domingo, 30 de novembro de 2008

# quo vadis, huracán? (xiii)

fdsUm lugar fervente. Um campo horroroso. Uma escalação horrorosa. Um inesperado gol a favor que põe fogo no jogo. Uma errada e injusta expulsão. Uma avassaladora pressão. Dois justificáveis erros de um sistema defensivo que não é hermético. No placar final, 2 a 1, que, com os demais resultados, traz o óbvio ululante.
fdsJamais quis que servisse como a "crónica de una muerte anunciada", mas o que dissemos naquele empate contra o Botafogo (v. aqui) -- e o que previmos para depois (v. aqui) --, temo muito, pode nos ter o mesmo significado daquela tragédia de Erechim, quando perdemos o Campeonato Brasileiro de 2004, mas então elevado à potência de uma hecatombe.
fdsQue Deus nos livre. Amém.
fds

# em colombo

fdsEm mais um evento que intenta sustentar o crescimento (e o funcionamento) do Lar ("Orfanato") André Valério, a Fundação Francisco Bertoncello -- mantenedora deste "Lar" -- realizou neste domingo, em Colombo, mais um "Bazar de Usados", conseguindo um expressivo resultado que quase supre o atual custo mensal do orfanato (ou seja, aproximadamente doze mil reais).
fdsMais uma vez, aqui, agradecemos a participação de todos os envolvidos, e em especial, claro, aqueles que se dispuseram a ficar o sábado (das 8 às 20 horas) e o domingo (das 7 às 17 horas) neste cansativo, mas muito mais gratificante, trabalho em prol do "nosso" Lar e da comunidade de Colombo.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

# it´s the deforestation, stupid!


Já é quase unânime o parecer técnico sobre a tragédia em Santa Catarina: a falta de respeito pelo meio ambiente e pelas regras a ele pertinentes.
 
Ora, pois, as chuvas não poderiam ser evitadas: não há ninguém que consiga um email ou um telemóvel de São Pedro ou mesmo de uma autoridade indígena especializada no "reverso da dança da chuva".

Porém, os deslizamentos, que têm sido os causadores dos grandes desastres da região -- muito mais que o transbordamento do Rio Itajaí-Açu --, não poderiam ter ocorrido e a causa é clara: o excesso no desmatamento e no desrespeito às regras da natureza, a resultar na falta de cobertura vegetal nos morros e na beira dos rios, provocou os desmoronamentos -- e não precisava qualquer mensagem divina para sabermos disso.

Aqui, como alhures, é o velho embate entre "progresso" -- insustentável, num vale tudo dominado pelo capital e pela sede da possessiva e egoísta acumulação (ou desumano) -- e progresso -- este sustentável sob o ponto de vista social e ambiental (ou humano).
 
Sob a ótica ambiental, o Código Florestal (Lei 4.771), muito bem redigido e vigente desde 1965 -- e, por si só, já previa tudo o que acontece nas regiões naturais mais ricas do país (Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal etc.) -- é diuturnamente desrespeitado, em estúpida preferência por "planos de gestão urbana", mas que não passa de falta de planejamento estatal, por não se atentar para a urgente necessidade de reverter o fluxo migratório e previlegiar-se a ruralização ou interiorização, e crime ambiental, cometido pelos agentes do caos -- ou seja, as autoridades públicas e os particulares que desrespeitam as normas vigentes e lucram com as irregularidades presentes -- p.ex., diz-me um colega que, em Blumenau, pode-se construir a 5 metros dos rios, ao invés dos 30 metros exigidos pela citada lei, à medida que tal espaço deve ser considerada "área de preservação permanente", ou seja, área que tem a função ambiental de "preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas".

Isto está a ocorrer como reflexo, talvez tardio, do grande número de ocupações “irregulares” que criam áreas de risco sem a devida (ou mínima) proteção da vegetação -- como disse uma pesquisadora catarinense em recente entrevista, "a cobertura florestal não é enfeite”.

Por fim, José Saramago muito bem resumiu essa tragédia brasileira, em seus cadernos (v. aqui):
 
"[C]ada vez que nos chega a voz de um novo descalabro da natureza aumenta a dor e a impaciência. E também a pergunta a que ninguém quer responder, embora saibamos que tem resposta: até quando viveremos, ou viverão os mais pobres, à mercê da chuva, do vento, da seca, quando sabemos que todos esses fenómenos têm solução numa organização humana da existência? Até quando olharemos para outro lado, como se o ser humano não fosse importante?


 

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

# nem tudo é podre no reino de brasília


Um grupo composto por deputados e senadores se reuniu no início da tarde desta quarta-feira para organizar uma frente política. A iniciativa visa dar apoio ao delegado Protógenes Queiroz, afastado da Operação Satiagraha e da Diretoria de Inteligência da Polícia Federal, mas vai além. Seus integrantes pretendem formar uma (outra?) frente parlamentar contra a corrupção.
A reunião ocorreu no gabinete do senador José Nery (PSOL-PA) e contou com a presença dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS), Eduardo Suplicy (PT-SP), Romeu Tuma (PTB-SP) e Wellington Salgado (PMDB-MG) e de três deputados do PSOL: Luciana Genro (RS), Ivan Valente (SP) e Chico Alencar (RJ), além do próprio delegado federal Protógenes.
“A investigação realizada pelo delegado Protógenes revelou fatos da maior gravidade que nos deixou estarrecidos (...) Hoje, há uma tentativa de desmoralizar a investigação dele para favorecer a defesa do banqueiro Daniel Dantas”, afirmou a deputada Luciana Genro, a qual admite que há uma articulação entre a tentativa de desmoralizar a investigação e a defesa de Dantas -- cujos resultados não interessam a tanta gente da mais alta cúpula e das elites burguesa e política nacional --, que pediu a nulidade das provas.
O grupo também discutiu formas de combater a corrupção, dentre as quais está a proposta que visa acabar com o sigilo nas investigações que envolvem pessoas que ocupam cargos públicos.
Uma outra reunião ficou marcada para o próximo dia 10 de dezembro, com o objetivo de aumentar o número de participantes e elaborar uma estratégia de ação contra a corrupção -- v. aqui, no espaço virtual do Paulo Henrique Amorim.

