domingo, 30 de junho de 2013

# um gigante

 
A minha primeira imagem de futebol também foi com a seleção brasileira, em 1982.
 
Lembro-me que, indignado, não entendia a derrota para aquele time azul e o fim da Copa para nós.
 
Arranquei-me da camisa amarelinha, flertei em desbordar o número 8 às costas e disse que nunca mais iria torcer.
 
Até que bem me recordo do meu velho Bigode, vindo até mim na garagem de nossa antiga casa em Curitiba, puxando-me pelo braço e, já comigo no colo, explicando para alguém de 6 anos o que foi aquilo tudo.
 
Dentre outras coisas, confessou-me que Sócrates não iria gostar de me ver ali, triste e sem a camisa – já largada no chão e misturada ao caldo da sujeira de uma festa que não houve.
 
E a notícia dada rapidamente me recompôs da raiva e das lágrimas.
 
Tive, ali, como parte integrante da frustração coletiva nacional, a minha primeira lição da derrota e do que para nós representa o belo e rude esporte bretão.
 
Mas não foi apenas este o retrato que guardo do meu primeiro jogo da nossa seleção.
 
Viva na memória está toda a preparação decorativa, todos os rituais, todos os quitutes, todas as garrafas de cerveja e de gasosa e toda aquela gente que sem parar chegava para o grande evento.
 
Era a Casa cheia, prenúncio e desculpa para uma grande festa, como de praxe toda família de oriundi gosta de fazer.
 
O agito, o barulho, os suspiros, os gritos, as fantasias, os risos, os comentários de toda sorte e de todo azar.
 
E eu, um minúsculo torcedor, a zanzar em frente à tv num ritmo enebriante, achava tudo aquilo o máximo.
 
E passava a achar o futebol o máximo.
 
E passava a achar o máximo ver toda aquela gente amiga e querida junto, aos berros e aos nervos.
 
Éramos uma multidão, que fazia daquela nossa sala o maior estádio do mundo.
 
E foi neste domingo, numa apoteótica amostra de um possível resgate do futebol brasileiro, que toda esta história me veio à mente.
 
Não era a Copa, mas tinha ares de um jogo que parecia querer buscar a nossa redenção como donos da bola.
 
Mas aqui, longe neste Rio de Janeiro, a casa agora era menos cheia.
 
Distante daquela minha gente, a sala já não espumava agitação, barulho, suspiros, gritos, risos e comentários.
 
Neste domingo, para ver o massacre do Brasil contra a melhor seleção do mundo, tive a companhia solitária de um minúsculo cara.
 
Um cara ainda mais minúsculo do que aquele que, em junho de 82, saracoteava do colo ao congote do meu pai.
 
E agora o colo era o meu, e ele não era simplesmente alguém que ainda não vestia uma camisa 8, que ainda não sabia o nome do nosso camisa dez, que ainda não sabia falar “Brasil”, que ainda não sabia o que é um juizfilhodaputa ou uma kaiserbock ou um grito "vâmoquevaidá" e que ainda não sabia sequer zanzar aqui, zanzar acolá...
 
Mais ainda, era alguém que, na viveza dos seus oito meses, nunca se lembrará daquele dia e do que ali se passou, tão-pouco que ali seria a sua primeira ideia visual de futebol.
 
Mas, na verdade, nada disso importou.
 
Porque este alguém, no jeito dele, conseguiu me fazer a amada companhia que precisava.
 
Neste domingo, o Benjamin foi o meu Maracanã.
 
 
 

sexta-feira, 28 de junho de 2013

# imunizados


É claro que a Espanha não é o Barcelona, e não só por não ter o gênio Messi ao lado.

E isto fica ainda mais claro quando os jogadores espanhóis que não são do escrete catalão pegam na bola, quando então a Espanha parece mostrar ser difícil lidar com o conflito interno entre a turma da terra de Gaudí e o resto, ainda não tão adepto e adaptado com o jeito de ser daquele futebol de dois-toques, de por na roda e de mandar no jogo, dando a impressão de que, a qualquer momento, desdourará o convívio fraterno entre cains e abéis.

Mas não é só isso.

O corte epistemológico deste futebol barcelonista, ocorrido com o banho alemão da semifinal na Champions League deste ano, serviu para o resto do mundo entender como (tentar) jogar contra aquele estilo, absolutamente espetacular e que há tanto tempo admiro (v. aquiaqui).

Como fez o Bayern, a Itália abriu mão de reduzir a posse de bola dos espanhóis, mas a tornou estéril, dispondo-se muito bem estruturada no seu clássico catenaccio – sim, a Itália jamais deve abrir mão de jogar no seu jeito historicamente vitorioso –, com um meio-campo coeso e entupido de azul, responsável por manter os ibéricos mofando num tiki-taka da sua intermediária para trás.

Embora não tenha uma composição ofensiva nem parecida com o do Bayern, a Itália ainda inovou no seu sistema de jogo para, com razoável frequência, avançar muito os seus laterais – que em regra não ousam largar a linha de cinco defensiva, surpreendendo assim o lado esquerdo espanhol, que ataca muito com Jordi Alba e em cuja vazia retaguarda Pirlo e De Rossi viam largos espaços para lançamentos –, e investir com insistentes diagonais nas costas do próprio miolo defensivo espanhol, caracterizado por uma desencontrada e rivalizada dupla de zagueiros (mezzo Barça, mezzo Real) e pela proteção espartana de Busquets (ainda que seja o maior volante do planeta).

Não acredito e não desejo o fim desta forma de jogo do Barcelona, em termos copiada pela Espanha e que encanta parte do mundo.

Mas, de novo ontem, vimos que o antídoto para este estilo – que expressa literalmente o futebol associado e coletivo, que tem a bola como sua  e que parece querer e poder ganhar a hora que bem entender – não é dos mais difíceis de serem colocados em prática.

Não se trata de uma solução mágica, tão-pouco covarde ou desleal, mas uma linha de 3 ou 4 zagueiros e um meio-campo compacto, com 5 jogadores marcando entre as duas intermediárias, parece ser a forma de tornar inútil o toque e a posse de bola espanhola, que assim passa a jogar como se criasse o paradoxo da “retranca ofensiva”, com milhões de inglórios passes laterais lá atrás, no seu campo, sem perigo e sem destino, tamanha a dificuldade de achar espaços e, em especial, tamanha a intransigência de querer se aventurar à frente e arriscar perder o domínio do jogo.

