segunda-feira, 28 de julho de 2014

# extrato evidente


E o tal Banco Santander, hein? (v. aqui)

Não, é claro que não surpreende.

Apenas expressou e agora deixou a clara prova de algo que sempre fez, faz e fará.

Afinal, é e está a serviço da elite, extrato sempre corrompido acerca de qualquer ideal ético ou de construção republicana.

Ademais, o que se esperar de uma "instituição financeira" – tenha-se, por exemplo, o que faz aquilo chamado HSBC, useiro e vezeiro em cambalachos e cambalhotas (v. aqui, ainda mais se tratando do maior banco estrangeiro no país?

Ora, a tchurma de bancos e do mercado financeiro nunca mede esforços para catapultar seus interesses e os interesses dos seus "acionistas" ou "investidores", cada vez mais se lixando se o que pensam e fazem é ilegal, é imoral ou se engorda – v. aqui.

Um bando, uma chusma mefítica que do caos e da bancarrota generalizada ergue-se sempre com mais força e mais impudor – é, pois, uma fênix do mal.

Pior, enraizada nas entranhas do Estado, goza de fecundas relações no Executivo, da lépida e da faceira parceria com o Legislativo e, claro, da sempre doce e meiga simpatia do Judiciário.

Por isso, qualquer governo que minimamente acene com a intervenção (v. aqui) e com novas perspectivas de gestão do erário e de políticas públicas é visto com repugnância, receio e medo. 

Bem, e talvez isso aí seja um bom e esperançoso sinal.

Um sinal vidente de que os próximos quatro anos de Dilma irão, enfim, tentar arrebentar com este câncer chamado "política monetarista-rentista".

Oxalá!



domingo, 27 de julho de 2014

# atleticania (xvii)


Para Benjamin, uma tarde de sono ou uma saracoteada de horas por entre seus brinquedos não valem, ainda, um gol do Atlético.
 
E pelo que (não) tivemos hoje, ainda bem.
 
Promissor, sério, moderno e com os pés no chão, o técnico Doriva acabou vacilando nesta tarde de domingo, talvez empolgado com os lampejos das últimas rodadas.
 
Aberto, frágil, murcho e suicida, pensou ter nas mãos um time com jogadores capazes de enfrentar, mano a mano, o bom time e o ótimo elenco tricolor – a propósito, o que joga este Cícero, hein?
 
Com uma dupla de zaga que já provou ser uma das piores do Brasil, jamais poderia ter escalado três atacantes e entregar todo um meio-campo  efetivamente vazio de rubro-negros , para um time que, além de tudo, já anunciava que jogaria com cinco por ali.

E mais: sem um homem para tentar fazer o jogo corrido dos nossos avantes  num embate nestas circunstâncias o nosso curumim camisa 10 não se mostra solitariamente capaz –, não impúnhamos medo e nem causamos susto algum, tornando tudo mais fácil para o time carioca, que passeou.
 
Um dia desses um time acabou levando 7 por pensar assim também  só que agora os nossos alemães tricolores foram mais piedosos (e nem tão competentes).
 
E o Atlético, meus caros, levou um dos maiores bailes dos últimos anos.

Ainda bem que só o concreto cinza e gelado (v. aqui) esteve presente nesta escura tarde em Curitiba.




 

quarta-feira, 23 de julho de 2014

# desgraça


A elite brasileira é, no mínimo, engraçada.
 
Leonel Brizola  a histórica liderança política da esquerda brasileira – nela provocava singular medo, acusando-na de ser "a pior do mundo".
 
A "Carta Maior" publicou um texto singular, inspirador, que muito bem ilustra a elite nativa (v. aqui) e que mais ou menos caminha nos termos a seguir.
 
É que a elite brasileira gosta de ser elite, de mostrar que é elite, de viver como elite, de luzir como elite, de suar como elite, de ter sangue de elite nas veias. 

Entretanto, detesta ser chamada de "elite", principalmente quando associada a vários dos tantos problemas crônicos do Brasil  e isso, claro, é cômico.
 
A elite gosta de criticar e xingar tudo e todos  chama isso de "liberdade de expressão".
 
Mas a elite não gosta de ser criticada  aí vira perseguição, inveja, recalque, id (v. aqui).
 