 

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

# aspas (iii)



Na excelente revista virtual espanhola "Sin Permiso" (v. aqui), Luís Sepúlveda, escritor e professor chileno, ex-membro da guarda pessoal do presidente Salvador Allende, sintetiza o "moderno" Estado chileno, que é idolatrado por boa parte da tosca elite burguesa e política brasileira como o (?) "grande modelo latino-americano a ser seguido"...:

"Chile es un país sin escuela pública, porque la escuela fue privatizada, como la sanidad. Si tienes dinero, te curas, si no, te mueres. La inflación avanza, pero Chile no es todavía un país en crisis; sin embargo, el crecimiento económico sólo ha beneficiado a una parte de la población, y todavía somos un país económicamente dependiente. (...)
La verdad es que la chilena es una democracia vigilada: no por los militares, sino por una constitución herdada de la dictadura".



 

terça-feira, 25 de novembro de 2008

# íntimo arrebatamento climático

Ouso ir na contramão e digo quão bem faz esse clima, esse tempo, esse cinza ameno, nem quente, nem frio, que evita suadeiras, evita o desgosto laboral e afugenta a preguiça, própria do calor infernal (ou do frio polar).
Nestes trópicos, neste sul, o sol parece ser inimigo da produção e da concentração. O sol, amigo da praia, dos chinelos e da bermuda, não combina com o nosso cotidiano e com o espírito da nossa gente, ambos tão distantes do que (bem) existe lá por cima.
O remoto passado de vida européia -- ou, talvez, o passado gaulês de minha outra vida -- faz-me relutar ainda mais em conviver harmoniosamente, nesta fase de trabalhos e estudos ininterruptos, com o arrebatador sol nosso de cada primavera & verão.
Para que o calor, quente, fervoroso e transpirante? Para que o frio, gélido, bruto e mumificante? Por isso que esse atípico clima fora de época regozija-me: somente um cinza-azulado, quase nublado, numa briga entre nuvens e sol que, a dispensar o frio, não permite o mais forte e asfixiante brilho do grande astro, a evitar assim a latente angústia por não viver fora destas quatro linhas.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

# quo vadis, huracán? (xii)

Eu quero lhe dizer que a coisa aqui ´tá preta -- canta Chico.
Hoje, no final da tarde, numa conversa com o Wagner, um amigo jornalista, geógrafo e santista de carteirinha (v. aqui), apavorei-me, e percebi que o resultado de sábado não deixou o Clube Atlético Paranaense apenas numa situação "perigosa", como escrevemos.
A tabela do campeonato -- e, será que também, os astros, os signos, as bulas, os búzios, os dogmas, o evangelho...? -- parece ser cruel e prever o inferno, nos propor o pior dos mundos: o Atlético (e mesmo o Santos -- mas, particularmente, não acredito) poderá estar entre os 4 que caem.
Por que? Ora, pois, basta ver o que Figueirense (38), Náutico (40) e Vasco (37) têm pela frente, e o que o CAP (42) -- e, vá lá, o Santos (43) --, por sua vez, tem.
No mundo mais realista possível -- e sem torcida, sem fé e sem cabala --, olha o que é bem provável de ocorrer (com os vitoriosos entre aspas), e já certo de que Portuguesa e Ipatinga caíram (pelos jogos que terão):

30/11/08
BOT x "FIG" (o fogão está a jogar como se numa chácara, pós-churrascada -- v.
aqui)
"CAM" x SAN (galo na sul-americana)
COR x "VAS" (vasco desesperado, coxa definitivamente desmotivado)
"NAU" x CAP (aflito no aflitos...)
07/12/08
"FIG" x INT (inter
campeão sul-amaricano, joga com o time "f")
"SAN" x "NAU" (os espíritos que reinam na vila não deixam o peixe na mão)
"VAS" x VIT (a caravela afunda em são januário)
"CAP" x "FLA" (fuga que partiu!?!)

E aí se perfilam: FIG (44), NAU (44), SAN (44)... VAS (43) e CAP (43). Ou seja.... e engulo seco. Porém ("ah, porém..."), quero e preciso estar completamente equivocado, hei de ser um mero vate de araque!
E, assim -- como canta Chico ---, danem-se a tabela, os jogos, os astros, os signos, as bulas, os búzios, os tratados, as ciganas, os profetas e os dados oficiais... pois o Atlético ficará na primeira divisão. Aleluia, aleluia!

# aspas (ii)



Ao lado das nossas outras três séries -- "e assim caminha a humanidade", "anti-fahrenheit 451" e "quo vadis, huracán?", esta com fim certo em 07/12/2008 --, doravante surge uma outra, intitulada "aspas" (já iniciada com uma lição dos cadernos do Saramago -- v. aqui), e que procura reproduzir sintetizadas palavras que nos trazem ânimo, bem-estar e confiança nas grandes (e mesmo pequenas) coisas da humanidade. Diria que se trata da antítese curta -- vez que as longas antíteses são exploradas em linhas muito mais extensas do blog -- do modo que a humanidade caminha.
 
Assim, do excelente espaço virtual do Prof. Vital Moreira (Universidade de Coimbra) e de outros colegas da Academia -- todos no http://causa-nossa.blogspot.com --, deparamo-nos com um texto (v. aqui, na íntegra) que também gostaríamos de ter escrito, aqui também reeditado e sintetizado na seguinte frase:

"[E]se grado mínimo de socialismo que por sí solo encarna la existencia de un Estado democrático interventor es todo lo que separa a la sociedad de la selva. Ése es el socialismo del siglo XXI".