Porém, não é fazer como fez, de modo ridículo, o Chelsea, naquela semifinal europeia de 2012, com 10 jogadores trancados e retrancados, dando chutão a toda hora e explorando de vez em quando uma tímida corrida em contra-ataque. Tudo bem, deu certo, mas e aí? Seria esta uma forma minimante louvável e consistente de tratar o rude esporte bretão e enfrentar o problema? E a honra? E a dignidade?

Ora, Bayern e Itália mostraram que podem controlar o ímpeto soberano dos espanhóis e, com a bola, jogar futebol e fazer o jogo fluir, em especial abusando das brechas nas costas dos laterais e do bloco defensivo espanhol, que, por avançarem muito ou marcarem bem à frente, jogam bastante adiantados.

E domingo, o Brasil poderá fazer isso?

Pelos laterais e avançados que tem, sim.

Só faltaria trazer para o jogo algum dos nossos camisas 8 de outrora, aqueles grandes meio-armadores que produzíamos aos montes e que, pensando o jogo à frente dos zagueiros e do volante, ditavam e controlavam o ritmo do jogo, passando e lançando como, quando e onde bem queriam – tal qual Pirlo, Xavi e Schweinsteiger fazem hoje, para encher os nossos olhos de inveja.


quinta-feira, 27 de junho de 2013

# só agora, josé?


Urbi et orbi, acompanhamos as insistentes manifestações anti-Copa do Mundo.

E confesso não entender se tudo isso é mera faísca atrasada da população, se é uma frustração reprimida qualquer ou se é mesmo a descoberta tardia de que, ingenuamente, acreditou em duendes, chapeleiros malucos e fadas madrinhas.

Mesmo sabendo que tudo funcionará e que o evento se sairá bem, considero a ideia da Copa a pior herança do histórico Governo Lula.

Mas, lá atrás, a maioria  seja da situação, da oposição ou do morno muro , fascinava-se com a coisa. Ora, e por que só agora há uma generalizada revolta contra o negócio? Não era óbvia a furada? Não era um certo e deslumbrado despropósito?

Vejamos: uma pessoa que deve dinheiro e que não tem estrutura e nem recursos para manter-se nas condições essenciais e básicas de vida ou para pagar os seus credores, teria o direito de fazer uma grandiosa festa de final de ano, ainda que prometesse dela retirar fundos para cumprir com suas obrigações principais? E, no nosso caso, um país que deve (e não tem) estrutura e nem dinheiro para investir, por completo, em políticas públicas fundamentais segurança, educação, moradia e saúde , teria o direito de realizar o grandes (e ostentosos, e pomposos, e perfumados) eventos esportivos deste tipo?

Ora, por que à época todo o povo e toda a gente, por todos os cantos e bocas, babava de tezão pela Copa no Brasil? Por qual razão, em todas as rodas, redes e rastapés, era uníssona a voz que achava o máximo a realização dos Jogos? E por que, de repente, não mais que de repente, todos veem que a coisa não é de provocar delírios e gozos múltiplos?

Passado o prazo, e com a ópera bufa já em cartaz, agora estamos a pagar o pato por aquela patriótica apatia.

Por isso, já neste ano da graça de 2013 às portas do maior evento esportivo do planeta , repetimos, na íntegra, o que aqui escrevemos, ainda em 2009...


# conto da carochinha

Insistiram para que eu entrasse no concurso de contos promovido pelo Governo estadual. Porém, preferi contar este mais outro conto da carochinha nacional. Não é inédito, não é cômico, mas sim trágico e repetitivo: o anúncio das cidades que sediarão os jogos da Copa do Mundo de 2014 e o grande erro que se está a cometer na aplicação do dinheiro público.

Quem é a favor dos jogos? O povo, que, perdoa-o, nestes assuntos não sabe o que fala.

Quem mais? A elite nativa, que, sem mais perdão, quer arrombar e sangrar os cofres públicos, como de praxe.

A quem interessa os jogos? Aos políticos de plantão, que querem com tal anúncio e com a preparação não queimar o filme perante o povo e ter paz no espaço midiático – no Paraná, foi o que o Governador Requião foi obrigado a fazer: sempre disse ser contra a Copa no Brasil, mas teve que se render, com receio de que meio-mundo culpasse-o por Curitiba ficar de fora.

A quem mais? Ainda àquela mesma elite, que fará (ainda mais) fortuna às custas do erário, pois, é notório, nos últimos 360 dias para a Copa o orçamento inicial multiplicar-se-á por 5 e haverá uma avalanche de contratos emergenciais, prorrogados ou com licitação dispensada, justificados pela “urgência” e contratados a preços megafaturados.

A maior balela é a de que não haverá dinheiro público em tudo isso. Tudo, alegam, virá de dinheiro privado e de recursos externos. Espúria mentira!
A dimensão dessa competição e as enormes demandas que geram, em termos de infra-estrutura, instalações, segurança, financiamento e mobilização acabam fazendo com que o setor público tenha que assumir responsabilidades (desmedidas) por sua realização.

Esse mecanismo de transferência de responsabilidades revelou-se duplamente danoso.

Por um lado, a necessidade de preservar a imagem do País obrigou a União a assumir gastos sempre que necessário. Essa percepção de segurança garantida pelo aporte de recursos federais pode ter retirado dos outros entes a dedicação necessária em alocar parcela de seus orçamentos ao empreendimento, agravando o fenômeno.

De outra parte, a assunção dos compromissos de um ente por outro geralmente ocorreu com perda de tempo precioso ou gerou situações inadequadas do ponto de vista do controle do gasto público, como o repasse de recurso para obras em curso ou já executadas.

Será que o Pan já não serviu como lição? O que a população do Rio ganhou com a realização dos jogos, afora os lúdicos 30 dias de festa pelas ruas? O que de substancial (“infra-estrutura”) se gastou no Rio de Janeiro? Melhorou o sistema viário e de transportes? Humanizou-se as favelas? Recuperou-se a segurança pública?

Ora, nada disso aconteceu. Por quê? Porque o dinheiro é aplicado contingencialmente e é mal aplicado, posto que às pressas, no escurinho do cinema, em coisas indevidas e chupando drops de caviar beluga.

