quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

# gasolina bandida

Quinta-feira, manhã meio fria, saio de casa e, em todos os cantos, vejo que todos os postos de combustíveis da região central amanheceram com os seus preços bastante elevados e... idênticos. Claro, mera coincidência. São as maravilhas do liberalizado mercado.
E me prgunto: até quando aguardará o Ministério Público para oferecer denúncia contra este "sindicato" (de ladrões?) e seus prosélitos por crime à ordem econômica?

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

# ricos & mendazes


Após um longo-e-tenebroso inverno, finalmente a obra saiu das catacumbas coimbrãs para chegar, agora em fevereiro, nas melhores casas do ramo da "oropa, frança e bahia".
Pela clássica editora Almedina, a tese do mestrado escrita pelo ghost writer do "À Sombra da mangueira imortal" finalmente foi publicada, sob o título: "Ricos & Mendazes: o Dilema das Cláusulas Sociais nas Relações Multilaterais de Comércio Internacional (um Itinerário Sinuoso-Bloqueante para o Direito ao Desenvolvimento), com apresentação e prefácio dos Professores Catedráticos António José Avelãs Nunes e Manuel Carlos Lopes Porto, respectivamente.
Não se sabe se seguirá na forma de "Cavalo de Tróia" (com 7 continuações) ou "Harry Potter" (com umas 12), mas apenas que o início da saga está pronto...
E, já nos próximos dias, podem adquiri-la, se não nas livrarias luso-brasileiras, pela internet:
http://www.almedina.net/catalog/product_info.php?products_id= (em euros) ou http://www.almedina.com.br/ (em reais).
Boa leitura -- e boa reflexão!
fds

domingo, 24 de fevereiro de 2008

# 30 moedas


Final da Taça Guanabara. Flamengo e Botafogo. Noventa mil pessoas no "maior do mundo".
Em tese, um bom jogo: tensão, emoção e qualidade, com virada rubro-negra aos 46 do segundo tempo e jogo quase empatado, com bola na trave, aos 50".
Em suma, um bom programa para um domingo cinza e chuvoso.
Se não fossem os coxas, que aceitaram vender-se por 30 moedas.
E fez-se as imagens da tosca RPC (filiada Globo no Paraná), num impagável Londrina vs. Maringá (os coxas jogaram no sábado...), ambos abaixo da mediocridade, estádio vazio, sem graça, sem balanço e sem beleza.
Sim, pois se os coxas não aceitassem a miséria oferecida pelo Canal 12 – como fez o Atlético, a recusar o "troco" oferecido –, certamente a conversa seria outra, pois, sem a dupla Atletiba, duvido que as transmissões (e os contratos coletivos, por adesão) vingassem.
E assim poderíamos todos os mortais órfãos do "pagar-pra-ver" ter assistido ao grande jogo do Maracanã, porque, sinceramente, esse paranaense – ao menos até as finais – não serve para nada e irrita a todos.


 

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

# robin hood às avessas


Evidentemente, a intervenção direta do estado – econômica, fiscal, social etc. – é o único modelo factível e eficaz para o combate à desigualdade.

Isso não é novidade. Nunca foi.

Os países hoje hegemônicos quando dividiam essa qualificação com antigos impérios assim faziam. E hoje não se arrependem.

Mas no Brasil, claro, tem que ser diferente. E particularmente vamos à CPMF, pois, o que era suspeita, confirmou-se.

Sim, o fim da CPMF não produziu a alardeada redução de preços para os consumidores. Ao contrário do que bradava o núcleo da imprensa golpista (Globo, Veja, Estadão e Folha) – como eco dos seus financiadores da "tropa" da elite branca e direitista – e a oposição, os preços permaneceram os mesmos e, ipso facto, apenas fizeram aumentar o lucro das indústrias e empresas.

Em um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), capitaneado pelo Prof. Marcos Cintra, fez-se um cruzamento entre o impacto do fim da cobrança da alíquota de 0,38% sobre as movimentações financeiras com a inflação medida em 42 setores da economia. Resultado: não houve ganhos para o consumidor e a extinção da CPMF não causou qualquer impacto positivo na economia do País. Pelo contrário. Os cálculos realizados mostram uma inflação crescente nos preços desses setores pesquisados.

Logo – e isso já sabíamos –, os únicos beneficiados com o fim da CPMF foram as empresas e os grandes conglomerados econômicos, que tanto lutaram pela derrubada do tributo e que hoje podem comemorar o aumento de suas margens de lucro.