Tudo meio que coisa de psicanálise; aliás, outra coisa que ela adora fazer para nunca se resolver, sublinhe-se.
 
Quando a elite esculhamba o país, é porque ela é "moderna", estudou nos melhores colégios e por isso sabe o que é melhor para todos nós.

Já quando alguém esculacha a elite, é porque quer transformar nosso país em uma Cuba ou numa Venezuela, dois países que a elite conhece muito bem, embora não saiba exatamente onde ficam, nem o que fazem, nem porque pensam (v. aqui).

Ideia de elite é chamada de "opinião"; ideia contra a elite é chamada de ideologia.

A elite abusa de roupas, relógios e carros a preços de ordenados e casas. Tem jatinho e helicóptero. Tem aeroporto particular, às vezes, pago com dinheiro público  é para economizar um pouquinho, pois a vida não anda fácil para ninguém (v. aqui).

A elite gosta de mostrar que tem classe, de dizer que os outros são sem classe e de enfatizar que no Brasil não há classes  e nem preconceito de raças (v. aqui).

Mas, quando alguém reclama da elite por ser esnobe, preconceituosa e excludente, é acusado de incitar a luta de classes  e de cores.

A elite encastela-se em bairro chique, fofo e limpinho, mas gosta de acusar os outros de quererem dividir o país entre ricos e pobres.

Afinal, convenhamos, o negócio da elite não é dividir  é multiplicar, exponenciar e sugar (v. aqui).

A elite é magnânima, amalgamada e mal amada.

Até dá aulas de como ter classe  diz que, para ser da elite, tem que pensar como elite.

E tem gente que acredita.

E que se afunda nos círculos, hábitos, gostos e consumos mais toscos e infames que existem: circunavega copos de vinho, encobre-se de marcas, lê Caras, se narcisa em colunas sociais – algo que, convenhamos, fica bem ali perto do fundo do poço  e se embabaca com a futilidade carnívora que vê no cotidiano da elite.
 
Não sabe, porém, que o principal, talvez único, atributo da elite é o dinheiro  o resto é detalhe.

A elite reclama do Estado, do Brasil, de tudo e sempre  não o ama, mas também não o deixa.

Imprestável, a elite pugna pela terceirização de tudo.

O gosto disso é tamanho que nas casas-grandes até a educação dos próprios filhos é terceirizada  deixam-nos, pois, para as amas.

E a elite queixa-se dos impostos, inclusive daqueles que ainda não foram criados, embora previsto na nossa Constituição - é o caso notório do "imposto sobre grandes fortunas", engavetado antes de todos os tempos.

E, vejam só, queixa-se mesmo dos que ela não paga. Sim, é que aqueles jatinho, helicóptero, iate ou jetski, mesmo não sendo tomates, mas "veículos automotores", não pagam IPVA  é o direito, meu caro.

Mas a elite, de queixo caído e em cansada homenagem aos mais pobres e à classe média  que não cansam de pagar muito mais tributos do que ela (v. aqui, mantém um gigante painel luminoso nos centros de várias cidades do país: o "impostômetro", sempre ao alcance dos holofotes diários da grande mídia.
 
Afinal, para a elite, o dever fundamental de pagar impostos é coisa de filosofia do direito.

A elite se diz acima da Política  e do bem, e do mal.

E vê na política e na democracia formas de alienação bolchevique.

Ademais, cidadania é mero consumo, ora pois.

A elite diz que é contra a corrupção, mas é ela quem financia a campanha, a vida e a alma do corrupto (v. aqui). 
 
É a elite que aceita superfaturar, que aceita licitar ilicitamente e que ano a ano sonega fortunas bilionárias, sob o colo morno do Judiciário leniente que invariavelmente afaga os colarinhos brancos e bem-cheirosos que clamam clemência (v. aqui)
 
E quando dá algum problema, finge que não tem nada a ver com a coisa e reclama que ninguém vai para a cadeia  sim, "ninguém" é o apelido que a elite usa para designar o pessoal preto e pobre que entope as células de cela-tronco (v. aqui).
 
A elite não gosta do Bolsa Família, mas insiste em dizer que tem bom coração, que faz o bem e que é do bem (v. aqui).
 