No Acórdão 2101/2008 do Tribunal de Contas da União (TCU), que avaliou e decidiu sobre o relatório final das ações e obras públicas realizadas para os Jogos Pan-Americanos de 2007, o Ministro Relator assim diz: “[t]alvez a infra-estrutura urbana tenha sido a área que menos benefícios obteve a partir da realização dos Jogos (...) Nenhuma obra de relevância foi planejada ou realizada na cidade do Rio de Janeiro em decorrência do evento. Ao contrário, algumas iniciativas de intervenções viárias, imaginadas a partir da candidatura da cidade à sede dos Jogos Olímpicos de 2012, e que acabaram sendo carreadas nos planos para os Jogos Pan-americanos, foram arquivadas sem que ao menos fossem iniciadas (...) A infra-estrutura de transportes do Rio de Janeiro foi criticada pelo comitê técnico do COI para a seleção da sede das Olimpíadas de 2016, e recebeu as menores notas entre as quatro cidades candidatas aprovadas”.

Sinceramente, quem foi que nos disse que é melhor se gastar com grandes pistas de ciclismo, magnânimos campos de hóquei, explêndidos centros de hipismo e estupendos ginásios de tênis de mesa ao invés de se investir em hospitais, escolas e polícia? Ora, neste caso não vale o argumento de que “um não elimina o outro”, pois nos encontramos numa situação de "public choice", cujos recursos, porque limitados, devem nestes casos serem aplicados correta e alternativamente. Neste ponto, não são raros aqueles que prefiram a aplicação do dinheiro público em saúde, educação e segurança ao invés de ser despejado na construção de babilônicos templos de futebol e nas centenas de obrigações desmedidas, absurdas e caríssimas que a FIFA e seus parceiros impõem.

Sinceramente, a quem interessa dispender dezenas de bilhões de dólares em novos (?) estádios de futebol? Para quê? A Arena da Baixada é um puta estádio, o melhor e mais moderno do país, conforto extremo etc., mas para que se gastasr todo este dinheiro para simplesmente adaptá-lo às exigências internacionais? Por que Recife e Fortaleza -- excluo Salvador, pois parece que a Fonte Nova não tem mais jeito... -- hão de gastar bilhões de dólares em novos estádios se a pobreza e a violência imperam pelas ruas? E o que falar de Cuiabá, Manaus, Natal e Brasília, com seus mamutes brancos que terão por fim shows de forrós sertanejos e calipsos?

Tolice dizer que se adiantariam investimentos em infra-estrutura. Ora, ninguém no comando deste país é criança que precisa de algum estímulo para ser aprovado. Basta planejamento. Simples. E que se cobre por isso, principalmente a imprensa e a sociedade civil – essa iludida por aquela –, que tanto cobravam de cada um dos governantes das cidades-candidatas para que levassem a Copa para casa (v. aqui).

A ilustração mais clara de como funciona essa falta de planejamento em condições cuja conclusão não pode ser prorrogada advém de um evento relacionado à área de segurança dos Jogos Pan-Americanos. O sistema de credenciamento e acesso às instalações físicas dos Jogos foi definido e contratado antes que todos os órgãos responsáveis pela função de segurança pudessem opinar sobre seu desenho. Assim, em momento posterior, deliberou-se modificar a estrutura de controle de acesso físico com o intuito de garantir uma segurança mais rígida para as áreas restritas dos Jogos. O desenvolvimento do sistema de credenciamento previsto no contrato original estava orçado em R$ 55.595,56. A alteração solicitada custou aos cofres públicos R$ 26.700.000,00 (v. no relatório do TCU, aqui).

Outrossim, imagine-se outro tão supérfluo gasto, como os mencionados em estádios: vigilância internacional contra o terrorismo. O que ganhará um país pacífico como o Brasil em dispender milhões de dólares na proteção de milhões de atletas, autoridades e estrangeiros? Não seria muito melhor com esse dinheiro oferecer moradia e terra a tantos dos nossos favelados e sem-terra e com isso mitigar a violência interna?

Nas ruas, a golpista imprensa vem com a enfadonha pergunta: “Você gostaria de ver a Copa no Brasil?”. Ora, essa pergunta é cretina. Seria o mesmo que perguntar: “Você gostaria de ver a paz no mundo?". É claro que 90% das pessoas respondem “sim” às duas perguntas, afinal, quem não gostaria de ver os maiores jogadores do mundo a jogar em seu país, em sua cidade? Quem não gostaria de ver e encontrar pessoas do mundo todo, espalhadas pelas nossas ruas, bares e praças? Todavia, o que essa mídia não quer esclarecer e mostrar é o outro lado disso tudo.

Nas primeiras lições de Economia se aprende que, virtualmente, todos os gastos ou alocações têm um “custo de oportunidade”. E é isso que entra em jogo, seja o dinheiro público - o que é bem pior - ou privado.

Logo, a pergunta correta seria: "Se o seu Estado ou o seu Município tivesse que, nos pŕoximos 4 anos, gastar um adicional de R$ 5 bilhões do seu orçamento, em quais destes projetos ou ações públicas você preferiria vê-lo gasto ou alocado: (a) na Copa de 2014; (b) nos sistema viário e de transporte público, das mais diversas formas; (c) em segurança pública, das mais diversas formas; (d) no ensino fundamental e médio, das mais diversas formas; (e) no meio ambiente, das mais diversas formas”.

A escolha prioritária da lista certamente mereceria uma maior reflexão por parte da massa votante. A voluntariedade na opinião deveria passar pelas tantas privações diárias e a decisão lúdica de se querer uma Copa do Mundo no quintal de casa cederia espaço pela vontade concreta de se ter garantido um banco na escola, um leito no hospital e um policial nas ruas.

Assim, mais uma vez, munidos de pesquisas e estudos de impacto econômico, os donos do poder tentam mostrar um coisa que, na realidade, se mostrará outra. Sempre gostam de dar dois exemplos para os “grandes benefícios” que albergar os maiores eventos esportivos do mundo trazem: Barcelona e Pequim, nas Olimpíadas. No primeiro caso, é inegável que o evento deu muito reconhecimento à cidade. Mas será que não poderia ter feito coisas muito melhores pelo mesmo valor gasto com os Jogos? Certamente, sim. A Olimpíada não pode servir de desculpa para melhorar uma cidade. No caso da China, há uma grande peculiaridade: mostrar ao mundo, vasto mundo, que, além de não comer criancinha, os comunistas governam um grande país. Sim, o grande mote com os Jogos foi revelar aos conservadores e aos (pseudo)democratas de plantão com quantos pauzinhos se faz uma República, comandada por um partido único, o Partido Comunista. E o mundo ficou surpreso em ver como funciona o país, futura maior potência mundial. Sim, os comunistas quiseram pagar esse preço.

