o mesmo".
 
Portanto, que Deus nos ajude a seguir perenemente este ensinamento e trilhar o mais justo caminho em busca da fraternidade, da igualdade e da verdadeira liberdade, fazendo-nos sempre lembrar que a vida, como ela é, não se concentra nos nossos castelos.



 

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

# aspas (xlvi)

 
 
Do maior jurista brasileiro vivo, Celso Antônio Bandeira de Mello, sobre a comumente péssima relação entre a esquerda e o Direito -- e, pois, entre a Política de um governo de esquerda e o conservadorismo do Judiciário -- e o papel da "grande mídia" (v. aqui, na íntegra):
 
  “Tanto a esquerda não dá muita importância ao Direito que o Supremo (de hoje) praticamente foi composto, em boa parte, por governos do PT. E, no entanto, como é que o Supremo se comportou no chamado mensalão? Condenou, não apenas o Genoino, mas o Dirceu de uma maneira absurda. (...) Acho que esse clima alucinado já passou [sobre o impeachment...]Eu tenho dito e repito: no Brasil não há liberdade de imprensa, há meia dúzia de famílias, se tanto, que controlam os meios de comunicação. As pessoas costumam ingenuamente imaginar que esses meios de comunicação têm por finalidade informar as pessoas. Não têm, são empresas, elas têm por finalidade ganhar dinheiro. Portanto, têm que agradar aqueles que os sustentam. E quem são? Os anunciantes. Nunca vão ter isenção. Pelo menos não num país como o nosso. Em países desenvolvidos têm muitas fontes de informação, o cidadão lê livros, vai ao teatro, ao cinema, ele se ilustra. Em país subdesenvolvido, não existe essa ilustração. Então, o que está escrito nesses meios de comunicação entra como faca na manteiga na cabeça da classe média alta, que é muito influente. O povão não liga, mas a classe média alta liga. E quando é muito insistente, vai se generalizando até para o povo. A eleição (de 2014) foi apertada, por isso estão usando esses expedientes. Se tivesse sido uma vitória esmagadora como a do Lula, não iam se atrever."
 
 
 
 

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

# quaresma



É tempo de caminhar.

Caminhar em silêncios, em jejuns, em reflexões.

Promover a privação, a abstinência, a reclusão, a oração, os sacrifícios e a caridade.

É o período de quaresma, no qual, simbolizado na abdicação e privação de miúdas coisas e pequenos hábitos, procuramos ser mais humano e viver mais como cristão.

É tempo de peregrinar do homem velho para o homem novo, de sair do cômodo espaço neutro, de reafirmar com os nossos atos as promessas diuturnamente feitas.

É tempo de atitudes.

E ano a ano o momento quaresmal chega para que acreditemos nesta mudança, nesta renovação e no poder máximo de renascimento.

É a nossa via sacra, cujo sentido de dor, de sofrimento e de penitência bate em nossos olhos, ou em nosso interior, a toda hora em que se escancara a injustiça e o desespero alheios.

Mas não nos apeguemos ao mero sentido disso – e passemos a agir, tomando as nossas cruzes para, à luz da fé e resistindo ao desespero e às tentações, aprender a ser como Ele é.

Sim, não é fácil enfrentar um tempo cujo templo é marcado pelo mercado, por propostas estimulantes de ebrioso consumo com requintes de crueldade e esbanjamento nas quais, exclusivamente, se acredita ser

Há uma insaciável febre do inferno em fel de ter, como alter ego da autoafirmação ("espelho, espelho meu") e da vitrine social (o "meu" espelho), induzida pela força pertinaz da mídia e a sua doutrina onisciente do certo e do errado, que elitiza os comportamentos, enrijece a sociedade e exulta o individualismo.

Um apego exagerado que faz enxergar o vazio da vida, criando um fosso entre espécies de seres humanos, num abismo sem fronteiras e em nosso quintal (v. aqui).

Dividir, repartir, partilhar, comungar.

Deixemos de nos refugiar em desculpas, e na desculpabilização do conforto, que convenientemente nos alienam em redomas intocáveis e acortinadas para, então, ver sobrar paz, saúde e felicidade.

