segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

# 2010

Se não 2012, voltaremos das férias apenas no dia 11 do próximo ano.
Felicidades. E até lá. Ou não.
fds

domingo, 27 de dezembro de 2009

# o mundo é dos ricos?


fds Em uma roda com vários amigos, uma pergunta chega a mim: "O mundo é mesmo dos ricos?".
fds A resposta, embora um tanto quanto óbvia e fácil, merece reflexão, em especial quando todos nós -- já sem importar a ideologia sócio-político-econômica que nos acometem -- parecemos concordar com ela.
fds Ora, é inevitavel que a única forma (e a única dinâmica) possível para que se altere este "estado das coisas" (ou este status statal) é por intermédio de ações políticas, por meio da atuação forte do Estado, em todas as suas instituições, e pela presença contínua dos movimentos sociais.
fds É evidente que os cidadãos, isoladamente, e a iniciativa privada, em selecionados momentos, tem parcelas de contribuição, de importância e de responsabilidade; porém, são por aqueles meios que a sociedade é capaz de se transformar e que o país (e o mundo) podem mudar -- e então deixar de ser, como todos parecem querer, dos ricos, sendo mais justo, mais igual e mais livre.
fds Mas, o que causa estranheza -- pero no mucho --, é o fato de as pessoas da direita (e, ipso facto, todas as pessoas que ali me cercavam) admitirem que o mundo seja dos ricos, admitirem que isso não está certo, mas, de repente, entenderem que a solução não está nas políticas públicas sociais e desenvolvimentistas, não está na existência eficiente e intransigente das insituições públicas e não está na atuação firme e brava dos movimentos sociais.
fds Para esse grupo, ao contrário, o que prepondera nesses três pilares é a sanha arrecadatória do Estado, a sanha intrometida do Ministério Público e a sanha bandoleira do MST.
fds Enfim, deste jeito, com tais conceitos e preconceitos, o único caminho é ver perenizada a trilha que leva ao único lugar possível, aquele onde o "mundo é dos ricos".
fds Sim, para alívio e conforto de toda aquela turma que, a simular a revolta e a indignação, na verdade perde o sono diante da mínima possibilidade de ver a bancarrota do modelo vigente de sociedade e de Estado brasileiro, de ver um Brasil -- o nosso mundo -- de todos, justo e igual, como deve ser e no qual todos devem ceder.
fds

 

# e assim caminha a humanidade (xv)


fd Enquanto isso, num agitado almoço de sábado pós-Natal, entre parênteses de uma longa conversa, discutia-se en passant a reviravolta na vida de uma pessoa ali conhecida de todos, a qual acabara de sair da bancarrota pessoal-financeira-empresarial e, dentre outras coisas, convertera-se discípulo de algumas dessas igrejas evangélicas neopentecostais.
fds E assim, após dar breves detalhes da nova vida do dito cujo, o mais experiente interlocutor da roda conclui:
fd - E agora, passada a gravíssima turbulência, parece que uma grande e antiga propriedade que possuía poderá ser finalmente regularizada. Porém, vejam só, ao invés de dar um jeito de vendê-la e ficar com o dinheiro, ele me disse que deixará toda ela como "parte" de pagamento para os tantos credores que ainda tem...
fd - Que bacana! - emendei, achando o gesto sensato, óbvio, legal, ético e natural... hã?!
fd Não!! Eis que, em uníssono, o interlocutor e, principalmente, as outras seis pessoas da roda, com caras, gestos, risos e gargalhadas, inapelavelmente acusam-me de... bem, de...
fds Ora, na verdade, a não-articulação de um raciocínio econômico-jurídico-moral por parte deles -- cujas monossilábicas e onomatopéicas palavras, sem sentido, aliavam-se às suas continuadas caras, gestos, risos e garagalhadas --, se não parecendo dar constrangida razão ao singelo comentário que fiz, buscava acusar-me de alguma coisa do tipo "ah, ele não entende disso...".
fd Ora, na minha lógica ético-jurídica, o devedor ter conseguido uma solução para pagar os seus credores pareceu ser uma atitude, no mínimo, bacana. E moral.
fd Mas para os outros que ali estavam, não.

fds

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

# natal

Na festa do Nascimento, na terra ainda muito pouco a se comemorar.

Na vida daqui, o ser continua, mais do que nunca, a querer sucumbir ao ter, em duas vertentes: você não tem, você não é; e você não tem o básico, e então você é menos ainda.

E nesse caos quase paradoxal, ao qual lutamos no combate diário -- afinal, o ter nada significa, senão quanto ao mínimo fundamental -- milhões não têm e não são.

