quarta-feira, 31 de março de 2010

# dogmas desidratados


fdsDeus está no chá da planta.

fdsAssim defendem (e, creem?) os adoradores do santo vegetal, os discípulos do "santo daime". E assim obtêm do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas a liberação, ainda que condicional, para o uso da ayahuasca nos seus festivos encontros religioso-sociais. E neles se entopem com o tal alucinógeno, um psicotrópico legalizado.

fdsBem, e esse (ou um outro) Deus não poderia estar também nas plantas de cannabis sativa, a erva ganjah, como querem os "rastafaris", inclusive sob a estrita ideia do Gênesis, 1:29: "E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento."? E então passar-se-ia a consumir cânhamo, sob o manto da liberdade de religião, num contexto, digamos, "religioso". Ora, ora...

fdsEnfim, este caso da ayahuasca padece da mesma hipocrisia que libera o álcool e o tabaco, mas que continua a proibir outras drogas, seja qual fora a sua razão ou missão, como, especialmente, a maconha (v. aqui e aqui).
fdsds
 

# sopa de letrinhas (e de desenvolvimento)


Um dos morros mais tradicionais da cultura brasileira, berço do samba e de bambas, enaltecido em letras de sambas memoráveis e vizinho do maior estádio de futebol do mundo, a Mangueira tem um projeto de reurbanização pronto para acompanhar a iminente instalação de uma "Unidade de Polícia Pacificadora" (UPP).

Com a perspectiva de receber recursos da segunda fase do "Programa de Aceleração de Crescimento" (PAC-2) do Governo Federal, o governo e a prefeitura do Rio fizeram um projeto em conjunto e ambicioso: para conectar o morro eternizado por Cartola e Carlos Cachaça com outros pontos da cidade, está prevista, a construção de um teleférico, de passarelas, de ciclovias e de calçadas ecológicas, obras urbanas que, como nunca integrarão de vez a comunidades daquelas favelas com a cidade, de forma sensível, cívica e civilizada.

É o PAC e as UPP's tornando-se as siglas mais importantes para o povo carioca (v. aqui).


 

terça-feira, 30 de março de 2010

# outro lado

 
fdsEmbalada pelos sensíveis textos esportivos criados por ele em toda a sua carreira na crônica brasileira -- e, neste caso, honra lhe seja --, a grande mídia esquece de fazer uma observação muito importante: Armando Nogueira era o responsável pelo jornalismo da Rede Globo na época do regime militar, do regime da direita, do regime reacionário e ultraconservador.

fdsEmbora um mero fantoche de Roberto Marinho (o dono do grupo Globo), o qual, por sua vez, era um mero fantoche dos milicos e da direitona (os donos do poder), Armando Nogueira submeteu-se ao tosco e vergonhoso papel, até não mais aguentar e pedir o boné, em 1989, naquele histórico episódio da vigarista edição do último debate entre os presidenciáveis Lula e Fernando Collor.
 
 
 