 

domingo, 23 de novembro de 2008

# quo vadis, huracán? (xi)

Seria trágico se não fosse, apenas, perigoso, o resultado do Atlético Paranaense neste sábado, no Rio.
Mas, antes, uma devida observação se faz necessária: o desempenho do seu adversário, o Botafogo.
Meus amigos, foi lamentável (e quase injuriosa) a performance do glorioso alvi-negro da estrela solitária. A disposição dos onze botafoguenses igualou-se a de um time de casados, na chácara da família, após um daqueles churrascos de sábado, com meia-dúzia de gente olhando. Só faltou ter goleiro-linha. E o detalhe maior deste time era o seu centroavante gringo: era o próprio churrasquiro, gordo, lento e todo ensebado. Um horror.
Na verdade, foram raras as vezes que vi um time tão à toa, com tão pouca vontade de jogar futebol e mesmo assim não perder. Culpa de quem?
Claro, primeiro dos dois atacantes do Atlético: o titular, Júlio Cesar, que desde a perda dos cabelos, como Sansão, vem não jogando nada ou perdendo gols incríveis; e o seu substituto, Pedro Oldoni (v. aqui o que dissemos sobre ele e o "choro" nosso de cada dia), pois foram inadmissíveis os 2 gols que, mais uma vez, incrivelmente, perdeu, típicos de quem se apavora na frente do gol, coisa de grosso zagueiro, coisa de quem não merece estar conosco no ano que vem, coisa de quem deve disputar o "Paranaense" pelo Batel, de Guarapuava, ou o "Norueguês", por um time qualquer.
Depois, culpa do treinador Geninho. Tudo bem, ele é mesmo quase um santo, seja por ter feito este time render e jogar, seja por ter aguentado vivo o que o ataque atleticano fez na tarde de ontem. Porém, chega a ser bovina a insistência dele em não colocar o paraguaio Julio dos Santos no meio-campo e não deslocar o Ferreira para o ataque, pois ambos, é visto, se precisam em campo: o primeiro pensa e arma, o segundo corre e assiste. E, por fim, claro, a culpa ainda da nossa comissão técnica anterior, que, incompetente e negligente, não conseguiu deixar o Alberto em condições mínimas de suportar um jogo inteiro, fazendo-nos agora engolir aquelas coisas em forma de jogador que passam pela ala-direita e vestem a 2.
Agora, pois, falta ainda uma vitória (ou mesmo um ou dois, mas aí é aquela angústia braba, na dependência de vários resultados...) para o triunfo, como se um título às avessas, e a glória de permanecer na primeira divisão; porém, o caminho ainda segue tortuoso... e, não fosse o maior atleticano de todos ali no relvado, o pequeno gigante Alan Bahia, o nosso ébrio Zumbi, o nosso herói sem caráter, o nosso Macunaíma, o nosso maior e melhor artilheiro do ano, este perigoso empate poderia ter se tranformado numa derrota delirantemente trágica.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

# salvem os mercados emergentes


Muito pertinente o último artigo de Dani Rodrik, responsável pela cadeira de Economia Política da Universidade de Harvard, e que ora reproduzimos:

Se o mundo fosse justo, a maioria dos mercados emergentes estaria assistindo a crise financeira que engolfa as economias mais avançadas do mundo à distância - se não completamente sem serem afetados, tampouco demasiadamente preocupados. Para variar, o que incendiou os mercados financeiros não foram os excessos dos mercados financeiros, mas os de Wall Street.
As posições fiscais e externas dos mercados emergentes têm se mostrado mais fortes do que nunca, graças às duras lições aprendidas com suas próprias histórias propensas a crises. Poderíamos até ter permitido a esses países uma certa dose de prazer malicioso pelas dificuldades dos Estados Unidos e demais países ricos, exatamente como teríamos esperado que garotos sentissem um prazer perverso por seus pais se meterem nos mesmos tipos de encrenca contra as quais os pais advertem os seus filhos tão obstinadamente.
Em vez disso, os mercados emergentes estão sofrendo convulsões financeiras de proporções possivelmente históricas. Já não se teme que eles sejam incapazes de se isolar. Teme-se que suas economias possam ser tragadas para dentro e crises muito mais profundas do que as que serão experimentadas no epicentro da derrocada do “sub-prime”.
Alguns destes países deveriam ter se precavido e deveriam ter se protegido antes. Há poucas desculpas para a Islândia, que basicamente se transformou num fundo de hedge altamente alavancado. Vários outros países na Europa Central e Oriental, como Hungria, Ucrânia e os Estados bálticos, também estavam vivendo perigosamente, com vastos déficits em conta corrente e com empresas e famílias acumulando enormes dívidas em moeda estrangeira. Sempre poderemos contar com a Argentina, o menino travesso do sistema financeiro internacional, para que produza um truque para apavorar os investidores - nesse caso, uma nacionalização dos seus próprios fundos de pensão.
Os mercados financeiros, porém, fizeram pouca distinção entre esses países e outros como México, Brasil, Coréia do Sul ou Indonésia, que até há poucas semanas pareciam ser modelos de vigor financeiro.
Vejamos o que aconteceu com a Coréia do Sul e o Brasil. Os dois países experimentaram crises cambiais no passado recente - a Coréia do Sul em 1997-1998 e o Brasil em 1999 - e ambos subseqüentemente adotaram medidas para elevar a sua resistência financeira. Eles reduziram a inflação, deixaram suas moedas flutuar, acumularam superávits externos ou pequenos déficits e, o que é mais importante, acumularam montanhas de reservas cambiais (que agora excedem tranqüilamente as suas dívidas externas de curto prazo). O bom comportamento financeiro do Brasil foi recomendado já em abril deste ano, quando o Standard & Poor´s elevou a sua nota de crédito para nível de investimento (a Coréia do Sul já obteve nível de investimento há anos).
Apesar disso, ambos estão sendo duramente castigados nos mercados financeiros. Nos dois meses passados, suas moedas perderam cerca de 25% do seu valor ante o dólar dos EUA. Seus mercados de ações declinaram bem mais (40% no Brasil e 33% na Coréia do Sul). Nada disso pode ser explicado pelos fundamentos econômicos. Os dois países experimentaram um período de crescimento robusto recentemente. O Brasil é um exportador de commodities, ao passo que a Coréia do Sul não é. A Coréia do Sul depende enormemente de exportações a países ricos, e o Brasil, bem menos.
Estes e demais países emergentes são vítimas de uma corrida racional rumo à segurança, exacerbada por um pânico irracional. As garantias públicas que os países ricos estenderam aos seus setores financeiros expuseram de forma mais clara a linha crítica demarcatória existente entre ativos “seguros” e “arriscados”, sendo que os mercados emergentes estão claramente nesta última categoria. Os fundamentos econômicos ficaram pelo caminho.
Para piorar as coisas, os mercados emergentes são privados da única ferramenta que os países adiantados empregaram para estancar os seus próprios pânicos econômicos: recursos fiscais internos ou liquidez interna. Os mercados emergentes necessitam de moeda estrangeira e, portanto, de apoio externo.
O que precisa ser feito está claro. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e os bancos centrais do G-7 precisam atuar como emprestadores globais de última instância e fornecer liquidez ampla - rapidamente e com poucas restrições - para apoiar as moedas dos mercados emergentes. A dimensão da provisão de recursos necessária provavelmente chegará a centenas de bilhões de dólares dos EUA, e superará tudo o que o FMI já tenha feito até agora. Mas não há nenhuma escassez de recursos. Se for preciso, o FMI poderá emitir direitos especiais de saques (SDRs) para gerar a liquidez global necessária.
Além disso, a China, que detém quase US$ 2 trilhões em reservas cambiais, deve ser parte desta missão de resgate. O dinamismo da economia chinesa é extremamente dependente das exportações, que poderão sofrer muito com um colapso dos países emergentes. Na verdade, a China, com sua necessidade de crescimento elevado para pagar pela paz social, pode ser o país que mais corre risco com uma grave queda na atividade econômica global.
O interesse próprio indisfarçado também deve convencer os países avançados. O colapso continuado das moedas dos mercados emergentes e suas conseqüentes pressões comerciais lhes dificultarão ainda mais a tentativa de impedir um aumento substancial nos níveis da taxa de desemprego. Na ausência de um escudo para as finanças dos países emergentes, o cenário apocalíptico de um ciclo vicioso protecionista que relembra a década de 1930 já não pode ser descartado.
O Federal Reserve (Banco Central americano) e o Fundo Monetário Internacional já tomaram algumas medidas positivas. O Fed criou uma linha de swap para quatro países (Coréia do Sul, Brasil, México e Cingapura), de US$ 30 bilhões cada. O FMI anunciou uma nova linha de curto prazo para um número limitado de países com boas políticas. A dúvida é se essas iniciativas serão suficientes e o que acontece com os países que não poderão se beneficiar destes programas.
Haverá muito tempo para debater um novo Bretton Woods e a construção de um aparato regulador global.
A prioridade por enquanto é salvar os mercados emergentes das conseqüências da insensatez financeira de Wall Street.