Enfim, deste único tributo ao qual ninguém que se enquadrasse na condição de sujeito passivo escapava – desagradando a todos os capitalistas –, duas conclusões óbvias podem ser tiradas: o que contribuía para o financiamento da saúde, da previdência e da assistência social, agora, é do lucro privado.

E, o que antes era para rastrear e punir a ação de sonegadores, agora ajuda a escondê-los.


 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

# cuba (permanece) libre


A mostrar o grande – e sempre criticado – homem político que é, Fidel Castro reconheceu que o corpo venceu a sua alma e a sua mente e resolveu não dispor o seu nome para a próximas eleições cubanas, em março.
 
As seguintes palavras deverão ser talhadas em bronze: "A mis entrañables compatriotas, que me hicieron el inmenso honor de elegirme en días recientes como miembro del Parlamento, en cuyo seno se deben adoptar acuerdos importantes para el destino de nuestra Revolución, les comunico que no aspiraré ni aceptaré – repito – no aspiraré ni aceptaré, el cargo de Presidente del Consejo de Estado y Comandante en Jefe", pois, após meio século comandando Cuba – e sendo intransigente às tantas novas ordens mundiais que, medusicamente, conseguem perverter o mundo –, Fidel não será mais, oficialmente, o próximo líder cubano.

Já foi dito e confirmo: é o único mito político vivo, talvez ao lado do sul-africano Nelson Mandela.

Não entrarei nos pormenores heroicos deste homem, deste país e desta gente; não explanarei sobre todas as questões que os cercam, do bem e ainda que heterodoxas; e, principalmente, não discorrei sobre quem foi, é e será este grande herói.

Na verdade, a presente observação serve apenas para, mais uma vez, aplaudir a sábia decisão de Fidel, que assim se qualifica por duas razões principais.

Primeiro, porque as "hienas" e os "abutres" de plantão não terão o gosto de ler (ou ouvir) que Fidel renunciou – uma manifestação patentemente negativa e que denotaria fraqueza. Sim, o que a imprensa golpista insiste em colocar nas manchetes é uma mentira, pois não há "renúncia".

Convém lembrar que a recusa em concorrer aos cargos de Comandante-Chefe e Presidente do Conselho de Estado em disputa nas próximas eleições não significa uma "renúncia" de Fidel. Não há renúncia, porque Fidel não "renuncia" ao poder – e isto está claro na sua carta-mensagem.

Repita-se, não se renuncia algo que (ainda) não se tem, à medida que haverá uma nova eleição em março para se eleger a nova direção do partido (e do país).

O fato de não querer disputar as próximas eleições, uma vez que teria condições (visto que fora um dos eleitos para o Parlamento) – e ainda que se pressuponha que, se candidato aos cargos máximos, seria certamente escolhido –, não significa uma renúncia, pois cumprirá até o fim o mandato que lhe outorgaram. Simplesmente reconheceu não ter mais condições físicas de disputar novas eleições, e, então, liderar o povo cubano e a frente alternativa global para algo diferente desta desigualdade, com mãos fortes e com inoxidáveis algemas para as mãos livres do mercado.

Segundo, porque as "hienas" e os "abutres" de plantão não terão o gosto de esperar a sua morte para pretenderem "tomar o poder" e "tornar livre o povo cubano". Sim, era isso que todos esperavam. Agora, com tal decisão, haverá uma transição natural do poder – logicamente que com todas as dificuldades naturais que qualquer mudança ocasiona –, talvez exercido na ponta por Raúl Castro – um dos poucos do grupo remanescente de 1953 –, e não acontecerá o que seria a pior coisa para Cuba (e para a humanidade), ou seja, o vácuo provocado pela sua morte, a possibilitar toda uma pressão internacional, maiormente da mídia e das "fiesp´s", pelo "necessário" (sic) desprezo aos princípios da soberania e da autodeterminação dos povos, e a ingestão estadunidense para, com seus tanques e yankees, "ocuparem" o comando geral.

Assim, com o grande comandante por perto, ainda ativo com a sua doutrina, a sua experiência e a sua voz, e a direção do estado cubano devida e tempestivamente preenchida – e não vacante, como causa certa (e crónica) de uma morte anunciada –, os ideólogos do pensamento único (e dos "restos" cubanos) deverão procurar outras freguesias para impor as suas idéias: quem sabe a China, destratando-a também por ter um partido único (o "Partido Comunista Chinês) e não gostar dessa pseudo-democracia ocidental...
 