Enfim, ao contrário do que se tem noticiado por aí, a conclusão a que todos os estudiosos - aqueles, frise-se, que não visam ao lucro fácil dos jogos - chegam é a mesma: nem as receitas imediatas nem aquele benefícios a longo prazo chegam perto de cumprir as expectativas promovidas pelos businessmen de plantão (v. observação abaixo).

Em suma, o bilionário gasto público vai para um ralo, a resultar em investimentos públicos paupérrimos, numa situação que nem na Patópolis do Tio Patinhas se aguentaria.

P.S. Em artigo científico publicado na prestigiada “World Economics” (v. aqui), o economista londrino Stefan Szymanski dispõe de uma quadro fruto de uma pesquisa que coletou dados dos vinte países mais desenvolvidos do mundo, a fim de ter a exata noção do impacto e dos efeitos que ser sede de um dos maiores eventos esportivos do mundo (Copa e Olimpíadas) têm no desenvolvimento nacional – e, note-se, a maioria dos países desta lista sediaram pelo menos dois destes eventos.
 

Tabela 1: O impacto no crescimento econômico de ser sede dos maiores eventos

Efeitofdsfdsfdsfdsfdsfdsfdsfds Impacto na Taxa de Crescimento Econômico
No ano anterior à Copa fdsfdsfdsfdsfdsfdsfdsfds + 0.218
No ano da Copa fdsfdsfdsfdsfdsfdsfdsfdsfdsf ds – 2.353
No ano seguinte à Copa fdsfdsfdsfdsfdsfdsfdss   – 0.099
No ano anterior às Olimpíadas fdsfdsfdsfd  sfdds + 0.415
No ano das Olimpíadas fdsfdsfdsfdsfdsfdsfdsfds + 1.190
No ano seguinte às Olimpíadas fdsfdsfdsfdsfd      – 0.640


terça-feira, 25 de junho de 2013

# pontos nos is


Diante dos tantos emails recebidos, a questionar e a confundir algumas das nossas posições sobre os últimos acontecimentos e a nossa bula (v. aqui), vamos por partes, à la Jack, the Ripper.

1) Léguas de mim a idéia de que sou contra o povo nas ruas. Sou, na verdade, extremamente favorável à efetiva e direta participação popular no debate dos problemas concretos do país. E não à toa, quem caminha à margem esquerda do rio é quem, historicamente, mais costuma se mobilizar e se mostrar presente em movimentos deste tipo – embora, claro, não detenha o monopólio do grito cívico e social. Portanto, quero sim falar, discutir e resolver o problema A, a questão B, a emenda C, a lei D, o gasto F, o investimento G, os recursos H...

2) Porém, sou contra a ida às ruas sem uma proposta definida, sem um tom certo de posição e sem reivindicações objetivas e concretas. O oba-oba de que tudo está ruim, a inocência de clamar “paz”, ou “chega da corrupção”, ou “político só rouba”, ou "o gigante acordou", ou "ame-o ou deixe-o", a meiguice de levantar vozes e cartazes por temas lúdicos e metafísicos, a inutilidade de se propor idéias abstratas e difusas sobre saúde, segurança e educação, o narcizismo espetacular de querer aparecer na tv e em redes sociais, de entrar na onda da galera e de fazer parte do clima da moda pseudodemocrática, e a infantilismo de se dizer apartidário, apolítico ou outro não-conceito escoteiro qualquer, são atitudes, para mim, no mínimo tolas.

3) Além de tolas, são vazias de sentido. E como não há vácuo em política, mostram-se muito suscetíveis de serem adotadas pelo outro lado da força, com orientação e fim absolutamente diferentes de qualquer sentido social e democrático.

4) O Brasil está mudando, está se transformando. Se desprovidos do ranço egocêntrico, preconceitual ou oposicionista, os avanços são mundo afora visíveis. E por isso não quero um retrocesso sócio-econômico. E por isso não quer retroceder politicamente. E por isso não admito que corramos o risco de voltar às trevas neoliberais e de rever a turma da casa-grande nos domínios da nação.

5) A quem interessava – como a própria grande mídia, percebeu e se empolgou – ver milhões nas ruas reivindicando coisas difusas e poéticas, combatendo o Estado e tudo o que o cerca, se manifestando contra a política e os políticos em geral e dizendo que o povo não quer e não precisa de partido, de movimentos sociais e de organizações civis?

6) Ora, por mais que uma ou outra pequena coisa fique limitada nas políticas municipal e estadual (passagens de ônibus, por exemplo), é lógico que o grande alvo e a maior exposição em tudo está no âmbito federal, ou seja, é no colo do Governo Federal que tudo desemboca. Logo, quem poderia sair mais prejudicada nisso tudo? 

7) E não foi por outra razão que Globo & Cia – sempre a serviço dos “donos do poder” (Raymundo Faoro), é claro – perceberam que ali tinham outra grande chance de desestabilizar e detonar Dilma e seu Governo, mostrando, quase 24 horas no ar, que todo o povo estava achando tudo uma merda, que todo o povo estava achando tudo deste Governo uma bosta, que todo o povo estava cansando de ser fudido e roubado por esta gente da Dilma e do PT. Afinal, é nesta toada que a Globo & Cia sacodem-se, esculachando a Política e os políticos para assim desqualificarem o povo e a soberania popular – assim como as nossas elites, que não suportam ver pobre votar –, únicos legítimos nas verdadeiras democracias.

8) E, com tal propósito, dá-lhe pressão nas ruas. E dá-lhe reprimir bandeiras vermelhas, camisetas vermelhas, boinas vermelhas, ceroulas vermelhas, culottes vermelhas, peles-vermelhas, e até o sangue vermelho. E dá-lhe mostrar para ao mundo que não temos partido, que não temos lado e que não temos interesse político nenhum. Bobagem, meus caros.