 

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

# saída pela esquerda: o mundo vermelho em são paulo



Em coincidente resposta à crise que apenas se inicia -- e que faz recrudescer as esperanças por um novo caminho e pela recuperação dos reais valores das nossas sociedades --, amanhã começa o "10° Encontro Internacional de Partidos Comunistas", em São Paulo, a reunir quase setenta "partidões" de diversos países, ricos ou pobres, do mundo (v. aqui).

Com um programa que pretende repercutir os novos fenômenos no quadro internacional, as contradições e os problemas nacionais, sociais, ambientais e econômicos em agravamento, e a luta pela paz, a democracia, a soberania, o progresso e o socialismo, bem como a unidade de ação dos Partidos Comunistas (PC´s), o mundo vermelho -- já com suas diversas idéias e seus diversos ideais sustentados e renovados pelo modelo chinês --, procura, neste Encontro, mais um vez mostrar que a bancarrota do estranho modelo soviético trouxe grandes lições, que a queda do Muro de Berlim foi apenas uma transição exigente de maiores reflexões e muito mais trabalho e que, enfim, não é o "fim da história", mas, pelo contrário -- e como já explicitamente se demonstra pelos últimos acontecimentos --, deixa claro que a sistemática neoliberal e o capitalismo de cassino não são as melhores soluções para a humanidade, exibindo, mais uma vez, que o socialismo é o regime de Estado mais justo, honesto, solidário, igual e, verdadeiramente, livre.

A prática de reunir periodicamente os PC´s do mundo foi retomada, depois da queda do Muro de Berlim, por iniciativa do Partido Comunista da Grécia. A partir de 2006, o Encontro Internacional, antes sempre tendo Atenas como sede, passou a ser itinerante, já sido realizado, nos dois anos anteriores, respectivamente em Lisboa (Portugal) e Minsk (Bielorrússia).

O Encontro deste ano será o primeiro a se realizar fora da Europa, tendo o PCdoB como ''hospedeiro'', e essa escolha de um país latino-americano certamente expressa o interesse e o apreço do movimento comunista internacional pelos êxitos da luta democrática e anti-imperialista dos povos americanos ao longo da última década, em especial diante da realidade e dos últimos eventos mostrados pela sólida e social condução política na Venezuela, na Bolívia, no Equador, no Paraguai, no Uruguai -- e, por que não, na Argentina e no Brasil... --, além, claro, em Cuba, o grande exemplo de independência, de solidariedade e de respeito às necessidades humanas básicas de seu povo.

Claro que a "grande" mídia -- e em especial os membros do "Partido da Imprensa Golpista" -- dará pouco (ou nenhum) espaço ou tratará com menoscabo todo esse Encontro e as suas repercussões; mas, na realidade, quem se importa com ela, já que, nestes trópicos, é a maior propagandista de toda essa zorra na qual se enfiou a sociedade pós-moderna de hoje, no pior estilo "topo tudo por dinheiro"?

terça-feira, 18 de novembro de 2008

# a viva e pitonisa nota


Neste momento em que se consagra a bancarrota do capitalismo neoliberal e se busca alternativas para a vida humana, o modelo chinês é sempre mostrado como uma viável saída, com Estado forte, partido único e equilíbrio social, numa mescla de políticas e regras estatizantes, assentes num socialismo de Estado, e mercadológicas, baseadas num socialismo de mercado, sempre com vistas ao pleno desenvolvimento e enriquecimento do país, capazes de propiciar a toda a população saúde, educação e segurança.
 