domingo, 28 de março de 2010

# semana santa


fds"Vocês não podem servir à Deus e ao Dinheiro" (Mt 6,24).
fdsAflige a humanidade (na qual você, claro, está inserido) o problema de uma economia mundial (nacional, regional, municipal, de bairro...) que não tem como objetivo central promover o bem-estar mínimo (direitos fundamentais) de todas as pessoas, mas sim insistir no enriquecimento e na acumulação de uma minoria.
fdsEssas são as inevitáveis consequências do pensamento único global que exorta o sistema sócio-político-econômico da democracia capitalista como uma criação divina inexpugnável.
fdsOra, mentira, sob pena de se crer que nós, seres humanos, não somos concebidos à imagem e à semelhança de Deus (e estarmos ao lado da concepção rousseauniana do homem, e não hobbesiana).
fdsAlguns admitem que o mote da campanha da fraternidade deste ano ou é piegas (e ingênua) ou é omissiva (e conivente) -- v. aqui --, porém, é irrepreensível a tentativa de expor que a presente realidade não é irreversível.
fdsAfinal, a verdadeira ingenuidade -- e a pulsante má-fé ou a imoral conveniência -- é acreditar que a economia, que é um sistema construído pelos próprios seres humanos e não um desígnio dos céus, não possa ser mudada.
fdsBasta que assim queiramos, organizemo-nos e lutemos para mudá-la -- fácil evidentemente que não é.
fdsPrecisamos enfrentar as ideologias, como essa que preconiza como imutável todo este estado de coisas, capaz inclusive de criticar Estados e pessoas que tentam e buscam alternativas ao espúrio modelo vigente.
fdsPrecisamos, enfim, abrir os olhos para a verdadeira realidade, que não é essa que fantasiam em torno dos nossos castelinhos.
fdsE enquanto a semana santa exige de nós ao menos essa reflexão, a vida cristã exige a nossa atuação e mudança, contínua e irretroativa.


 
fds
 

quinta-feira, 25 de março de 2010

# merchand II

 
Caro leitor, cara leitora, o meu livro está em promoção no site Submarino. Uma pechincha.
Esgotada a primeira edição, só nos leilões da Christie's.
fds
fds
Abaixo, o texto da contracapa, que faz parte do prefácio assinado pelo Prof. Doutor Avelãs Nunes, Vice-Reitor da Universidade de Coimbra e professor catedrático da Faculdade de Direito:
fds
"(...) Estudando as cláusulas sociais, entre o proteccionismo hegemónico e o ideário altruísta, no âmbito do desenvolvimento das nações e das relações multilaterais de comércio internacional, [o Autor] não se ateve aos aspectos técnicos, envolvidos numa problemática tão rica e tão actual.
(...) Centrando as suas preocupações na perspectiva do Direito do Comércio Internacional, não hesitou em percorrer o caminho mais difícil. Analisou sempre os problemas à luz da História; enquadrou-os do ponto de vista da Filosofia e da Ética (com particular atenção aos Direitos Humanos); estudou-os na óptica do Direito do Trabalho e do Direito do Desenvolvimento; e foi à Economia Política buscar os ensinamentos necessários à boa compreensão dos interesses em causa e dos mecanismos ao seu serviço.
(...) Optou por ‘não desertar do seu posto’, enfrentando os problemas políticos e os problemas sociais implicados nas matérias que investigou.
(...) E fê-lo com grande maturidade e bom senso, fê-lo no respeito das ‘regras da arte’ de um trabalho de investigação (...), mas fê-lo também – honra lhe seja – sem a hipocrisia beata dos que, apesar das ‘mãos sujas’ de compromissos que não querem confessar, teimam em jurar que a sua ciência é uma ciência ‘positiva’, uma ciência ‘neutra’ em relação aos fins, uma ciência que não é ‘política’, (...) firmando assim, a meu ver, os seus méritos e os seus créditos de investigador preocupado em transformar o mundo".
fds
 
 

terça-feira, 23 de março de 2010

# vox populi

A partir de hoje, diante dos insistentes pedidos, tentaremos, mais uma vez, abrir espaço para os "comentários" dos nossos leitores que, à sombra da mangueira imortal, também poderão expor as suas impressões, críticas, questionamentos e posicionamentos acerca dos nossos textos, embora, como sempre, possam se fazer presentes por email.
Funcionem, espero, como bulas paralelas e alternativas -- não menos saudáveis que as nossas -- dessa bola chamada mundo.
Entretanto, como na medida do possível serão moderados -- tal qual (quase) todos os blogs e sites --, repetimos que, se como outrora, o teor maior dos comentários for preconceituoso, ofensivo, baixo, grotesco, idiota ou desprezível, abortaremos a (re)tentativa.
Totalitariamente.