9) Bobagem que só não se tornou um golpe 2.0 – sim, promovido por aqueles que sabem não ser mais possível o uso de milicos, mas que bem sabem haver formas modernas de tomar o poder à revelia do povo – por duas razões fundamentais (afora, claro, a decisão das prefeituras de anularem o aumento dos preços do transporte público, ponto nascente das passeatas).

10) Primeiro, pela crescente turma marginal e delinquente que apareceu, o que fez espantar a grande maioria dos jovens piás de prédio pintados de arara-azul e que até então "curtiam" on-line a micareta cívica, e, ato contínuo, fez frustrar a própria empolgação da grande mídia, a qual não mais podia esconder o quebra-quebra generalizado e continuar convocando, candidamente, o povo para as ruas.

11) Depois, graças ao estratégico e cirúrgico pronunciamento da Presidenta da República, comportando-se como verdadeira Chefe de Estado e dizendo a toda a população: “Vocês são queridos, viva o Brasil... mas, deixa comigo que eu mando e resolvo isso aqui!” (v. aqui). O que fez a grande maioria se acalmar, voltar para casa e para a rotina, afinal, não à toa quase 80% da população acredita nela e no seu governo, com um conceito que, segundo todas as pesquisas que aparecem, varia do "ótimo" ao "regular", razão pela qual viram-se, por ora, satisfeitos com o que ouviram.

12) Portanto, não fui e jamais irei pra rua à toa. Minha cabeça não é de aluguel, não me deslumbro com as vitrines virtuais das redes sociais e não sou sadomasoquista político ou engraxate da opinião publicada.

13) Afinal, como tanta e tanta gente, também quero mais mudanças e não tolero maus-feitos com a causa e o dinheiro públicos. E é justamente por isso que estou com Dilma e não com aquele povo biruta das ruas.

 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

# barões a nu


Em Curitiba, o transporte coletivo se tornou um problemaço: afamado o melhor do Brasil, hoje dá dó.
 
Mentira, engodo publicitário de décadas, fruto de uma dinheirama desenfreada em propaganda Brasil afora que faz o mundo pensar que a nossa cidade é um oásis tropicaliente, ou um reino encantado de araucárias.
 
Agora, diante dos últimos acontecimentos, o assunto “ônibus” voltou à minha pauta (v. aqui) e às manchetes.
 
Porém, o assunto veio pela metade, pois dá ares de não querer discutir o verdadeiro problema, ou seja, como chegamos a este estado de coisas e as razões pelas quais em todas as cidades do país – inclusive, claro, Curitiba – o transporte público é tão abjeto e caro.
 
O baronato de pseudo-empresários do transporte urbano, fruto de arranjos mafiosos em cujo ramo exclusivas famílias reinam há décadas (v. aqui), aproveita-se da incompetência ou da improbidade de gestores públicos para com isso fazer fortuna fácil e duradoura e ser destaque em colunas sociais, countries clubs e chás beneficentes país afora.
 
Ora, o negócio não é tão complexo, e nele vê-se duas equações possíveis: (1) soma-se um bando de picaretas com lucro fácil a uma administração pública historicamente sufocada e subserviente, ou (2) soma-se duas pontas corruptas (empresários e prefeitura), e em ambos os casos o resultado é um negócio fadado ao insucesso, pois economicamente impossível ou politicamente sujo, respectivamente.
 
E das licitações de faz-de-conta que a todo tempo acontecem, temos o seguinte, para cada um dos casos, ou seja, para uma situação de Prefeitura-refém ou para aquela de Prefeitura-cúmplice.

No caso (1), a Prefeitura não consegue, sem o risco de provocar o caos do sistema, mudá-lo, afinal, quem conseguirá competir com empresas que há milênios prestam (sic) estes serviços à população, com sua frota, sua logística e seus funcionários já a postos e contratados?

No caso (2), a Prefeitura não quer, sem o risco de perder a eleição vindoura, mudá-lo, afinal quem conseguirá se eleger sem o apoio logístico-financeiro daquelas empresas?
 
Sabemos que o caso do transporte público, pelas circunstâncias e dinâmica do negócio, seja um exemplo de “monopólio natural”, de inviável concorrência; logo, a solução para ambos os casos não está aqui, para frustração da turma liberal.
 
Sem querer partir para resoluções por demais stalinistas – como, por exemplo, o fim das concessões e a assunção direta dos serviços pelas Prefeituras, ainda que o texto constitucional admita (art. 30, V, CRFB) –, para ambas as situações há jeito menos traumático.
 
Para o caso (1), um passo óbvio seria abrir todas as planilhas de custos, detalhadamente – qual o lucro!? qual o investimento?! quais os custos e subsídios?!– e mostrar o quão toscas, vazias e pró-empresas elas são formadas. Depois, mostrando-se o disparate – e se confirmando que nesta relação cada parte (Prefeitura e população de um lado, e empresários de outro) entrou com uma parte diferente da anatomia do corpo humano –, revoga-se a concessão, obriga as empresas a continuarem prestando os serviços por tempo determinado e já prepara estudos para convocar nova licitação – sem, antes, declarar inidôneas ou suspender de qualquer concorrência pública vindoura cada uma daquelas empresas que por décadas sangram os cofres públicos e os esfíncteres da população. Podem ter certeza que argumentos jurídicos haverão, só bastaria aqui também combinar com os russos, ou seja, esperar que o Judiciário, que nestas matérias costuma exalar conservadorismo – vide o que ocorreu nos caso dos pedágios no Paraná – dê um passo à frente e renove-se no tocante aos contratos administrativos e ao interesse público.
 
Para o caso (2), só uma Reforma Política salva, especificamente no que tange ao financiamento público de campanhas. Por quê? Porque reduziríamos muito o “toma lá, dá cá” que a cada eleição sustenta as campanhas dos nossos políticos, fundada nas doações espúrias e travestidas em "n" caixas de arrecadação. Ora, com este método, a cada pleito eleitoral, seja lá quem for o vencedor – sim, os barões do transporte público bancam todos os candidatos com potencial êxito, não importa se à direita, à esquerda, se arriba, abajo, al centro, adentro... –, esta nobre classe tem a certeza de que os contratos e as “suas” linhas de ônibus serão mantidas incólumes, intocáveis, como feudos ou alguma capitania hereditária.
 