Por isso, reproduzo abaixo a última nota da minha tese de mestrado (exatamente a nota de rodapé número 1.514), que fora excluída da versão publicada pela editora Almedina -- por única e absoluta vontade deste escritor, mas que lá está, na versão original, devidamente depositada na Biblioteca da Universidade de Coimbra -- e que, talvez como fruto de uma vaidade literária -- como assim colocou um dos membros da Banca de Júri, no momento da argüição --, procura fazer um exercício de futurologia, já como contra-ponto à própria tese em defesa, contrária as cláusulas sociais nos moldes pretendidos pelos países ricos.

1514 d.C. Eis, então, que ao ser despretensiosamente explorado este ultrapassado (e imoderado) volume documental de ordens, notas, citações e palavras, comprova-se que a criatura engoliu este criador – e tantos outros que, com semelhantes propósitos e pontos de vista, ousaram desfilar por tal temática nestes últimos séculos. Assim, chega-se a este momento com a temível certeza da enorme nuvem de gafanhotos ter apropinquado; e, com esta explosão do maturescente dragão chinês, já há muito pouco espaço para todos nós, meros mortais. Sim, os chineses tornaram-se imortais.
Um passado de caos, Confúcio, conquistas e conflitos resultou em uma nova sociedade, dinâmica e compromissada com o futuro e a satisfação plena. Alta poupança interna, substanciais investimentos em infra-estrutura e tecnologia, projeto educacional integrado e funcional, sistema de saúde eficiente e, principalmente, um híbrido sistema político-econômico jamais visto e que prioriza a consecução das necessiades humanas fundamentais, os conduziram à primeira potência. Um ritmo contínuo e espantoso de crescimento os galgou ao domínio mundial.
Um governo a enfeixar capitalismo e socialismo, uma economia social de mercado que entrelaça mercado e Estado traduzindo-se em um explosivo coquetel: desenvolvimento, cujos maiores ingredientes são o austero governo, o comércio internacional e o flexível, intenso e amplamente capacitado trabalho. Um Estado que bem centralizou as receitas em educação e tecnologia e que comanda e incentiva um batalhão, a ter uma mão-de-obra quase infinita, quase invencível.
E não se está a falar de ultra ou miniprecarização do trabalho. Pelo contrário. Observa-se um Estado com propostas reconceituadas, onde alguns poucos ainda ganham mais que a maioria e outros poucos ainda ganham menos que a maioria (desigualdade regional e rural-urbana), mas a ampla maioria passa a ganhar o suficiente, e esse suficiente faz alterar os paradigmas de consumo e de necessidades.
Desta vez, se percebe a prática comum do único sentido da sociedade e da coletividade: o bem-estar geral. O mundo está em choque e o capital ocidental não aprendeu – e, agora, não sabe mais o que fazer com o homem. O lado euro-americano realmente não deu conta de todas as precisas e necessárias evoluções, não simplesmente tecnológicas, mas humanas. O grande dragão promoveu mudanças inconcebíveis para os absolutos e únicos padrões norte-ocidentais. O mundo pende para o outro lado e poucos escaparam. Todos aqui apenas sobrevivem com a incapacidade concorrencial das empresas, a falta de divisas externas dos Estados e as miseráveis condições sócio-laborais dos trabalhadores, cujo círculo indica a seqüencial escassez desértica do poder de compra da população, que fomenta ainda mais a bancarrota das empresas e que estancou definitivamente os cofres públicos. Fez-se a imparável roda-viva.
A China conduz os seus vizinhos regionais e provoca os diversos países latino-americanos – que ora lembra um pouco a ilha e estão finalmente livres do “pensamento único” dantes imposto pelas estruturas hegemônicas – para os trilhos do desenvolvimento.
Agora, instaura-se o equilíbrio. Todos chegaram quase lá e apenas enxerga-se o outro lado ansioso pela implementação de uma nova regra no comércio multilateral, então reclamada como talvez a única maneira de serem equalizadas as condições e os níveis de trabalho.
Nesse instante, já diante de uma competição efetivamente global, livre, igual e leal, um quase consenso admite que a propalada nova medida consistiria no imprescindível meio de serem uniformizadas as vidas dos trabalhadores pelo mundo, ainda uma classe hipossuficiente.


 

# antifahrenheit 451 (iv)


A mídia paranaense noticia aos quatro cantos e repetidamente -- para, como Goebbels, fazer tornar verdade uma repetida mentira -- que quase 600 obras públicas estão paradas no Estado do Paraná.

Mentira, ultrajante e ululante mentira. 

Das 702 obras em andamento e promovidas pela Secretaria de Estado de Obras Públicas, são apenas 63 obras paradas, das quais 50 são fruto de convênios com diversas prefeituras municipais, cabendo ao Governo do Estado apenas a fiscalização dos contratos. Logo, há apenas 13 obras paradas sob gestão direta da SEOP, dentre as quais estão os hospitais da Zona Norte e da Zona Sul de Londrina, cujos contratos originais com as construtoras foram rescindidos, com justa causa e ensejadora de indenização ao Estado, e que apenas aguardam a autorização do governador para a abertura de nova licitação.

Quando a mídia nativa diz que há 600 obras públicas paradas, conveniente e dolosamente esquece de informar que 370 tiveram o contrato com a empresa rescindido, por vários motivos. Algumas estão em fase de nova licitação e outras já tiveram o procedimento licitatório concluído, com o reinício das obras.

Outrossim, interromper as obras não significa morosidade ou ineficiência, mas, pelo contrário, significa uma máxima atenção ao princípio da incolumidade do erário público, pois impede que péssimas empreiteiras continuem a prestar (ou a não prestar) péssimos serviços, sem as mínimas condições previstas em contratos, e, ainda pior, recebendo por isso.