 

segunda-feira, 22 de março de 2010

# a direita insiste: ódio&mentira


fds Embora já seja notoriamente considerada, mesmo por alguns dos seus ricos e cegos leitores, uma revista dégoûtant, o mais famoso e racista panfleto da direita -- a "Veja" -- vem à tona para novamente mentir, de forma a assim agradar a todos aqueles que a financiam -- nesse caso as turmas da CNA e de oligopolistas da região -- e evitar que os seus já parcos leitores abram os olhos.
fds Eis a nota oficial do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) -- já estampada nos grandes e independentes blogs e sites da internet, vez que na grande mídia, evidentemente, você não ficará sabendo... -- sobre a (pen)última mentira exposta nas páginas da edição desta semana do citado panfleto:
fds "1 - O MST do Pará esclarece que não tem nenhuma fazenda ocupada no município de Tailândia, como afirma a Revista Veja (“Predadores da floresta”) desta semana. Não temos nenhuma relação com as atividades nessa área.
fdsfds 1.1 - A Veja continua usando seus tradicionais métodos de mentir e repetir mentiras contra os movimentos sociais para desmoralizá-los, como lhes ensinou seu mestre Joseph Goebbels.
fds fds 1.2 - A reportagem optou por atacar mais uma vez o MST e abriu mão de informar que o nosso movimento não tem base social nesse município, dando mais um exemplo de falta de respeito aos seus leitores.
fds 2 - A área mencionada pela reportagem está em uma das regiões onde mais se desmata no Pará, com um índice elevado de destruição de floresta por causa da expansão do latifúndio e de madeireiras.
fds fds 2.1 - Em 2007, a região de Tailândia sofreu uma intervenção da Operação Arco de Fogo, da Polícia Federal, e latifundiários e donos de serrarias foram multados pelo desmatamento. Os madeireiros e as empresas guseiras estimulam o desmatamento para produzir o carvão vegetal para as siderúrgicas, que exportam a sua produção. Por que a Veja não denuncia essas empresas?
fds 3 - Na nossa proposta e prática de Reforma Agrária e de organização das famílias assentadas, defendemos a recuperação das áreas degradas e a suspensão dos projetos de colonização na Amazônia.
fds fds 3.1 - Defendemos o “Desmatamento Zero” e a desapropriação de latifúndios desmatados para transformá-los em áreas de produção de alimentos para as populações das cidades próximas.
fds fds 3.2 - Também defendemos a proibição da venda de áreas na Amazônia para bancos e empresas transnacionais, que ameaçam a floresta com a sua expansão predatória (como fazem o Banco Opportunity, a Cargill e a Alcoa, entre outras empresas).
fds 4 - A Veja tem a única missão de atacar sistematicamente o MST e a organização dos camponeses da Amazônia, para esconder e defender os privilégios dos verdadeiros saqueadores das riquezas naturais.
fds fds 4.1 - Os que desmatam as florestas para o plantio de soja, eucalipto e para a pecuária extensiva no Pará não são os sem-terra. Esse tipo de exploração é uma necessidade do modelo econômico agroexportador implementado no Estado, a partir da espoliação e apropriação dos recursos naturais, baseado no latifúndio, nas madeireiras, no projeto de exportação mineral e no agronegócio.
fds 5 - Por último, gostaríamos de comunicar à sociedade brasileira que estamos construindo o primeiro assentamento Agroflorestal, com 120 famílias nos municípios de Pacajá, Breu Branco e Tucuruí, no sudeste do Estado, em uma área de 5200 hectares de floresta.
fds fds 5.1 - Nessa área, extraímos de forma auto-sustentável e garantimos renda da floresta para os trabalhadores rurais, que estão organizados de maneira a conservar a floresta e o desenvolvimento do assentamento."
 
fds

# dies lunae



Não, não foi desta vez que larguei meu mundo pela vida na Mangueira, à sombra imortal, imerso em samba, saraus, sinfonias e sagatibas.

Não, o ano sabático também não seria neste momento.