Mas apenas aqui, porque na perspectiva da outra banda o Natal é para todos, igual, cada qual sendo pelo que é e cada qual tendo o que todos precisamos, fundamentalmente, ter.



São Paulo, região central. Morumbi, em laje e zinco, em jacuzzis e varandas. E um muro, num cenário de céu e inferno. É Deus e o Diabo na Terra da Garoa. E todos nós num purgatório. De que lado estamos? Para onde vamos? Até quando?

fds

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

# u-lula-lá (de novo)

Não me estranha que este homem, o cara, impressione o mundo.
Agora, escolhido pelo maior jornal da França, Lula é l'homme de l'année.



fds

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

# aspas (xxix)

Recentemente, o escriba (e fariseu?) Nêgo Pessôa fez uma das maiores declarações de amor já vista neste trópicos.

Era uma jura de amor eterno e total.

E acertou a mão, em cheio, como de regra acontece quando ele trata do cotidiano, dos modas e das modas e da vida, como ela é -- nessas áreas, a sua verve é ímpar (v. aqui).

Mas atenção, o Ministério da Saúde adverte: se o assunto for política-economia-sociologia-e-direito, data venia, fuja do nobre escritor, para o bem de todos e a felicidade geral da nação...
fds
"
A caminho da senectude (maravilhosa palavra) me tornei um comedor de pão. Ontem, depois de fazer a barba, tomar banho, me produzir, fui ao Marcolini, na praça Espanha; mandei descer o estoque. Comprei todos os pães. Tenho pão até 2014, ano da copa no Brasil – se não houver acidente.


PÃO&CIA
Gosto de pão de qquer jeito. E em todas as companhias, especialmente nas más, não abonadas pelas tradicionais famílias curitibocas. Gosto de pão a sair do forno, a queimar dedos&língua; gosto de pão dormido, de ontem; gosto de pão ao ponto, mal passado; gosto de casquinha de pão e gosto também da árdua casca do pão italiano, rústico, excelente teste para as renovadas arcadas.

PÃO S/A
Gosto de pão com manteiga e pão com margarina. Mas gosto também de pão sem manteiga e de pão sem margarina… como o Fernando Sabino jurava q viu em Portugal. E no azeite, então? E no azeite com sal&pimenta? E no sal? E na pimenta? E afogado no grosso caldo de feijão preto? E na minestra generosa? E nos molhos nos fundos dos pratos?

PÃO MATABORRÃO
Ah! O pão mata borrão! E no café com leite q minha mãe deixava pronto antes de partirmos de calças curtas pras aulas das manhãs frias do inverno iratiense? E o pão no vinho da italianada civilizadora? E o pão abrigo da cebolada dos nossos adoidados polacos? E o pão sírio? Filho da puta! Refratário ao enxuga-encharca-absorve! E as broas? Com miolo a 1000 graus Celsius! Com manteiga a se derreter? E as surubas, ié, e os sanduíches?

PAUSA PRA INTOLERÂNCIA
Não tolero pão de hamburger, pão só miolo como a faca só lâmina do poema do João; aposto q aquela carne moída melhoraria muito entre metades do velho de guerra pão dágua. Varrido do mapa pelo – filho da puta! – francesinho.

(...)
As vezes vou a Saint Germain só pra comprar pão dágua. As vezes desconfio q sou o último dos moicanos comedores de pão dágua. Estou tentado a armar confraria ou sociedade secreta dos comedores de pão dágua. Amo os perdedores. Tenho alma compassiva. Nos reuniremos nas catacumbas e compartilharemos irmamente, fraternalmente, o pão dágua q se extingue não com uma explosão, mas com um suspiro. Para degustar o pão v tem de mastigá-lo bem, com paciência, calma. Capriche."
fds

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

# chile: a esquerda paga o pato e o povo fica com o mico


E o Chile hein, quem diria, mostrou-se saudoso dos tempos de ditadura militar ou do mercado.

Após quase vinte anos de candidatos da "Concertación" -- uma coalização de partidos, a princípio, de centro-esquerda --, dois dos quais presididos por socialistas chilenos, desembocam, provavelmente, em um fracasso e na devolução do governo ao (neo)pinochetismo, sem ter rompido com o modelo econômico e sem ter conseguido desarticular a direita originária da ditadura militar.

O Chile, exibido pelas oligopolistas mídias nacionais e pelas instituições financeiras internacionais como o modelo supostamente bem logrado de implementação das políticas de "livre" mercado, volta às mãos dos que a formularam e a implementaram durante a ditadura pinochetista.