Mas, antes disso, o primeiro e fácil passo é parar com a hipocrisia beata que tenta (e consegue) esconder o diabo, para assim retirar das faixas laterais dos ônibus que rodam pelas ruas os gigantescos dizeres “Cidade de Curitiba” e dar o mesmo e claro espaço também para o prestador, sem nomes fantasia.
Ora, é notório que se trata de um “serviço público”  e que, salvo por alguma viagem alucinógena, se você está em Curitiba/PR o serviço de transporte público municipal não será da de Quixeramobim/CE...  e que até exista uma padronização nacional para identificar isso.

Mas vamos dar nome aos bois e deixar claro de quem (também) são os péssimos e caros serviços, vamos deixar claro quem é, ainda que sob o regime de concessão, o dono daqueles péssimos e caros serviços, vamos mostrar para todo mundo, vamos mostrar à Oropa, França & Bahia a cara de quem cara e pessimamente carrega milhares de curitibanos todos os dias. Vamos, enfim, desnudá-los e trazê-los para o sol.
 
Afinal, nem tudo é só da cidade de Curitiba  embora "Redentor", "Cidade Sorriso", "Glória" e "Marechal" sejam sim tudo de uma só família, com sobrenome Gulin.
 
Definitivamente, levando a fama que for – a verdadeira ou a maquiada –, não podemos aceitar que a Cidade e a Prefeitura tenham o exclusivo ônus da imagem do sistema e unilateralmente recebam pedras e cartazes em manifestos deste tipo, enquanto os senhores de engenho viário, por suas vezes, desbundam-se com o lucro fácil e têm preservadas as suas bundas para só exporem, fagueiros e faceiros, as suas Caras.
 
Pois é, resta esperar para ver algum filhote desses barões com a cara-pintada e uma bandeira cheia de dizeres republicanos na frente do Homem Nu, para o bem da gente da nossa Cidade.


sábado, 22 de junho de 2013

# conhecemos teu valor


E em Curitiba, na sexta-feira, ainda como rotina da baderna que virou o oba-oba senil pelas ruas do Brasil, o Estádio Joaquim Américo – a Baixada do Atlético, ainda em reforma para a Copa do Mundo, sendo um dos dois únicos estádios particulares que serão usados para o evento, ao lado do Beira-Rio, em Porto Alegre – fora pretendido com alvo para depredação e achincalho da choldra de plantão.

Sim, fora... pois a turma, ao ter brilhante ideia, não esperava ver o que viu.

Eis que, chegando ao nosso Estádio com pedras, lanças, chicotes, criptonitas, foguetes e toda a má-intenção do mundo, deparou-se com uma partícula da maior torcida organizada do sul do Brasil, "Os Fanáticos", e aí meus amigos, a coisa mudou de figura (v. aqui).

Muito bem posicionados com tacapes à mão – sim, só tacapes, para assim humilhar a horda de otários que se aproximava –, a torcida rubro-negra pôs para correr as bestas que imaginavam poder detonar, talvez com ainda mais facilidade, outro patrimônio da nossa cidade, o enésimo daquela triste noite. 

E assim se fez a legítima defesa meus caros, absoluta e legítima defesa contra agressão a direito alheio metaindividual.

Ora, conforme prescreve o art. 25 do Código Penal, usou-se moderadamente dos meios necessários – no caso só se viu a torcida promover um "espanto da boiada", claro que sem antes acertar uma meia dúzia, mas só na base da chinelada, dentro dos limites necessários para se conter a agressão, como quer a lei –, repelindo-se injusta, atual e iminente agressão (e não mera provocação) a direito de outrem – no caso o patrimônio do Clube Atlético Paranaense.

Ademais, doutrina e jurisprudência são claras em afirmar (i) que a legítima defesa serve para tutelar qualquer bem jurídico – no caso um estádio de futebol –, (ii) que a legítima defesa deve acontecer quando se tem a consciência da situação de fato justificante – e ali se estava a defender o Estádio da injusta agressão, (iii) que a legítima defesa contra multidões é válida, e (iv) que o excesso na legítima defesa, se fosse o caso, teria sim caráter exculpante, uma vez que, nas mesmas circunstâncias e no mesmo contexto fático, qualquer pessoa de fato se excederia da maneira ocorrida.

Enfim, todos têm direito à autodefesa legítima, é a "justiça com as próprias mãos" admitida pela lei, na qual o agente substitui a atuação do Estado, o qual não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo, cabendo ao particular assegurar de modo eficiente e dinâmico a manutenção da ordem jurídica. E isto não tem nada a ver com milícias, grupos de extermínio etc. (art. 288-A, CP), como alguns quiseram comparar a defesa do nosso estádio feita por particulares diante dos ataques da noite de sexta-feira: primeiro pelo despropósito conceitual entre o grupo de torcedores organizados e as figuras pretensamente equiparadas; depois, pelo fato de que para se enquadrar como milícia ou coisas do gênero exige-se como elemento objetivo do tipo que a associação criminosa (?) seja permanente ou estável, construída para controlar determinada área ao longo de um tempo, exigindo uma contraprestação.

Sim, a torcida do Atlético esteve com toda a razão, porque juridicamente legítima a sua conduta.

E agora, além dela já notoriamente bem conhecer o valor do nosso clube – como canta o glorioso hino –, também se percebe que conhece o valor do nosso patrimônio, que tanto dinheiro e tempo está nos custando.




# aspas (xxxvii)



A Constituição da nossa República prevê, desde a sua promulgação (1988), a criação de um "Imposto sobre Grandes Fortunas", conforme expressa disposição do art. 153, VII.

Todavia, não é mera coincidência que o tributo ainda não tenha sido regulamentado pelo Congresso Nacional ou seja, a grande ideia escancarada no nosso texto máximo ainda não foi levada adiante pelo Parlamento, e por isso ainda não pode ser exigida, a restar estéril para delírio dos tantos Tios Patinhas nativos.