E agora, pois, já voltamos, com alguma coisa do que neste interregno escrevemos e não publicamos.

E o resto de tudo fica para a infinita posteridade.





 

domingo, 21 de março de 2010

# walkover


fdsQuando eu era pequenino, lá em Barbacena, lembro-me muito bem que no mundo esportivo infantil nada era tão vexatório (e infantil) quanto um W.O.
fdsPara nós crianças, não havia goleada que fosse mais imoral do que o não comparecimento ao jogo, seja por parte da equipe inteira -- o mais clássico walkover --, seja pela maioria dos atletas, naquela nervosa expectativa dos que aguardam a chegada do número mínimo admitido pelo regulamento.
fdsE eis que neste domingo, num campeonato profissional do maior e mais importante esporte do país, a time da cidade de Engenheiro Beltrão resolve não aparecer em Curitiba para o jogo contra o Malutrom. E, insólito, dá-se o W.O.
fdsBem, se alguém ainda tinha dúvida sobre a qualidade e os méritos deste Campeonato Paranaense e achava-o páreo para os torneios sergipano, piauiense, matogrossense ou rondoniense, agora não mais pairam tais suspeitas.
fdsAfinal, nunca um fato tão bem representou o pior campeonato regional do país.
fds
 

quarta-feira, 17 de março de 2010

# rubro-negras (iv)


fdsOs grande times investem em grandes jogadores e, pois, tem grandes resultados.
fdsA deixar para lá a falácia de "clube-empresa", que confunde a necessidade de profissionalismo na gestão (sendo indiscutível para quem e por que) com a necessidade de lucro (para quem? por quê?), os maiores clubes do Brasil (e do mundo) têm vasto elenco, têm craques e, claro, têm sempre espaço na mídia e nos primeiros lugares das tabelas.
fdsNa gestão pública, os Estados que realmente resolvem enfrentar a crise e avançar, já encontram no deficit público -- como a ala progressista ou de esquerda dos economistas sempre afirmou -- a saída para o crescimento e o desenvolvimento.
fdsEm suma, tem que gastar!
fdsE, pois, por que cargas d'água o Clube Atlético Paranaense insiste em fazer diferente, em fazer (ou desfazer) caixa, em deixar tudo redondinho como se fosse um Estado conservador ou um time-empresa?
fds

domingo, 14 de março de 2010

# amore


(...) et à force de se comporter comme un homme amoureux, il devient de nouveau un homme amoureux.
fds

 

sexta-feira, 12 de março de 2010

# meu querido diário: piu-piu...



Parece que, nestes tempos de 140 caracteres, qualquer texto que passe de dois parágrafos passa a ser considerado prolixo, difuso, longo, verboso ou fastidioso.

Porém, isso não me espanta.

Afinal, a imediatização da vida, a publicização da vida privada e a inconscientização pela brevidade com que se reflete os fatos e as fotos desta vida parecem exigir dos interlocutores uma comunicação não menos virtual, instantânea, superficial e explícita que o espaço de poucas e curtas sinapses.

Não, não trabalharei as minhas ideias, as minhas reflexões, os meus pontos-de-vista e o meu cotidiano por meio desta ferramenta que tudo arreganha, que tudo abrevia, que tudo (menos) diz e que tudo (mais) sintetiza, como se num jogral monossilabicamente robótico.

Naturalmente, não serei... "sintético".

E, muito menos, farei da minha vida um colegial diário pessoal.

Mas não apenas por não querer, e sim, especialmente, por não ser capaz de fazê-lo.