A elite diz que conceder benefícios aos extremamente mais pobres não é direito, é esmola. É uma coisa que incita o pecado da "preguiça" – e taca-lhe pau naquele discurso, com a velha ladainha descendo o morro da hipocrisia: "não pode dar o peixe, tem que ensinar a pescar..." (v. aqui e aqui). 

Mas, como num passe de mágica, quando a elite recebe recursos governamentais ou isenções fiscais, a "esmola" se transforma em incentivo produtivo e de consumo para o Brasil crescer  sem qualquer perfídia, é claro, já que a "gula" acreditam ser um pecado bem menor.
 
A elite gosta de levar vantagem em tudo, certo? Chama isso de "visão", de "Eu S/A", sempre ciceroneada pelos mais afamados e amorais causídicos do país.
 
E quando não é da elite, levar vantagem é lei de Gérson ou ranço do nefasto jeitinho brasileiro, um horror que adora propalar nas viagens que faz para Miami ou pelos clubs privés que frequenta na nossa terra.
 
Investir em servidor público e no aparato institucional é gasto público; pagar muito mais com os maiores juros da Terra ao sistema financeiro é "responsabilidade fiscal", fruto inclusive do xoque de jestão.
 
Mas quando um governo mexe no cálculo do dinheiro que é reservado a pagar estes juros, despreza superavits para fomentar o desenvolvimento e para mitigar a miséria e rompe com o capital vadio, aí é acusado de ser leniente com as contas públicas e de ser populista.
E eis que a elite comprou o avassalador livro de um francês intitulado "O Capital no Século 21" (v. aqui).
 
Não gostou, achou que era só sobre dinheiro e business até descobrir que o principal assunto era a desigualdade.
 
É que o climax do livro está no trecho onde se revela que as 85 pessoas mais ricas do mundo controlam uma riqueza equivalente à da metade da população mundial  ou seja, 85 seres humanos têm o mesmo dinheiro que 3,5 bilhões de pessoas juntas.
 
E a elite, enfim, não parece ter achado isso engraçado.


segunda-feira, 21 de julho de 2014

# açougue


Não há argumento que resista ao que se vê na carnificina de Israel sobre palestinos.

Dizer que civis palestinos são usados como escudo pelo Hamas  "ah, quem mandou usar o povo inocente?" , dizer que infelizmente a discrepância de poderes bélico-político faz parte da guerra  "ah, quem mandou se meter com a gente?"  e dizer que nestas circunstâncias erros acontecem e por isso tantos mortos "ah, quem mandou não obedecer a regra imposta e vigente?"  são casos patentes de cínica má-fé.

Ora, com a torpe tolerância européia e sob o atroz apoio estadunidense, o comando israelense continua a fazer gato e sapato do pouco que resta da Palestina (v. aqui).

Os números, por ora, mostram um despautério na análise que busca comparar os dois lados, as razões envolvidas e o bom, o feio, o sujo e o malvado disso tudo. 

São mais de quinhentos mortos de um lado, contra menos de vinte de outro; são 80% de um território atingido contra 10% de outro; é um arsenal político-militar acachapante de um lado contra rebeldes de arco-e-flecha e rojões quase juninos de outro (v. aqui). 

E tudo, tudo, por uma causa em que, ambos certos-e-errados, o lado absurdamente mais fraco tem agora a mínima razão  afinal, dê-se Gaza a quem merece a infeliz miséria de Gaza (v. aqui).

Novamente, como disse Eduardo Galeano (v. aqui), bem parece que aquele funesto costume europeu de ter caçado judeus tem a sua histórica dívida sendo cobrada, com sangue e na pele, do povo palestino  que, veja-se a ironia, é semita...

Mas esqueçamos isso agora.

Hoje já não se trata mais de guerra religiosa, de disputa territorial, de conflito político, de belicismo entre a ultradireita de Israel e os radicais do Hamas ou de qualquer outra coisa que minimamente o valha e que mereça ser, oxalá, resolvido.

Trata-se de um massacre.

E que deve ser analisado no seu intransitivo.

Com a mais firme, ativa e urgente reprimenda mundial.


segunda-feira, 14 de julho de 2014

# e teve a copa


A derrota das derrotas de terça-feira não pode apagar, nem tampouco minimizar, o brilho da nossa realização.