Bem, nesta toada, o estadunidense Warren Buffett, há muitos anos sempre entre os cinco homens mais ricos do mundo, sugere que os países parem de mimar os seus tantos bilionários e passem a cobrar mais tributos das classes do topo da pirâmide (v. aqui):

  "Nossos líderes pediram 'sacrifício compartilhado'. Mas quando fizeram a pergunta, eles me pouparam. Eu chequei com meus amigos mega-ricos para saber que sofrimentos eles estavam esperando. Eles, também, foram deixados intocados.
   Enquanto pobres e a classe média combatem por nós no Afeganistão, e enquanto a maioria dos americanos luta para sobreviver, nós, mega-ricos, continuamos a receber os nossos extraordinários incentivos fiscais. 
   Alguns de nós são gestores de investimentos e ganhamos bilhões com nosso trabalho diário, mas podemos classificar a nossa renda como “participação nos resultados”, pagando uma taxa de imposto de 15% , uma pechincha. Outros aplicam no mercado de futuros sobre os índices das próprias ações, por 10 minutos, e têm dois terços do seu lucro tributado a 15%, tal como se tivessem sido investidores de longo prazo.
   Estas e outras bênçãos são derramadas sobre nós por legisladores em Washington, que se sentem compelidos a nos proteger tanto, como se fôssemos corujas-pintadas ou alguma outra espécie ameaçada de extinção."
   No ano passado a minha conta de impostos federais – o imposto de renda que eu pago, bem como impostos sobre os salários pagos por mim e em meu nome – foi 6.938.744 dólares. Isso parece um monte de dinheiro. Mas o que eu paguei foi apenas 17,4 % dos meus rendimentos tributáveis . Isso, na verdade é um percentual menor do que foi pago por qualquer uma das outras 20 pessoas em nosso escritório. Seus impostos variaram de 33 a 41% – média de 36 % – sobre seus rendimentos. (...)
   Eu e meus amigos fomos mimados por muito tempo por um Congresso amigo dos bilionários. 
   É hora de nosso governo levar a sério o sacrifício compartilhado."



 

sexta-feira, 21 de junho de 2013

# na mosca (e nas varejeiras)


Em rede nacional de rádio e tv, Dilma foi ótima, quase tão brilhante como, nestas horas, era o seu ex-companheiro de partido, Leonel Brizola.

A Presidenta de todos nós brasileiros falou e disse, dando uma lição em quem a imaginava irritada detonando os legítimos e objetivos pleitos populares e as honestas participações nas ruas; fulminando as pretensões de quem a imaginava tensa temendo as articulações golpistas; e decepcionando quem a imaginava volúvel e ensaboada querendo agradar a todo mundo.

Ponto a ponto, foi direta como sempre, destacando o que fez, faz e fará em relação aos assuntos mais combatidos, inclusive ao dar sonoros avisos a quem possa interessar, pegando muita gente de calça curta e, sem se furtar dos compromissos, apontando para outros corresponsáveis.

Ao falar que exigirá a aplicação da Lei de Acesso à Informação – diploma normativo que dá máxima transparência das contas, compras e custos de todos os poderes da República – por parte de todos os poderes, por exemplo, desagradará os impolutos, imaculados e onipotentes senhores do Poder Judiciário, historicamente (auto)reconhecidos como acima de tudo; e, saibam os senhores, a corrupção também corrói em larguíssima escala este Poder, nada diferente do que ocorre com os nossos Legislativo e Executivo.

Ao falar que abriremos as portas aos médicos estrangeiros – devidamente capacitados, sublinhe-se –, acabará a reserva de mercado e o corporativismo dos "doutores" e seus conselhos, fazendo chegar a saúde nos rincões do país onde os nativos não querem ir ou mesmo naqueles onde querem mas não vão.

Ao falar que está aguardando o Congresso Nacional se coçar para aprovar a sua lei que exige 100% dos recursos do petróleo (pré-sal) aplicados na educação, faz nascer brotoejas na turma que não quer um Brasil desenvolvido e um sistema educacional com professores, métodos e estruturas de qualidade.

Ao falar que, de imediato, mais uma vez receberá todos os representantes dos movimentos e organizações sociais, para saber, tête-à-tête, o que querem e o que pensam, frustou aqueles que nada pensam e nada querem, frustrou aqueles apolíticos e aqueles apartidários que vivem de preconceito, birra, umbigo e apocalipse.

Ao falar que os gastos com estádios da Copa não são tão gastos assim, lembrou que foram empréstimos e financiamentos – e não investimentos – e, ao cabo, que se trata de uma condição criada por vocês mesmos para realizar o evento (bem... na verdade aqui é mais ou menos isso... este negócio todo é estranho e nebuloso... e já aqui faço uma particular observação, que de novo percebo: ninguém me tira da cabeça que a Dilma, se na época fosse ela a Comandante, vetaria a ideia da Copa no Brasil, tal qual o ex-Governador Requião...).

Ao falar que é necessário oxigenar o “velho sistema político” e encontrar mecanismos que tornem as instituições mais transparentes, resistentes aos malfeitos e permeáveis à influência da sociedade, ela reforça que é um equívoco achar que qualquer país pode prescindir de partidos e do voto popular – a base de qualquer processo democrático –, frustrando quem via nela e no PT o prenúncio do fim da nossa democrática República Federativa do Brasil.   

(Só senti a falta, confesso, de ouvir ela falar que acabara de mandar pra rua algumas múmias paralíticas que ocupam cadeiras ministeriais tão importantes, tão próximas a ela e ligadas tão diretamente ao partido – e, pois, que assim independem do tal arranjo governista com a base aliada para serem demitidos –, nomeadamente o quinteto irreverente formado por Gleise Hoffman, Ideli Salvati, Gilberto Carvalho, Paulo Bernardo e José Eduardo Cardoso).

Por fim, a Presidenta da República falou com firmeza, coragem, serenidade e, melhor, com a postura de quem se coloca como referência de Estado e como liderança efetiva de uma nação.  

E vocês se perguntam: “Pô, mas precisava acontecer isso tudo pra ela agir?”. 

Não... e a pergunta é errada. 
E por uma simples razão: isso tudo já era feito, pari passu, no ritmo (lento) que o sistema democrático-institucional exige.

Ora, percebam que tudo o que foi acima dito e escrito já está acontecendo, já foi pensado e já foi proposto pela Presidenta.

O problema é que não estamos num país com partido único ou com unicidade de poderes, razão pela qual (quase) tudo deve passar por negociações políticas, debates partidários e chancelas do Legislativo (e mesmo, por vezes, do Judiciário).
É, não é tão simples tudo isso, mas acho que dá para entender... 
E, quem sabe, para ajudar, ao invés de ir às ruas para tirar fotos em facebooks ou para contar aos colegas no recreio do dia seguinte ou para se pintar de arara e sorrir à imprensa com frases-feitas a tiracolo, este pessoal começasse a estudar, a ler e a refletir mais sobre todo este estado de coisas?
Duvido que ainda continuassem a querer brincar de Turquia ou de Praça Tahrir pelas avenidas brasileiras.