 

terça-feira, 9 de março de 2010

# rubro-negras (iii)

fds"Estamos há 11 jogos sem perder. Então falaram em pressão do conselho, como sempre dizem".
fdsAssim Antônio Lopes resumiu a sua demissão do comando do Clube Atlético Paranaense, decidida na madrugada desta terça-feira pela Diretoria do clube, dois dias depois do empate em casa contra os coxas, líderes.
fdsMas, neste depoimento, Lopes não foi tão sincero quanto deveria ser, afinal, está muito claro o que se passou na conversa desta segunda-feira entre o treinador e a diretoria.
fdsA diretoria deve ter vindo tirar satisfações sobre a postura do time, e o Delegado, como não poderia deixar de ser, retrucou, a dizer que com aquele elenco e com aqueles jogadores, e diante de um time melhor -- como é o do Coritiba --, não poderia jogar de outra maneira, a não ser recuado, mesmo em casa.
fdsE mais. Deve ter, mais uma vez, cobrado por jogadores de qualidade, que resolvessem os jogos e que permitissem a ele montar um esquema diferente e menos defensivo.
fdsDeve ter falado do desmanche de meio-time do ano passado e deve ter explicado que um time com jogadores ruins não se arma de outra forma e nem se monta do dia pra noite. Neste momento, deve ter resmungado que na base do time é obrigado a ter Chico e Netinho e que já estava há dois meses sem o craque e cérebro da equipe, Paulo Baier, lesionado.
fdsAinda, deve ter pedido explicações sobre a grana ganha na venda de alguns jogadores, sobre a grana economizada com a dispensa de tantas peças podres ou inúteis e sobre a grande grana faturada com os sócios-torcedores. E deve ter pedido para se gastar esse dinheiro em 2 ou 3 jogadores diferenciados.
fdsAcredito, também, que deva ter sido irônico e ficado revoltado quando a Diretoria quis falar dos jogadores contratados: os dois bizarros colombianos, os toscos garotos trazidos sabe-se-lá daonde e coisas como Gerônimo.
fdsSem pestanejar, deve ter dito que não adianta criar factóides e iludir a torcida com um título paranaense ou com ex-jogadores como Alex Mineiro e Clayton.
fdsAntes de acabar, deve também ter falado que mesmo assim estava há 11 jogos sem perder e que era folgado vice-líder do campeonato, mesmo tendo como foco a preparação para o Brasileirão.
fdsE, por fim, deve ter dito que por mais que tentasse, inventasse, errasse, testasse e escolhesse, ele não era alquimista. E deve ter comentado que se continuasse com aquele plantel, composto por um fraquíssimo material humano, o Atlético teria muitas dificuldades para não cair.
fdsEm suma, Antônio Lopes deve ter dito todas as verdades que a Diretoria não queria ouvir, mas que a torcida já cansava de falar.
fdsE por isso ele caiu.
fds

sexta-feira, 5 de março de 2010

# harries potters



fdsQuatro cavalheiros amigos, sentados cada qual nos extremos e no centro-sul do Brasil, dedicam-se a discutir uma fantástica aventura.
fdsUm deles, ao Norte, a misturar êxtase e desespero, lança a primeira carta eletrônica.
fdsUm outro, ao Sul, a acalentar, oferece uma solução, uma saída, uma mão amiga em sua resposta.
fdsO terceiro, ao norte da região sul, comenta a iminente saga na conquista material do obscuro objeto de desejo.
fdsE, como epígrafe, a sugestão dada pelo quarto elemento, com os olhos vendados e a empunhar balança e espada, já à guisa de fechar as correspondências.
fds
dfs
Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu
que era a garantia
do exercício da possibilidade.
Esse homem chamava-se Galli Mathias. Comi-o.
(Oswald de Andrade, Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha -Revista de Antropofagia, ano 1, n° 1, 1928)