Por isso, o Governo do Paraná já está a finalizar a elaboração de um cadastro único de empreiteiras e responsáveis técnicos por obras, para evitar que empresas e empresários suspensos e ímprobos voltem a prestar maus serviços para o Estado e para a sua população. (v. aqui)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

# quo vadis, huracán? (x)

Pela trigésima quinta vez neste campeonato brasileiro, o Clube Atlético Paranaense jogava mal, mas, surpreendentemente, pela primeira vez, eu estava tranqüilo, pois parecia mesmo, inclusive em todo o momento cujo placar mostrava um a zero para o time baiano, que venceríamos, seja pelo pé esquerdo do Netinho -- que come-e-dorme no CAP para alçar bolas na área --, seja pela cabeça iluminada -- por luz divina e luzes de salão -- do Rafael Moura, seja por alguma jogada extravagante e alucinada de algum extravagante e alucionado (ou ébrio) jogador ou seja pelo apito amigo do desconhecido árbitro.
Piano, piano, coincidentemente (ou não) isso tudo aconteceu, o placar virou para 2 a 1 e o homem-de-preto -- o meu personagem do jogo -- cuidou do resto.
O jogo? Ora, o jogo pouco importa, pois, incrivelmente, parece mesmo que nós não cairemos. Saravá!

sábado, 15 de novembro de 2008

# o contra-ataque de milk


E em relação à crônica sobre aquele meu grão-amigo são-paulino, que, radicado há quase uma vida em Curitiba, insiste em nutrir uma paixão por seu distante clube do coração (v. aqui), eis a sua resposta, de "direito"...

Era uma vez um guri careca, mas careca mesmo. Parecido com a parte interna de um sonho de valsa. Era chamado carinhosamente de Sobrancelha, pois esta se tornara a mais evidente das partes mas... lhe fechava os olhos.
Tinha uma paixão: Noêmia. Ahh.. Noêmia... como era feia, nada de flor de beleza.
Desde cedo Sobrancelha fora prometido a Noêmia, fora jogado na arena. Pobre destino estava traçado. Restou-lhe aprender o que é amar. E há de valorizar o esforço brutal de Sobrancelha, ele tentou. Quase sempre presente, diante daquela feiúra toda, se gabava. A zombaria era geral. Mas... tinha os olhos fechados.
O tempo passou... o tempo escassou. Nada que validasse seu empenho naquele amor impossível se concretizou. Apenas pequenas conquistas que so faziam levantar a esperança, para depois cair num abismo sem fim. O espírito estava enfraquecendo, nada mais lhe fazia sentido. Os olhos estavam fechados.
Mas já não era tempo de ter coragem. Coragem essa que poderia livrá-lo deste compromisso insosso.
Restava-lhe olhar pra trás, o futuro já não existia. Vazio.
E nesse vazio surgiu Natália. Ahh.. Natália... como era bela. Mas essa já estava há tempos comprometida, com Milk.
Aquilo sim era amor correspondido. Com os olhos fechados, Sobrancelha não conseguiu enxergar.
Veio o fim como se previa. A inveja que por breves momentos neutralizava a amargura, já não era remédio.
Restou-lhe descansar dessa vida sofrida, e lamentar... que por um branco como Milk, teria sido tricolor.


 

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

# o pretérito do perfeito da crise (ou, "eu te disse, eu te disse...")


O grande político inspirador de Barack Obama, o mais novo queridinho global, é Franklin Delano Roosevelt.

Assim, como talvez nunca tão certo, vem a calhar uma de suas célebres frases -- lembrada por Paul Krugman (v. aqui), último vencedor do Nobel de Economia --, dita no segundo dos seus quatro mandatos presidenciais entre os anos 30 e 40, enquanto tentava recuperar o seu país após o crash de 1929:
 
- "Sempre soubemos que o interesse egoísta e irresponsável é um grande mal do ponto de vista moral; agora sabemos que é também um grande mal do ponto de vista económico".


 

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

# oxalá


Obama foi eleito, o mundo viu e sorriu.

E agora perguntaram para José Saramago qual seria a primeira medida de governo que ele, um dos maiores intelectuais vivos, proporia ao futuro presidente dos EUA.

Eis o que ele respondeu (v. aqui):
"[d]esmontar a base militar de Guantánamo, mandar regressar os marines, deitar abaixo a vergonha que aquele campo de concentração (e de tortura, não esqueçamos) representa, virar a página e pedir desculpa a Cuba. E, de caminho, acabar com o bloqueio, esse garrote com o qual, inutilmente, se pretendeu vergar a vontade do povo cubano. Pode suceder, e oxalá que assim seja, que o resultado final desta eleição venha a investir a população norte-americana de uma nova dignidade e de um novo respeito, mas eu permito-me recordar aos falsos distraídos que lições da mais autêntica das dignidades, das quais Washington poderia ter aprendido, as andou a dar quotidianamente o povo cubano em quase cinquenta anos de patriótica resistência. Que não se pode fazer tudo, assim de uma assentada? Sim, talvez não se possa, mas, por favor, senhor presidente, faça ao menos alguma coisa. Ao contrário do que acaso lhe tenham dito nos corredores do senado, aquela ilha é mais que um desenho no mapa. Espero, senhor presidente, que algum dia queira ir a Cuba para conhecer quem lá vive. Finalmente. Garanto-lhe que ninguém lhe fará mal".