E alcancemos este sonho de mundo: uma imensa mesa, em torno da qual todos se sentarão, numa mesma altura, num mesmo propósito – e, nas palavras de Paulo, "esperança não decepciona" (Rm 5,5), deve dar sabor para a vida, coragem para a luta e determinação para vencer.

Afinal, por que será que nos custa tanto aceitar o Evangelho e entrar nesse Reino?



 

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

# teatro das sombras



Imagine um grupo de pessoas que habita o interior de uma subterrânea caverna, estando todas acorrentadas e de costas para a entrada, de modo que a única coisa que conseguem enxergar é a parede da caverna.
Atrás delas ergue-se um muro alto e por trás desse muro passam figuras com formas humanas e, como há uma fogueira queimando atrás dessas figuras, a luz do fogo projeta sombras na parede da caverna. 
Assim, a única coisa que as pessoas da caverna podem ver é este “teatro de sombras”. E como essas pessoas estão ali desde que nasceram, elas acham que as sombras que veem são a única coisa que existe.
Imagine agora que um desses habitantes da caverna consiga se libertar daquela prisão. Primeiramente ele se pergunta de onde vêm aquelas sombras projetadas na parede da caverna; depois, consegue se libertar dos grilhões que o prendem.
E o que acontece quando ele se vira para as figuras que se elevam para além do muro?
Primeiro, a luz é tão intensa que ele não consegue enxergar nada. Teme em avançar, numa escuridão branca. Depois, pensa em tentar escalar o muro e passar pelo fogo para poder sair da caverna. Teme ainda mais, pois pensa na dificuldade ainda maior que terá para enxergar haja vista a abundância de luz. Mas, depois de esfregar os olhos, ele segue adiante, caminha e ultrapassa o muro. Pela primeira vez vê cores e contornos precisos, e vê que as figuras na parede da caverna não passam de imitações baratas. Ele vê que o Sol é o responsável pelo brilho das coisas e que o mero fogo da caverna apenas refletia uma parte de tudo, refletia na parede apenas sombras.
Doravante, o habitante das cavernas pode andar livre, a desfrutar da liberdade que acabara de conquistar.
Mas as outras pessoas que ainda continuam lá dentro da caverna não lhe saem da cabeça. E por isso ele decide voltar. Assim que lá chega, tenta explicar aos outros que as sombras na parede não passam de trêmulas imitações da realidade: são ilusões, falsificações da vida extramuros.
 Mas ninguém acredita nele.
As pessoas apontam para a parede da caverna e dizem que aquilo que enxergam é tudo o que existe, é a única verdade, é a realidade, é a vida.
E, por fim, as pessoas acabam matando aquele que retornou para dizer-lhes tantas "mentiras".

Esta é a parábola "o mito da caverna", apresentada por Platão e por ele relatada na sua "República", lá naquele nada próximo 300 a.C.

Alienação e realidade paralela: pré-disposição ao engano ou puro comodismo?


f

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

# grã-fino das narinas de cadáver



Agora, a palavra da moda no cenário político é "austeridade" – menos na Grécia, claro, onde o termo foi varrido pelo povo.

E por todo o Paraná, e especialmente na sua Capital, escancara-se os efeitos ultranocivos das ladainhas neoliberais e de xoques de jestão propagadas pela turma demo-tucana (e até copiadas em certa parte pela leviana retórica petista) e, no caso, pelo reeleito governador Beto Richa.

Entretanto, e não poderia ser diferente, a grande mídia nacional esconde e não tece uma só vírgula sobre o caos que se instala pela Administração Pública paranaense (v. aqui)  a propósito, já pensaram o que se mostraria e falaria, Brasil afora, se o governo paranaense fosse do PT?

Bem, afora o escandaloso dia a dia repleto de uma "nada" constrangedor, as trevas deste triste e terrível (des)governo estadual vem na forma de estouro no limite de gastos com salários, da paralisação de obras em escolas, presídios, moradias etc., da interrupção dos poucos programas sociais e de dívidas e mais dívidas a descoberto. 