Ao fundo, o caos da noite de ontem; à frente, um grupo de gigantes acordados e
bastante preocupados com as "reformas" no país.

# saída pela esquerda


E o "Movimento Passe Livre" (MPL), que liderou os protestos Brasil afora com vistas à diminuição do preços das passagens do transporte público, já pulou fora.

Elementar, meu caro Watson.
 
A galera, formada por gente de esquerda aliada a tantos outros movimentos sociais importantes no nosso país – MST, por exemplo – percebeu a enrascada e o embuste que o negócio se tornou.
 
Exitosa no seu objetivo e finalístico pleito, declarou que a passeata passou a ser conservadora, de viés fascista e índole reacionária.
 
E que não admitia a censura à participação de partidos, de movimentos sociais e de organizações sociais.
 
E, ao contrário do que pregam, disse que a nova marcha não era tão difusa assim.
 
Sim, escancarou a liderança, o mote e os interesses, que vão além do mero interesse em postar fotos e curtir a agitação no Facebook.
Tudo elementar, meu caro Watson.


Momento em que um dos membros do MPL resolve seguir seu caminho, e é perseguido por um dos manifestantes das redes sociais 


 

# odisseia


Nada é por acaso – já dizia um amigo baiano, vendo numa mesa a magra com seu prato de salada&atum e a gordinha com sua lasagna quatro queijos.
 
E as passeatas que inebriam uma pequena parte do Brasil é uma caso clássico disso.

Ignorância e ingenuidade são apenas alguns dos mínimos atributos para qualificar a maioria que se cumpliciou deste crime cívico.

Pequena e nos seus delírios rebeldes, esta massa ajudou a empurrar um cavalo de Tróia que, dentro, levava os mais sórdidos, mesquinhos e reacionários interesses, para incrédulo delírio da turma que não quer um Brasil para todos.

Na verdade, esta turma ainda não acredita que o negócio, após tantas e tantas tentativas frustradas de retomar o poder, caiu assim no seu colo, de repente, sem esperar - e, pior, sem no seu início querer, pois, claro, detonava o protesto contra o aumentos das tarifas de ônibus.

Eis que agora, surpresa, já não mais consegue esconder o êxtase pela retomada de um jogo quase perdido.

Esta turma, como sempre, tem seus interesses defendidos pela grande mídia nativa, a qual não poupa esforços.

A Globo, cândida como só ela, finge provocar as mais bipolares análises, como se pudesse ludibriar alguém minimamente atento: enquanto diz que é tudo pela democracia, pela paz, pela honestidade, pelo fim da corrupção (sic), coloca no Jornal Nacional 40 minutos de imagens de quebradeira, de fogo, de balas e de confrontos. E diz que a coisa está preta, que não há mais controle etc. E assim enganam meio-mundo, como sempre desatento.

Na rádio, CBN e BandNews disputam o posto de quem consegue provocar mais pânico e mais estardalhaço, insistindo que tudo é belo e formoso, que é lindo ver o povo nas ruas... mas, rapidamente, destaca 80% do tempo da programação para falar das brigas, do vandalismo, do quebra-quebra e do estado de perigo. E repte a ladainha, dizendo que não há controle, que a juventude está revoltada etc.

Nos jornais impressos, capas e contra-capas de carros pegando fogo, lojas quebradas, gente ferida etc.

“Tranquem tudo”! – já começa a sugestionar muita gente.

“Invadam tudo mesmo”! – já gritam outros.

É meus caros, Tróia parece que vai mesmo ser tomada.
 
Como numa outra história, só espero juntar mais uns trezentos para ajudar na sua defesa...



# e assim caminha a humanidade (xxi)


Enquanto isso, num despretensioso café expresso com um amigo, ele me conta mais uma da “turma das passeatas”, destes caras pintadas 2.0, versão hi-tech, que, ingênuos, empurram o cavalo troiano do golpe.

Falava da reunião de umas 30 pessoas que tratavam de organizar a primeira “manifestação” (sic) em uma pequena cidade fluminense. Era um microcosmos deste negócio todo.

Para o encontro, o grupo convidou o irmão do meu amigo para documentá-la, na qualidade de jornalista.

E assim seguiu a conversa entre os jovens, na íntegra, sem exageros:

- Então!? Sobre o que vamos protestar? – grita um, abrindo a pauta.

- Pois é, sobre o quê? – todos, em uníssono, emendam.

Ao fundo, por alguns minutos, só grilos e toques de SMS...

- Galera, pô, a gente precisa saber sobre o que vamos gritar e escrever! – esbraveja o líder.

- É!!! O que vamos reivindicar?! Senão não dá, né!! – diz outro, meio preocupado, meio revoltoso.

- Hein, a gente podia falar sobre o preço do ônibus mesmo... – define o organizador, limpando o suor com a manga da sua camisa polo da marca do jacaré.

E a resposta vem na hora, todos juntos vibrando: “Isso!”, “Boa!”, “Fechado!”, "Legal, vou por no Face!"

- É! E fica até mais fácil, já que tá todo mundo falando nisso, né!! – resume o mais gordinho, largando o canudo do milk-shake.

- Então pronto... Ei, mas tem um problema galera! – adverte um deles.

- Qual? – emenda a guria, enquanto fuçava no i-phone.

- Alguém sabe o preço da passagem?

Silêncio geral.

E vai todo mundo com seus smartphones, no Google, procurar saber.

- Parece que é R$ 2,50... Não, acho que não... Peraí... É, é, aqui, R$ 2,65! – diz um, meio sem segurança.

- Não, é R$ 2,50 mesmo! – fala um deles, com a bandeira do brasil simetricamente amarrada no pescoço.

- Cara, mas de que ônibus vocês estão falando?  – confessa um, na lata, pouco antenado.

- Hein, tá errado, tô vendo aqui, achei... é R$ 2,70! – diz outro, com ar de arqueólogo.

Diante da confusão, o líder da tal blusa do jacaré se irrita:

- Hei! Atenção! Assim não dá! A gente precisa saber certo pra escrever nos cartazes, porra! Senão vai sair preços diferentes e vai ficar estranho, parece que a gente não sabe do que ´tá falando!

Outro minuto de silêncio.

E todos caem no riso.