# antifahrenheit 451 (iii)


SANEPAR e COPEL, para delírio da mídia nativa, dos empresários e do grupo político ligado ao ex-Governador Jaime Lerner -- cujo governo findou em 2002, quando então registrou, para ambas as companhias, o maior prejuízo de toda as suas histórias, por força de contratos absurdos e lesivos firmados pela gestão pública de então --, foram parcialmente vendidas e teriam o mesmo fim da "Vale" -- a segunda maior siderúrgica do mundo, atrás da estatal chinesa, dada por 30 moedas para o mundo privado --, se não fosse a intervenção do atual Governo do Estado, que anulou em juízo as operações societárias realizadas e readquiriu o controle absoluto de ambas as estatais: hoje, SANEPAR e COPEL são do povo paranaense e ambas estão entre as 3 melhores e mais rentáveis companhias de água e saneamento e de energia elétrica do Brasil, respectivamente.
A título exemplificativo (v. aqui), agora em novembro o lucro líquido acumulado pela COPEL nos nove primeiros meses de 2008 atingiu a cifra de aproximadamente R$ 900 milhões, o que significa crescimento de mais de 13% sobre os resultados alcançados no mesmo período do ano passado. A rentabilidade sobre o patrimônio líquido da empresa foi de 12,7% e sua capacidade de geração de caixa – medida pelos lucros antes de impactados por juros, impostos, depreciação e amortização - chegou a R$ 1 bilhão e meio.
Tais resultados, considerados bastante expressivos para o setor, foram impulsionados pela política administrativa e pelo forte crescimento do consumo de energia elétrica no Paraná, que registrou expansão de 6,6% de janeiro a setembro deste ano comparativamente a idêntico período de 2007. Refletindo o crescimento do consumo, a receita operacional líquida da COPEL aumentou 6% em relação ao ano passado, atingindo mais de R$ 4 bilhões. A receita operacional líquida é o resultado apurado pela empresa principalmente com a venda e distribuição de eletricidade, deduzidos os impostos, encargos e tributos.
Em razão disso, a maior parte dos relatórios sobre os resultados da Copel divulgados ao mercado investidor nesta última quinta-feira recomenda a compra de ações da Companhia, motivo de orgulho para todos os paranaense, em especial pela atual conjuntura mundial, que refuta quase toda e qualquer aplicação em bolsa.
Insta salientar, também, que o mercado consumidor abastecido diretamente pela COPEL, formado por 393 dos 399 municípios paranaenses, beneficiou-se dos baixos preços praticados pela Companhia para crescer.
No Paraná, a energia elétrica não é tratada como simples mercadoria mas como instrumento para a indução do desenvolvimento, a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida da população, sendo que a COPEL pratica as menores tarifas do Brasil entre as empresas de grande porte, na medida em que ela tem um papel estratégico a cumprir dentro do projeto de gestão estadual.
Nesse sentido, são várias as ações adotadas pelo Governo do Paraná, e que têm se revelado bastante efetivas: (i) as famílias paranaenses de baixa renda que usam até 100 kWh mensais de energia não pagam a conta de luz, que é assumida pelo Estado por meio do programa "Luz Fraterna" -- e que beneficia diretamente 250 mil famílias das camadas mais carentes da população; e (ii) a eletricidade barata fornecida pela Copel pode custar ainda menos para quem utiliza o insumo entre 9 e meia da noite e 6 horas da manhã na irrigação de lavouras e na avicultura, com descontos que podem chegar a 70% dos preços normais.



terça-feira, 11 de novembro de 2008

# e assim caminha a "humanidade" (v)


Enquanto isso, numa tarde ensolarada da última sexta-feira, uma senhora, com trajes e jeitos peruísticos -- que, sabe-se lá a razão, insistia em puxar-me o saco --, totalmente sem noção e gabando-se por ser a parente dos anfitriões, solta essa, bem no meio de uma gente tão modesta, talvez por pensar que eu fosse um sulista ariano descendente da aristocracia escravocrata:

- ... porque, sei lá, sabe... eu não gosto de gente escura... não sei... não consigo gostar de preto.

- Ahn?!?! -- disparo eu, atônito.

- Ah, sei lá, não gosto viu, não adianta. Ui... -- grunhe aquela coisa com forma humana, a olhar para uma meiga e simpaticíssima mulher negra, que trabalhava naquela casa.

Na resposta, penso na minha esposa, na minha família, nos futuros anos de prisão... e, friamente, resolvo não esquartejá-la e trucidá-la. Apenas respondo:

- Como é que pode alguém, nos dias de hoje -- embora já nos dias de sempre -- pensar assim. Isso é inadmissível e criminoso! Não acha?!?

A mulher me olha, range os dentes, coça um dos chifres e sai, com o nariz empinado e o rabo a balançar.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

# ó paí, ó: que maravilha!

Rei e rainha, entre quase um milhar de amigos plebeus, aristocratas e estrangeiros, decidem
- Vem cá -- começa

# quo vadis, huracán? (ix)



Senti o jogo. Repito, senti o jogo, pois, longe, não pude vê-lo. 

Naquele sábado, na capital do vizinho do Sul, passei os 9o minutos imaginando o quê e como tudo lá se passava, como quando criança com meus botões -- e neles, é sabido, o Clube Atlético Paranaense era sempre campeão, como agora está a ser, tamanho é o contra-fascínio que este momento de salvação nos provoca.

Essa louca fuga da segunda maior humilhação de um homem -- depois da traição da mulher amada, a queda para a segunda divisão do time do coração é o nosso mais trágico rebaixamento moral -- está a nos manter num estado tal que só em 1983, 2001 e 2004 gozamos igual.

Mas, nisso tudo, nesta sopa de dúvidas e de fracos sentimentos, o silêncio solitário da incógnita era mitigado pela conexão direta com um homem que me fez nascer e ser rubro-negro da baixada. 

Em múltiplos e constantes bilhetes eletrônicos, via telemóvel, ele conseguia me fazer sentir tudo o que acontecia no jogo e ao redor dele. 

A comunicação digital não tinha os ares regélidos e mecanizados de sempre, mas era contaminada pelo calor humano que descrevia pontualmente cada lance de perigo, cada gol perdido e cada gol marcado. 

As mensagens deixavam de ter objetividade, para serem super-adjetivas; não eram mais tortas abreviações, mas cristalizações de cada homem de vermelho-preto que nos faz, há quatro rodadas, ter mais esperança deste quase-título que em muito breve chegará.

O herói desse meu jogo foi aquele que me fez atento e ciente de tudo o que acontecia naquele espetacular final de tarde em Florianópolis: Odemir, o informante fiel.



quinta-feira, 6 de novembro de 2008

# aspas

 
Outra do caderno virtual de José Saramago (v. aqui), magnífica:
 
"Felizmente há palavras para tudo. Felizmente que existem algumas que não se esquecerão de recomendar que quem dá deve dar com as duas mãos para que em nenhuma delas fique o que a outras deveria pertencer. Assim como a bondade não tem por que se envergonhar de ser bondade, também a justiça não deverá esquecer-se de que é, acima de tudo, restituição, restituição de direitos. Todos eles, começando pelo direito elementar de viver dignamente. Se a mim me mandassem dispor por ordem de precedência a caridade, a justiça e a bondade, daria o primeiro lugar à bondade, o segundo à justiça e o terceiro à caridade. Porque a bondade, por si só, já dispensa a justiça e a caridade, porque a justiça justa já contém em si caridade suficiente. A caridade é o que resta quando não há bondade nem justiça."
 