Enfim, vê-se que hoje, em Cuba, não há espaço para essas "hienas" e esses "abutres", pois o terreno cubano ainda pertence aos seus leões que, não obstante a aposentadoria de um deles, buscam exemplarmente um mundo melhor para os seus filhos, hipossuficientes à carnificina do mercado desregrado e (auto)proclamado onipotente.


 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

# e atrás do trio elétrico só não vai quem não pode pagar...

 
Mais uma vez o Brasil avaliza, tacitamente, um desserviço à sua gente.

A triste realidade que pouco encanta nos quentes trópicos da Bahia finalmente clama – e já não mais se desengana – por um revigorado programa: o lampejante e autofágico fim de um modelo, um modelo até então assente nos versos de Caetano Veloso que dizia "atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu".

Concomitante a todos os efeitos neoliberais que assolam a sociedade, os (agora findados) vinte anos de reinado de partidos de direita – oligárquicos e conservadores – em Salvador, na Bahia, ultrapassou as searas sócio-político-econômicas e desembocou na constituição cultural da maior festa do planeta, uma vez que, literalmente, viu ser privatizado o seu carnaval, a deixar que apenas uma ínfima parcela da sociedade permita-se pagar e, como se pisasse em chão de esmeraldas, ir atrás de um trio elétrico, enquanto a imensa maioria da população fica, perifericamente, num (sub)mundo extra-blocos, longe do tapete vermelho.

De um passado que buscou justamente oferecer ao povo quatro dias de festa – e então propiciar à senzala momentos de alegria&alegria tal qual àqueles gozados nos salões da casa-grande –, o cotidiano traz um festival de preceitos privatistas e elitistas: sim, o fim veio a galope e, enfim, parece ter transformado a máxima festa do povo em um vil mercadoria, bem ao gosto da liberalidade dos neoconservadores.

Ao longe, pode-se notar pelos jornais, pelas tevês e, principalmente, pelos vastos depoimentos de amigos, nativos ou visitantes, que se pratica na capital baiana o outro gênero da segregação, a segregação social, que faz o carnaval, se visto a olhos puros, parecer um baile aristocrata, com a nobreza bem definida, cuidada e protegida ao centro e os serviçais carcomendo-se pelos lados, pelo cantos e pelos subterrâneos das ruas.
Com vestimentas e cordas, escolhe-se o bem e o mal, separam-se gregos e troianos, segrega-se o sangue azul do sangue vermelho, divide-se o branco do preto, aponta-se – erradamente – o joio do trigo.

Com “abadás” (t-shirts usadas para identificar o "bom" do "mau") e “cordeiros” (seres humanos que são pagos, com trocados, para juntos segurarem as "cordas" que envolvem e separam os "eleitos" do "resto") pretende-se expor toda uma população – que inventou, criou, fez e se apaixona pela idéia – à barbárie de ruas e ruelas congestionadas e inescapáveis e à selvageria de fazer homens e mulheres esmagarem-se e disputar a tapas os centímetros quadrados restantes com outras dezenas de crianças e idosos, uma vez que tudo (percurso) e todos (segurança) ficam reservados à fidalguia intra-cordas, com benesses, bar e banheiro privés.

Com preços exorbitantes e convites vip, retorna-se ao tempo de suseranos e vassalos, de corte e plebe, de homens e de ratos, pois, em prol de uma gente – em sua maioria da burguesia sulista e paulista ou do mass media – que se (e)leva e (a)voa por se abundar em milhares de reais, alija-se o povo daquelas suas terras, das suas ruas e da sua festa. E quem ganha com isso?
 
Os homens de black-tie, as “pessoas muito importantes” (?) e, não se esqueça, os músicos, os quais jogam banana e cospem os seus chicletes na cara do povo, uma vez que são silentes e coniventes com a esfoliação praticada pelo show business, outrora um simples “carnaval de rua”.

Com urgência, antes de uma possível catástrofe urbana ou de um motim popular – já saturada ou intransigentes diante da indécora realidade –, os órgãos e as empresas estaduais precisam se movimentar, reassumir as rédeas delegadas ao mercado e promover a sequiosa regulação e reorganização dessa grande festa.
 
Afinal, diante da imperiosidade e da inalienabilidade do espaço e do interesse públicos, deve-se rechaçar a usurpação e a capitalização que hoje, infelizmente, caracteriza a maior folia da terra.