ATO 1 - DJANGOU E O CILINDRO FILOSOFAL

fds Coisa de 6 da manhã, dura como uma pedra, a remela incomodava o merecido sono deste semicristão. Acordei a contragosto, limpei a remela com o plumoso rabo da Doroteia, minha jaguatirica de estimação. Desci da árvore e, como de costume, fui direto pra cozinha. Lancei dois bifes de carne de sucuri na frigideira, estalei cinco ovos de tartaruga e desfrutei de um frugal desayuno. Flatos acusavam a indesejada hora de descomer. Subi de novo na árvore. Bela sinfonia na floresta, em harmonia plena com a flatulência. Deus deve existir sim, pensei.
fds Lá estava eu, obrando, em posição inglória, quando, de súbito, vejo o espectro familiar no horizonte amazônico. Sim, era ela, Dona Onça. A rainha das selvas trazia, preso em sua bocarra, objeto curioso de forma cilíndrica. Antes que a inquirisse, ela ripostou: "É de Azkaban, meu fi!".
fds Comemorou dizendo que a encomenda saíra de sua origem em setembro de 2008. "E ainda ousam dizer que as coisas são devagar aqui na jungle", asseverou ela franzindo a testa, ato último antes de se virar e arrematar:
"Duvido que aqueles teus amigos receberam o deles mais rápido".fds Dentro do cilindro tinha o diploma de um tal de Ivlianvs, sujeito que desconfio conhecer. Provável termos nos cruzado nos corredores coimbrãs, ou mesmo dividido um abatanado na época em que os euros eram poucos.
fds Sempre altruístico, penso em ajudar o tal Ivlianvs a reconhecer seu diploma em universidade brasileña.fds
O que sugerem? Os Srs. Drs. procederam como nesta aventura?


ATO 2 - DJANGOU E O ENIGMA DO DIPLOMA

fdsIulianus,fsdDemorou esse diploma...fdsO meu até está reconhecido, só perdi para o Z. que deve ter feito uma funcionária feliz. Bom, amigo é para essas coisas...fds
"Sacrifícius" de lado, o meu foi revalidado na fantástica fábrica de sonho "Unisonhos". Como eles têm ou tinham convênio com Azkaban não tinha erro, certo que seria deferido o pedido.
fds Abraço,


ATO 3 -
DJANGOU E O PRISIONEIRO DE COIMBRA

fds Sem saber para onde mais correr, o russo Ivlianvs e Dorothea, sua concubina, decidem fugir da masmorra coimbrã e, ingressos no buraco aliceano, acabam por sair ao norte de Pindorama, em plena selva amazônica, onde resolvem se esconder
.
fds Lá encontram Djangou e Doroteia, sua jaguatirica, cujo quarteto, dentre outras coisas, se esbalda em discussões sócio-político-físico-quântico-antropológico-jurídicas.
fds Entre um gole e outro de ayahuasca, o texto "A decisão judicial como voluntas ou o 'desempenho eliminatório' das críticas racionais. Do diferendo entre os diversos discursos da(s) ciência(s) à explosão dos saberes, da organização pragmático-instrumental ao compromisso político: a impossibilidade do problema metodológico ou a 'morte do Direito'" embala-os, até que Dorothea, então a se mostrar incomodada não apenas com a aparência grega da obra, retira do ânus um grande canudo dourado, todo gravado em alto relevo e de extrema relume, quase cegante.
fds A perceber empolgado o que ele continha, Djangou cutuca os pelos da orelha direita, coça a branca pança e pisca para Doroteia, que percebe a subliminar ordem para comer o casal russo. E "consummatum est”.
fds Agora o nosso eremita herói amazônico finalmente tinha o mapa. Faltava-lhe apenas a Mina. Não mais. Mesmo sem ter cabelos (cabeça, tronco e membros) da hora, ela surge, virtualmente, como se um espectro meio andrógeno, meio mutante, que, de forma oracular, diz: "Vinde a Pelotas!".fds E mesmo depois de ter se transformado num tucano, Djangou sabe que doravante nunca mais será o mesmo. Djangou será um mestre.

fds

quinta-feira, 4 de março de 2010

# zé xede


Ele trabalhava (quase) ao lado de um ser "com dorso duro e inúmeras patas".
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Mais do que isso, avizinhava-se de um ser vil (e, claro, nunca um servidor).