E assim, na contramão da América Latina (e de quase todo o mundo), tem tudo para retroagir e eleger no segundo turno o mais (i)legítimo representante do grande capital e da escola pinochetiana, para delírio da grande mídia nativa, dos conservadores latinoamericanos e de toda a direita que espia assustada o irretornável caminho dos progressistas governos da região.

Em suma, a esquerda chilena paga o preço das políticas do "Concertación", cujo grupo político aceitou inerte o antes fracassado -- e hoje retrógrado -- modelo neoliberal e, porquanto incapaz de mudar a vida dos grandes setores pobres do país, não conseguiu o apoio popular.

O Chile, infelizmente, dará vários passos para trás.

E sem ao menos parecer que serão para tomar o necessário impulso revolucionário.


 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

# aspas (xxviii)



No seu "Conversa Afiada", Paulo Henrique Amorim repercute o discurso do Governador do Paraná, Roberto Requião, no qual disse, para espanto de alguns, que "autoridades não devem gozar de sigilo", que "água é bem público imprivatizável" e que "o MST é uma dádiva de Deus, pois encaminha uma juventude excluída para um trabalho de militância social e para arar um pedaço de terra".

Eis o post do jornalista (v. aqui):

- Com o MST eu converso, disse Requião.
- Eu encaminho reivindicações ao Governo Federal; eu faço uma escola.
- Com o crime organizado -- que seria a alternativa para a juventude excluída -- eu faço o quê?, perguntou Requião.
- No MST, alguns querem o socialismo e eles têm direito a isso.
- Outros querem um pedaço de terra.
- E outros querem vender a terra -- e são esses que empurram o MST adiante.
- Eu conversei com o Governador Requião sobre a Sanepar.
- Uma empresa de saneamento que Daniel Dantas privatizou e Requião tomou de volta.
- Requião, ao contrário do Presidente Lula, enfrentou Dantas.
- Requião disse que gostaria muito de ver Dantas na cadeia.
- E disse mais, sobre a batalha do Presidente do Supremo e o delegado Protogenes: Requião acha que autoridade não deveria ter direito a sigilo.
- A nenhum sigilo, muito menos o telefônico.
- Só não pode divulgar conversas íntimas, privadas; o resto, todo mundo tem o direito de saber.
- O homem público é público, diz Requião.



 

# causas (e homens) imprescindíveis


Eu discordo de Bertolt Brecht, quando esse disse que não há homens imprescindíveis, mas sim causas imprescindíveis.

Na noite de hoje, quando estive aos arredores da Lapa/PR como convidado para as cerimônias em comemoração aos 25 anos do MST -- o maior movimento social da América Latina -- e de encerramento do ano letivo na "Escola Latinoamericana de Agroecologia" (v. aqui), a qual está contígua ao "Assentamento Contestado" (v. aqui) e situada numa antiga fazenda escravocrata do séc. XIX -- em cuja estrutura há a forte presença do Estado, a oferecer o mínimo aparato educacional, tecnológico e de saúde aos assentados e aos estudantes --, percebi que, ao lado das causas e dos caminhos imprescindíveis, há, sim, homens imprescindíveis, ainda que, claro, substituíveis.

Na medida em que a história é uma construção tremendamente coletiva, na qual andamos e colocamos as nossas pedras, percebi que aqueles tantos homens e mulheres que dirigem, trabalham e pertencem aos projetos e movimentos sociais que anseiam a concretização da solidariedade, da igualdade e da liberdade são, sim, fundamentais.

E imprescindíveis para a reforma e a revolução do nosso país, para a nossa transformação na definitiva busca por justiça e desenvolvimento social.


 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

# coxos


Desta vez sem choro, lá, e sem risos, cá, os coxas caíram, de novo, para a Segunda Divisão.
Mais do que a tristeza e a irritação, lá, e a alegria e a escárnio, cá, pelo rebaixamento, ficou o sentimento de vergonha.
Sem frustração, lá, e sem satisfação, cá, a selvageria patrocinada por bandidos travestidos de torcedores não manchou apenas a queda de um clube curitibano para a segundona.
Todos nós, lá e cá, sentimo-nos envergonhados da nossa gente curitibana.
O episódio manchou a cidade de Curitiba.

 

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

# aspas (xxvii)



Nesta oportunidade em que (i) se discute a urgência de se refundar as comunicações e a mídia no país e (ii) se acredita que a queda do Muro é a queda fatal das utopias, um pensamento intransitivo de Érico Veríssimo -- publicado na primeira parte da sua autobiografia “Solo de Clarineta: Memórias” --, cujo texto, inclusive, consta na epígrafe do recente livro escrito pelo editor deste blog (v. aqui e aqui):

fds"Tem-me animado até hoje a idéia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror.
fds
Mas, se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos o nosso posto".