A incapacidade e incompetência na organização e no jogar do nosso futebol não pode ofuscar a capacidade e a competência na realização do grande evento.

E se o nosso escrete não pôde ter comissão técnica e CBF como aliados, o nosso Governo, como sempre, pôde contar com o nosso povo na concretização do maior espetáculo da Terra.

O mundo embasbacou-se com o que viu por aqui.

E o que se viu por aqui frustrou um bando de babacas nativos, vira-latas por completos e que, como infames profetas do apocalipse, ansiavam pelo desastre e pela vergonha nacional em rede mundial.

Se na terça-feira tivemos os mais desastroso e vexatório dia do futebol brasileiro, nestes mais de 30 dias tivemos o brio e a altivez de mostrar para ao mundo inteiro o nosso valor.

De mostrar a nossa gente, que muito além de multa inzoneira é educada, gentil, competente, pelejadora e feliz.

E de mostrar a nossa terra, que tem muito mais do que sol, florestas, rios e macacos.

Briosos, abrimos as nossas casas para milhões de pessoas que vieram, viram e gostaram.

E nós, fora do campo, vencemos.

Altivos, escancaramos as nossas janelas para bilhões de pessoas que pela tv e pela internet não sabiam deste Brasil, que inclusive ousou tentar acabar com um dos braços mafiosos da FIFA, capo di tutti capi (v. aqui).

Mas nunca é tão fácil assim de se ver e saber.

Afinal, o que a grande mídia nativa gosta mesmo de repercutir mundo afora é o que dá errado, o que não funciona, o que não perfuma, o que é caricato e o que pode ser-lhe útil na tutela e promoção dos seus privados interesses.

Como a política e o governo, é claro.

Política que no Brasil, mais do que em todo lugar, é sempre amaldiçoada.

E governo que, como em todo lugar, se não serve cordeiramente aos interesses privados, é sempre um grande telhado para onde se jogam pedras, cuspes e bosta.

Claro que com muitos trancos e sob tantos barrancos, mas o Brasil, com seu povo e seu governo, fez sim a Copa das Copas.

Agora sim, com muito orgulho e com muito amor.

Afinal, se antes a seleção nacional de futebol era o melhor do Brasil, hoje esse já pode se sentir (e se mostrar) melhor e maior que aquela.


terça-feira, 8 de julho de 2014

# marcha fúnebre


Na "marcha da quarta-feira de cinzas", Vinícius cantava que acabara o nosso carnaval, que ninguém mais ouvia cantar canções e que ninguém mais passava brincando feliz.

E que no coração o que restara eram saudades e cinzas.

Hoje, nesta noite soturna de terça-feira, pelas ruas de Copacabana pessoas murchas vagam como se velassem um ente querido.

Atropelado e depois espancado com ares de requinte e crueldade, o defunto está irreconhecível, dilacerado, atassalhado.

A lembrança é dos seus bons tempos, da ginga, da magia, da improvisação, do balacobaco, do chegar ao topo por meio de pernas tortas, de crioulos benditos ou de gênios indomáveis.

À mente vem a memória de um reinado que se esperava eterno -- como, afinal, toda dinastia pressupõe.

Mas ele se foi, perdemos o trono e recusamos a enxergar que tudo -- inclusive ele -- mudou. 

E agora este martírio, neste velório simples de alguém que já perdeu a majestade e que hoje já não se impõe, e hoje já não é modelo, e hoje já não arromba de alegria a retina de quem vê.

O fim foi amargo, azedo, ácido, acre, como jamais visto.

E o clima é triste, como poucas vezes se viu.

Agora chove a cântaros, como no inverno do Rio de Janeiro não se costuma ver.

Uma chuva que não nos lava a alma, mas serve para mascarar as lágrimas da maior humilhação sofrida pela nossa máxima expressão cultural.

É a decadência acachapante de alguém que já foi o maior de todos, iludido por um "vamos que vai dar" sem pés e sem cabeças, e que agora dói.

E assim, nesta noite fria e molhada, em cada esquina desta minha via sacra de volta para casa o futebol brasileiro é velado.

Espera-se a sua ressurreição.

Mas não no terceiro dia.