E assim ele tinha, cotidianamente, por detrás do muro baixo, o ar de um idiota de dorso duro e inúmeras patas, cuja estupidez era quase extrema, a ignorância pulsante, a utilidade quase nula e o caráter inexistente.

Em suma, era uma espécie típica daquela raça, que parece ainda longe da extinção.

Era invejável e incrível como a besta não sabia de nada.

Não dominava uma única ciência, e, mal-e-mal, conseguia escrever a língua-mãe.

Porém, não poderia ser injusto: a sua madre superiora gostava de, nas entrelinhas, dizer que ninguém carregava tão bem as malas e ninguém pedia tão bem uma carona.

Era uma chefe contida, via-se.

Na verdade, ninguém sabia tanto como puxar um saco, como passar um tempo à toa e como fazer arranjos escatofágicos. 

Afora isso, fazia o ócio, puro, não criativo.

E neste ritmo agradava a maioria daqueles que colambiam as sobras dos frutos proibidos e desagradava aqueles que não tinham o direito de desgostar.
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E, entre os momentos em que não fazia nada, dissimulava a participação em convenções intergalácticas -- vez que, senão o silêncio, os comentários eram extraterrenos -- e passava horas e horas entretido com a sua anteninha, falando num daqueles tons asquerosos de quem fuxica, pensando ser inescutável

Mas nem isso percebia.
f
Assim, além do peculiar cheiro, todos em volta também percebiam o teor dos assuntos de que tratava: futilidades e outras coisas típicas de ungulados hermafroditas, conforme ensina a literatura.

Entre discutir o uso do tênis de jacaré do filhote, pedir favores imorais, combinar arranjos carnais e encomendar bolos para os banquetes vicinais, o dito cujo pensava-se, além de inodoro, invisível.

Mas não, isso não.

Parecia, na verdade, um novo tipo de fantasma: um pestilencial e fedido fantasma em carne-e-osso, daqueles que, quase microscopicamente e com nenhuma alegria, costumam assustar nos trens-de-terror.

Era, vê-se, um dia a dia de show, mas de horrores.

E ele, na expectativa de pôr fim à assombração de carne e osso, não via a hora de, um dia, ver a criatura isolada num canto e então poder usar a ponta fina do seu sapato novo, para a própria alegria e para a felicidade geral da nação.

Sim, ele seria um herói ao esmagar aquele verme mal-cheiroso.

Um verme muito abaixo de um zé ninguém.




quarta-feira, 3 de março de 2010

# caminho do golpe


fdsComo funciona a máfia midiática no Brasil (v. aqui):
fds1) Na Sexta-Feira sai a VEJA, com uma golpista manchete, impactante e desestabilizadora, seja ou não requentada, invariavelmente inventada e sempre ultradimensionada;
fds2) No Sábado, o "JORNAL NACIONAL" repercute a matéria, com reportagens pseudo-científica e atônitas caras&bocas dos seus apresentadores;
fds3) No Domingo, os três jornalões nacionais -- FOLHA, ESTADÃO e O GLOBO -- dedicam capa, contracapa, encarte e os primeiros cadernos para a "bomba"; e,
fds4) Na Segunda-Feira, a tropa da direita -- demos e tucanos, especialmente -- sobe às tribunas da Câmara e do Senado -- com amplo apoio midiático -- para garantir a máxima repercussão do caos.

fdsE assim a burguesia e a grande classe média conservadora brasileiras mantém-se devidamente abastecidas das "informações" necessárias para continuar dependente, cega e burra.
fds

terça-feira, 2 de março de 2010

# status ante


"Estatização" era coisa de quem comia criancinha.

Agora, é a saída para a salvação da saúde dos estadunidenses, para a recuperação dos bancos europeus e japoneses, para a sobrevivência das indústrias extrativas latinas e asiáticas, para a eficácia dos serviços de banda larga no Brasil...