Ademais, o nada deste governo sempre fora tão flagrante em termos de políticas públicas, que Beto, o Energúmeno, a todo instante se segura em factóides e se agarra na esposa para destacar ações filantrópicas vazias, tentando se expor em outdoors pelas ruas das cidades para ostentar o sorriso vacilante, o bronze de Vanuatu, o V de alguma vitória e o relógio de vistosa marca.

Contudo, em termos de atitude, políticas e governo, é um nada, um sombrio e rotundo nada

Este picareta que ocupa a cadeira de governador lembra muito aquela célebre personagem das crônicas de Nélson Rodrigues, a "Grã-Fina das Narinas de Cadáver" (v. outra delas aqui), que, em pleno estádio, costumava olhar para o seu nobre acompanhante da hora  um desses eternos que reinam nas colunas sociais – e perguntar, sem titubear: “Hein, quem é a bola?”.

Eleito e reeleito com a promessa de gastar menos e melhor – típico (e falso) mote desta turma –, Beto enganou até onde conseguiu,  hoje já sendo notória a sua incompetência administrativa, a sua ignorância política e a sua incapacidade de reger a coisa pública.

Porém, isso não surpreende, afinal, que história  francamente, seria essa aqui? – e que trajetória profissional, pública, política ou social ele tem para merecer o cargo que ocupa?

Alguém lembra da sua atuação como parlamentar? E na Prefeitura de Curitiba, o que fez além de gastar milhões e milhões em narcisistas campanhas publicitárias, surfando na ultrapassada onda lernista de cidade-modelo? E o que falar do seu primeiro mandato de governador?

Ora, tudo se resume à grana posta em jogo – afinal, foi por causa de "verbas" e "cargos" que a maioria dos canalhas do PMDB no Parlamento, cheia de votos no interior do Estado, apoiou e reelegeu Beto – e ao maquiavelismo às avessas, bem como à necessidade da população querer deslumbradamente a tal da "renovação" e iludidamente o "novo".

Mas a sua essência é oca ou bafeja naftalina: o que é novo não presta, e o que presta não é novo. 

Além disso, parte da ópera bufa da reeleição ainda reside na sua casca de bom-moço, de modos etiquetáveis, de limpinho-aromatizado-com-polo-de-golfe-e-gel e de politicamente correto, cuja figura ainda se sustenta em relativa escala Paraná (e Curitiba, claro) adentro.

Mas que, evidentemente, não deveria ultrapassar os limites do Graciosa Country Clube ou do Iate Clube de Caiobá.

Enfim, a população acabou de novo engolindo este outro conto do vigário tucano, esta outra fábula do governo-empresa e esta outra cantilena da gestão privada da res publica  e agora terá que aturar as desventuras deste mimado "piá de prédio" e seus deputados de quinta categoria.

Enquanto isso, o bom síndico que teríamos continua em Brasília, no meio daquele Senado...

Ossos, pois, da democracia.

E no final, o Governador articula e a Assembleia passa por cima do povo paranaense



quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

# liberdade da imprensa e opinião publicada


O destaque do papel dos meios de comunicação não é novidade, claro. 

Também, não é novidade o grão-elemento que caracteriza a grande mídia: o caráter de classe da imprensa ditatorial-burguesa.

Como, enfim – e ao contrário do que muitos pensam – não é novidade que se deva promover uma constante ampliação, conquanto vigiada e fiscalizada, da liberdade de expressão (e de imprensa), que vem desde a Declaração Universal dos Direitos do Homem ("a livre comunicação dos pensamentos e opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; cada cidadão pode por isso falar, escrever, imprimir livremente").

E é nesse ponto que devemos parar para um rápido mergulho, preliminar e superficial.

Karl Marx, a defender essa liberdade de expressão – já que ele mesmo era vítima do aristocrata governo prussiano da época –, admitia que a imprensa deveria ser uma arma de combate à opressão e à exploração e não um veículo neutro, a lembrar, em seu pequeno livro "A Liberdade de Imprensa", que "[a] função da imprensa é ser o cão-de-guarda, o denunciador incansável dos opressores, o olho onipresente e a boca onipresente do espírito do povo que guarda com ciúme sua liberdade".

Mas não por isso exterminar-se-ia a "liberdade de imprensa".