 
 

 


quarta-feira, 5 de novembro de 2008

# oba?!


A vitória de Obama vai muita além do fútil oba-oba de sorriso amarelo da grande mídia nativa, como assim escreveu o grande uruguaio Eduardo Galeano, o primeiro cidadão ilustre do Mercosul (v. aqui) a exigir ponderada reflexão, ainda que se tenha tal eleição como um marco em termos de equilíbrio e igualdade racial.

Sim, o bloqueio (v. aqui) não cessará, como bem sabemos

"Obama provará no governo que suas ameaças de guerra contra o Irã e o Paquistão não foram mais do que palavras, proclamadas para seduzir ouvidos difíceis durante a campanha eleitoral?
Oxalá. E Oxalá não caia por nenhum momento na tentação de repetir as façanhas de George W. Bush. Ao fim e ao cabo, Obama teve a dignidade de votar contra a guerra do Iraque, enquanto Democratas e Republicanos ovacionavam o anúncio da carnificina.
Durante sua campanha, a palavra “leadership” foi a mais repetida nos discursos de Obama. Durante seu governo, continuará crendo que seu país foi escolhido para salvar o mundo, tóxica idéia que compartilha com quase todos seus colegas? Seguirá insistindo na liderança mundial dos Estados Unidos e na sua messiânica missão de mando?Oxalá esta crise atual, que está sacudindo os cimentos imperiais, sirva ao menos para dar um banho de realismo e de humildade a este governo que começa.
Obama aceitará que o racismo seja normal quando exercido contra os países que seu país invade? Não é racismo contar um por um os mortos dos invasores no Iraque e ignorar olimpicamente os muitíssimos mortos entre a população invadida? Não é racista este mundo onde há cidadãos de primeira, segunda e terceira categoria, e mortos de primeira, segunda e terceira?
A vitória de Obama foi universalmente celebrada como uma batalha ganha contra o racismo. Oxalá ele assuma, a partir de seus atos, tal formosa responsabilidade.
O governo de Obama confirmará, uma vez mais, que o Partido Democrata e o Partido Republicano são dois nomes de um mesmo partido?
Oxalá a vontade de mudança, que estas eleições consagraram, seja mais do que uma promessa e mais que uma esperança. Oxalá o novo governo tenha a coragem de romper com essa tradição de partido único, disfarçado de dois partidos, que, na hora da verdade, fazem mais ou menos o mesmo ainda que simulem uma disputa entre eles.
Obama cumprirá sua promessa de fechar a sinistra prisão de Guantánamo? Oxalá, e Oxalá acabe com o sinistro bloqueio a Cuba.
Obama seguirá acreditando que está certo que um muro evite que os mexicanos atravessem a fronteira, enquanto o dinheiro passa livremente sem que ninguém lhe peça passaporte? Durante a campanha eleitoral, Obama nunca enfrentou com franqueza o tema da imigração. Oxalá a partir de agora, quando já não corre o risco de espantar votos, possa e queira acabar com esse muro, muito maior e vergonhoso que o Muro de Berlim, e com todos os muros que violam o direito à livre circulação das pessoas.
Obama, que com tanto entusiasmo apoiou o recente presente de 750 bilhões de dólares aos banqueiros, governará, como é costume, para socializar as perdas e para privatizar os lucros. Temo que sim, mas oxalá que não.
Obama firmará e cumprirá o protocolo de Kyoto, ou seguirá outorgando o privilégio da impunidade à nação mais envenenadora do planeta? Governará para os automóveis ou para as pessoas? Poderá mudar o rumo assassino de um modo de vida de poucos no qual se rifam o destino de todos? Temo que não, mas Oxalá que sim.
Obama, primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos [bem como de qualquer outro país rico], concretizará o sonho de Martin Luther King ou o pesadelo de Condoleezza Rice? Esta Casa Branca, que agora é sua casa, foi construída por escravos negros. Oxalá ele não se esqueça disso, nunca."

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

# quo vadis, huracán? (viii)

Nem Gorpo ou qualquer outro cidadão de Grayskull poderia prever o que se construiu no final do jogo de ontem: aos 47 minutos do segundo tempo, num derradeiro cruzamento do fraco Netinho -- o homem que come-e-dorme no Clube Atlético Paranaense para bater faltas e escanteios --, o outro esforçado Rafael Moura, que a torcida rubro-negra chama de "He-Man", sobe, do além para além da pequena área, quase sem ângulo e cabeceia uma bola que pareceu ter ficado durante eternos 2 segundos grudada na forquilha do gol do Sport antes de fazer meio-mundo paranaense gritar o gol.
Era 1 x 0, éramos fênix, éramos toda uma nação vermelho-e-preta desfazendo-se dos fantasmas, cada vez mais vivos, de CRB, Tuna Luso, Goiatuba, Bragantino, Goytacaz, Mixto, Barra do Garça etc., e parecendo perceber que o fim pode não estar próximo.
O "Meu Personagem" do jogo não poderia ser outro, de novo: Valencia, o negro colombiano de sangue rubro, que se faz ser, na Arena, o nosso Ben-Hur, que se faz ser, nos tantos buracos (e trincheiras) do relvado da Baixada, o nosso William Wallace, e que se faz ser, no Joaquim Américo, o nosso herói mitológico.

sábado, 1 de novembro de 2008

# (cem) mil / 1


Do invariavelmente brilhante caderno virtual de José Saramago (v. aqui), trazemos a seguinte observação sobre este mundo de lixo & luxo:
 
"[J]á calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, à desmoralização, ao trabalho desproporcionado, à infância, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?" (Almeida Garrett -- 1799.1854)

P.S. E sobre essa "crise" -- que, como já disse, abre em traje de gala o canto císnico deste capitalismo neoliberal --, veja aqui o que publicou o excepcional escritor português, e aqui o manifesto subscrito por diversos intelectuais europeus, dentre ele o próprio Saramago.