O que precisa mudar é a maneira de se enxergar essa tal "liberdade", que começa pela "destruição do jugo do capital", como propalava Lênin, ou seja, destruir o poder do capital sobre a imprensa, na medida em que, na situação vigente, tem-se em nossa sociedade um outro sinônimo para essa liberdade: a liberdade de suborno da imprensa pelos ricos, a liberdade de usar a riqueza para forjar e falsear a chamada opinião pública.

Esse jornal (essa revista, essa emissora de rádio ou tv) passa então a funcionar como uma outra mercadoria qualquer: alface, mesa, cadeira, carro, camisinha, liqüidificador... abarcam-se num mesmo lado da moeda: o lucro.

Assim, o jornal burguês é um instrumento de luta movido por idéias e interesses que estão em contraste com os seus.

Tudo o que se publica é constantemente influenciado por uma idéia: servir aos interesses da classe dominante, da elite burguesa e política que, ato reflexo, monta-se nos seus anunciantes.

Dê-se nome aos bois: Folha de São Paulo, Veja e toda a rede midiática das organizações Globo (TV, jornal, Época e CBN) insistentemente querem (e inventam, e fantasiam, e insistem) mostrar que tudo que foge dessa antiga, conservadora e reacionária ordem nacional (e mundial) não tem razão – e quem e o que se manifesta à esquerda disso é tingido como dinossauro, louco, sonhador ou #&@&#&@.

Hoje, como sempre, a mídia age como um partido político, disse Antonio Gramsci, um dos grandes pensadores do séc. XX, incansavelmente perseguido por Mussolini durante o fascismo italiano, até que, preso – não obstante ostentasse imunidade parlamentar – , conseguiu deixar o seu grande legado: em mais de dez anos de prisão, escreveu volumes e volumes de um trabalho que mereceu ser reunido na célebre colação "Cadernos do Cárcere".

Sob esta forma de "partido", a imprensa cumpre um papel fundamental para dar coesão ao processo de formação da sociedade civil – e criar a sociedade conservadoramente organizada, comandada por bestas abastadas.

Gramsci mostrou também que a imprensa é movida e controlada (e selada, registrada, carimbada) pelo capital privado, mas trata de assuntos públicos; assim, esses assuntos da esfera pública são tratados de uma forma privada quanto ao seu conteúdo, ao seu direcionamento, ou a maneira pela qual eles são analisados. 

Logo, com um mero exercício sinológico, denota-se que há uma inversão de papéis: a "imprensa" censura, à medida que controla e define o que é notícia e o que não é notícia, em justa composição com os seus interesses (ideológicos, financeiros etc.) e com os interesses da elite burguesa e política, a funcionar, como cunhou Gramsci, numa espécie de "intelectual orgânico da burguesia", uma vez que, infelizmente, essa mídia é sustentada por jornalistas e profissionais ("intelectuais") competentes que, medusicamente, cedem ao poder (e as delícias) do capital.

Outrossim, causa-nos bastante estranheza a maneira com a qual insistem em confundir "opinião pública" e "opinião publicada" (ou, ainda, "liberdade de imprensa" e "liberdade da imprensa ou do dono da mídia").

Deve-se exterminar essa idéia de que a "opinião pública" seria expressão do pensamento "da maioria", à medida que isso faz apenas justificar (e tornar "legítimo") os atos, as palavras e a posição dos próprios órgãos midiáticos. 

O que não se pode esquecer é que essa "opinião pública" não existe até o momento em que é "publicada" – logo, nada mais é senão mera "opinião publicada", que tenta convencer a grande massa (cinzenta ou não) do que lhes interessa e do que lhes é a verdade, uma verdade condicionada aos interesses da elite burguesa e política que, a formar um exército de bestas abastadas, promovem o recrudescimento de um conservadorismo com o único fim de manter os auto-privilégios que fazem deste país, dentre os mais ricos, o mais desigual do planeta.

A solução para tudo isso?

"Boicotem, boicotem, boicotem!", como lá atrás já bradava Gramsci.



# inesgotável



A fingir tratar-se de outro negócio qualquer, a TV mundo afora padece do mais abjeto e vil fim: o lucro pelo lucro, a receita pela receita, não importa as consequências.

E, desde já a maior premissa: a TV é uma concessão pública, a depender do Estado e, pois, do interesse público, e de outras tantas condicionantes constitucionais que não sirvam ao bel-prazer dos empresários  para existir, como aqui já relatamos.

Mas retomemos às profundezas.

Ora, se a TV visa à grana da audiência, e se a audiência quer este show de horror que a todo instante é despejado como esgoto nas telas de TV, tem-se um inexpugnável (e nada subterrâneo) sistema de canais de lixo, com o "fomento" e a "busca" se engrenando num moinho produtor da bestialização geral.

Há, até, trabalhos científicos que se debruçam nisso, ou seja, a importância de programas idiotas no não-desenvolvimento cerebral das pessoas, o que as leva a querer consumir mais coisas idiotas e, pois, levando as emissoras a produzirem mais e mais idiotices, a formar o tal círculo vicioso  (v. aqui e aqui).

A reprovação e o rechaço, portanto, não cabem exclusivamente ao repugnante big brother brasil (v. aqui), mas são direcionados à miserável qualidade da vida televisiva  a qual, entre outros deploráveis eventos, abraça o telejornalismo de cadafalso, a comédia bandida e aquelas rinhas de hominídeos , em sua maioria sem educação, sem valores, sem cabeça e sem alma.

E mais, sem respeito, sem qualquer respeito, como assim agem estes grupelhos de humor, que a detonar grupos e dogmas religiosos, grupos e partidos políticos e grupos e minorias sociais, se imaginam engraçados e meros utentes (e beneficiários) de um estado livre e democrático.

E, assim, dá-lhe audiência.

Afinal, na outra ponta, uma sociedade cada vez mais alienada, mais egocêntrica e mais liquefeita  v. aqui, aqui e aqui , que a toda instante consome este tipo de produto em doses industriais.

Eis, pois, a roda-zumbi que bate palmas para o sobe e desce do carrossel social.




 

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

# encantamento

 
 
Santiago a cada manhã me encanta nesta sua tão precoce existência.
 
O seu riso, acreditem, por si compensa o aviso da falta de rima da poesia que, para explicá-lo, tento em dessiso pôr em marcha.
 
O seu olhar, não duvidem, medusicamente atrai, como aquele que te vê com a retina a esfuziar para querer traduzir o mundo todo, enquanto desde lado não vejo mais nada passar.
 
A sua fala, anotem, dispensa a ausência da inculta e bela, em grunhidos que bem entendo e me embala até a hora de mim se perder.
 
O seu despertar, não desconfiem, tem sim os festejos dos saraus em alto-mar, das noites de carnaval e do astral da boemia que por ele já nem ouso participar.
 
A sua alegria, imaginem, tem a ingênua pureza divinal e a genuína pulsão humana que diariamente me maravilha, me renova e me enche de esperança.
 
O seu amor, que hoje devoto, leva-me a crer num sonho antigo de viver.



 

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

# uma catedral



O Rio é uma ilha cercada de botequins por todos os lados.

Sujos, limpos, clássicos, desbeiçados, rebeldes, frescos, com purpurina e lantejoula, com aura olímpica, com histórias medievais, com mensagens subliminares, com fedor grã-fino, da moda, démodé, de cerveja, de conhaque, de cachaças, de acepipes, de porções, de pratos feitos, de pratos fartos, de pratos babacas, no estilo clássico, carioca, caído, carnavalizado, art déco, art nouveau, habitados por artesãos de cais do porto, boêmios, bêbados, boçais, bossas-novas, biltres, burgueses, mendigos, bichas, damas, putas, piás, pivetes, velhos, velhacos, e a preços de banana, módicos, honestos, ultrajantes, sem-vergonha, salafrários, de todo o salário.

Enfim...

Sábado, na companhia de uma cáfila de bons amigos, com Edu Goldenberg no timão, estive, depois de um longo jejum -- é a distância geográfica que tanto nos separa -- num dos melhores bares do Rio de Janeiro.

Ele, o "Cachambeer", no (outrora bucólico) bairro do Cachambi, nas cercanias de Del Castilho.

Não bastasse ter uma das maiores e suculentas carnes de gente grande destes trópicos, e o chopp insistente e minuciosamente tirado do traseiro das focas que se espraiam pelos balcões, o dono, Marcelo, é uma das figuras ímpares desta cidade.

Um lord de botequim, autêntico, num atendimento que te faz pensar estar na churrasqueira do lar ou no sítio do avô.

Na casa, nada falta, tudo farta e, mesmo que digam que a mistura toda enfarta, a travessia por línguas, porcos, cabritos, moelas, linguiças e bois no bafo é daquelas que poderiam durar vários transatlânticos.

Seu tipo, pasmem, acabou por convencer palacianos e jornalões que por lá costumam dar as caras, com fotos, encomendas, prêmios e matérias -- contudo, a genuinidade do lugar não cedeu um só centímetro, um só grama de autenticidade se perdeu na já famosa "birosca".

É daqueles lugares para se passar uma vida a beber e comer -- ou melhor, mesmo depois dela, nele continuar.

"Aqui, jaz um portentoso cliente", se escreveria num epitáfio, à porta do lugar, com as cinzas misturadas ao resto de guimbas, espumas e ossos de costelas que a cada fim de noite decoram a alma do butiquim.

Sim, ali é quase um pórtico que te conduz para um outro espaço, como uma fenda a te propor uma dimensão diversa daquilo que se perpetua pelas zonas suis do dia a dia.

Afinal, enche-nos de esperança ver que ali não se cederá à babaquização geral de bares que remete às coisas do tipo gourmet, no afã de "dialogarem" com pratos e cardápios e "harmonizarem" com cervejas (!?), num festival di etiquetas, hábitos, poses e preços que causam náuseas.

Nestes tempos em que tudo se força para ser único e todos se maquiam para serem diferentes, mas que toda ação, ao cabo, se reduz ao um próprio fim de pasteurização e mimetização geral, comove estar num lugar desses, que navega como se único, como se dos últimos.

O Cachambeer, meus caros, é uma espécie de Arca de Noé.


# deus ou mamon?



Na seara pública, trabalhar para instituições e órgãos estatais nos quais haja crimes não te faz, necessariamente, alguém conivente com tais atos.

Salvo se você esteja convenientemente ali, convidado para ocupar cargos num "governo" (e não no "Estado") e contribuindo voluntariamente para aquele estado de coisas, em regra o fim da sua atuação como servidor público é o interesse público, você trabalha e dedica-se para realizar e alcançar o bem coletivo, restando o comportamento criminoso de beltranos e sicranos como falha (condição?) do sistema, à margem do grande objetivo.

Ao cabo, e na medida do possível, você inclusive contribui (e denuncia, e reza) para que os filhos da puta de plantão – que malversam, tergiversam e se locupletam – sejam expurgados, presos e mandados ao inferno.

Agora, na iniciativa privada, a situação adquire outras formas.

O trabalho em uma empresa picareta, bandida e corrupta, ainda que não te faça um sujeito com tais adjetivos ou conivente, acaba, ao cabo, sem sentido.

Ora, se o fim daquela meia-dúzia que comanda a entidade empresarial é o "lucro", a qualquer custo, doa a quem doer, que depende de maracutaias para maximizar a "mais-valia" e que por isso passa por cima de qualquer código normativo ou ético, qual o sentido de se continuar a produzir para ela?

Sim, porque neste caso o fim não é o interesse público e o objetivo não é se dedicar e se empenhar para que a coletividade – apesar dos pesares  seja melhor atendida: o fim, pois, é apenas enriquecer donos e acionistas do negócio.

Feita esta divagação, o que justifica alguém empreender a sua mão-de-obra, por exemplo, num banco como este tal de HSBC?

Uma farta documentação, condenações judiciais, confissões silenciosas e inúmeras denúncias referentes às mais torpes e vis condutas, caracterizaram esta "instituição financeira" – e aqui, aqui, aqui, aquiaqui e aqui você pode entender um pouco tudo isso.

Hoje, brota nos noticiários e nos órgãos judiciais, policiais, fiscais e de controle de várias partes do mundo as contas secretas de milhares de bont vivants que tinham os seus crimes e pecados acobertados pelo tal banco inglês.

Mas isso vem de longa data -- e já me recordo da discussão que há poucos anos tive com um executivo do banco, em Curitiba (sede do HSBC no Brasil), o qual achou que a minha fala de então era de alguém "comunista", era uma "lenda" e que tudo estava "esclarecido".

Pois é...

Ora, no decurso da última década, o HSBC colaborou com os cartéis da droga do México e da Colômbia – responsáveis por (dezenas de) milhares de assassinatos com armas de fogo –, com as máfias da Rússia – responsáveis por fraudes e piratarias nas privatizações pós-URSS – e com as ditaduras do Oriente Médio, em operações de lavagem de dinheiro cujo montante alcança "trilhões" de dólares, um valor que enrubesceria o somítico Tio Patinhas.

As relações comerciais do banco britânico com os cartéis da droga perduraram, apesar das dezenas de notificações e avisos de diversas agências governamentais dos EUA (entre as quais o OCC - "Office of the Comptroller of the Currency").

Os lucros obtidos não só levaram o HSBC a ignorar os avisos, mas, pior ainda, a abrir balcões especiais no México, na Rússia, na Líbia, na Nigéria e onde mais se podia lucrar com os depósitos em caixas cheias de dinheiro líquido.

Apesar da atitude abertamente provocatória do HSBC contra a lei, as consequências legais da sua colaboração direta com as organizações criminais foram praticamente nulas. Em dezembro de 2012, o HSBC teve de pagar uma multa de quase 2 bilhões de dólares – o que equivale a uma semana de receitas do banco – para encerrar o processo de lavagem.

Nem um só dirigente ou empregado foi sujeito a procedimento criminal, embora a colaboração com organizações terroristas ou a participação em atividades ligadas ao narcotráfico sejam passíveis de cinco anos de prisão.

O HSBC parece caminhar sobre a mesma sórdida trilha que anuncia o lema neoliberal, ostentado na crise de 2008 em prol dos grandes bancos: "são grandes demais para quebrar" (v. aqui e aqui).

Em julho de 2013, numa das reuniões da comissão senatorial que investigou o caso HSBC, Elizabeth Warren, senadora democrata do Estado de Massachusetts, apontou o dedo a David Cohen, representante do Ministério das Finanças e subsecretário responsável pela luta contra o terrorismo e a espionagem financeira. A senadora disse, grosso modo, que governo dos EUA leva muito pouco a sério a lavagem de dinheiro, que é possível encerrar um banco que se dedica ao lavagem de dinheiro, que em dezembro de 2012 o HSBC lavou 881 milhões de dólares dos cartéis mexicanos e colombianos da droga, que o banco admitiu igualmente ter violado as sanções, que o HSBC não o fez apenas uma vez e que é um procedimento recorrente. Ao cabo desta (só desta) investigação, o HSBC pagou uma multa mas nenhuma pessoa foi banida do comércio bancário e não se ouviu falar de um possível encerramento das atividades do HSBC nos EUA (v. aqui).

Em suma, põe-se a seguinte questão: quantos bilhões de dólares um banco (ou uma empresa bandida qualquer) tem de lavar (e sujar), antes de se considerar a possibilidade de encerrar a prática?

Ora, afora tudo, o mastodonte HSBC deveria ser fechado, os controladores responsabilizados e os diretores presos; em seguida, ele (e qualquer empresa bandida) deveria ser retalhado, sob controlo cidadão, em uma série de bancos públicos de pequena e média dimensão, cujas missões seriam estritamente definidas e exercidas no quadro de um estatuto de "serviço de interesse público", de modo a fomentar a economia produtiva e o trabalho.

Afinal, é para isso que serve a lógica deste capitalismo, já urgindo tempo de reverter a perversa dinâmica do jogo.

Caso contrário, "empresas" desta estirpe – gigantes ou não, do ramo financeiro ou não –, na onividência da impunidade, na onisciência do negócio e na onipresença em todos os rincões do planeta, continuarão pensando serem Deus.

Bem, podem não chegar a tanto.

Mas não duvidemos de que sejam mesmo diletos filhotes de Mamon.