sexta-feira, 21 de junho de 2013

# na mosca (e nas varejeiras)


Em rede nacional de rádio e tv, Dilma foi ótima, quase tão brilhante como, nestas horas, era o seu ex-companheiro de partido, Leonel Brizola.

A Presidenta de todos nós brasileiros falou e disse, dando uma lição em quem a imaginava irritada detonando os legítimos e objetivos pleitos populares e as honestas participações nas ruas; fulminando as pretensões de quem a imaginava tensa temendo as articulações golpistas; e decepcionando quem a imaginava volúvel e ensaboada querendo agradar a todo mundo.

Ponto a ponto, foi direta como sempre, destacando o que fez, faz e fará em relação aos assuntos mais combatidos, inclusive ao dar sonoros avisos a quem possa interessar, pegando muita gente de calça curta e, sem se furtar dos compromissos, apontando para outros corresponsáveis.

Ao falar que exigirá a aplicação da Lei de Acesso à Informação – diploma normativo que dá máxima transparência das contas, compras e custos de todos os poderes da República – por parte de todos os poderes, por exemplo, desagradará os impolutos, imaculados e onipotentes senhores do Poder Judiciário, historicamente (auto)reconhecidos como acima de tudo; e, saibam os senhores, a corrupção também corrói em larguíssima escala este Poder, nada diferente do que ocorre com os nossos Legislativo e Executivo.

Ao falar que abriremos as portas aos médicos estrangeiros – devidamente capacitados, sublinhe-se –, acabará a reserva de mercado e o corporativismo dos "doutores" e seus conselhos, fazendo chegar a saúde nos rincões do país onde os nativos não querem ir ou mesmo naqueles onde querem mas não vão.

Ao falar que está aguardando o Congresso Nacional se coçar para aprovar a sua lei que exige 100% dos recursos do petróleo (pré-sal) aplicados na educação, faz nascer brotoejas na turma que não quer um Brasil desenvolvido e um sistema educacional com professores, métodos e estruturas de qualidade.

Ao falar que, de imediato, mais uma vez receberá todos os representantes dos movimentos e organizações sociais, para saber, tête-à-tête, o que querem e o que pensam, frustou aqueles que nada pensam e nada querem, frustrou aqueles apolíticos e aqueles apartidários que vivem de preconceito, birra, umbigo e apocalipse.

Ao falar que os gastos com estádios da Copa não são tão gastos assim, lembrou que foram empréstimos e financiamentos – e não investimentos – e, ao cabo, que se trata de uma condição criada por vocês mesmos para realizar o evento (bem... na verdade aqui é mais ou menos isso... este negócio todo é estranho e nebuloso... e já aqui faço uma particular observação, que de novo percebo: ninguém me tira da cabeça que a Dilma, se na época fosse ela a Comandante, vetaria a ideia da Copa no Brasil, tal qual o ex-Governador Requião...).

Ao falar que é necessário oxigenar o “velho sistema político” e encontrar mecanismos que tornem as instituições mais transparentes, resistentes aos malfeitos e permeáveis à influência da sociedade, ela reforça que é um equívoco achar que qualquer país pode prescindir de partidos e do voto popular – a base de qualquer processo democrático –, frustrando quem via nela e no PT o prenúncio do fim da nossa democrática República Federativa do Brasil.   

(Só senti a falta, confesso, de ouvir ela falar que acabara de mandar pra rua algumas múmias paralíticas que ocupam cadeiras ministeriais tão importantes, tão próximas a ela e ligadas tão diretamente ao partido – e, pois, que assim independem do tal arranjo governista com a base aliada para serem demitidos –, nomeadamente o quinteto irreverente formado por Gleise Hoffman, Ideli Salvati, Gilberto Carvalho, Paulo Bernardo e José Eduardo Cardoso).

Por fim, a Presidenta da República falou com firmeza, coragem, serenidade e, melhor, com a postura de quem se coloca como referência de Estado e como liderança efetiva de uma nação.  

E vocês se perguntam: “Pô, mas precisava acontecer isso tudo pra ela agir?”. 

Não... e a pergunta é errada. 
E por uma simples razão: isso tudo já era feito, pari passu, no ritmo (lento) que o sistema democrático-institucional exige.

Ora, percebam que tudo o que foi acima dito e escrito já está acontecendo, já foi pensado e já foi proposto pela Presidenta.

O problema é que não estamos num país com partido único ou com unicidade de poderes, razão pela qual (quase) tudo deve passar por negociações políticas, debates partidários e chancelas do Legislativo (e mesmo, por vezes, do Judiciário).
É, não é tão simples tudo isso, mas acho que dá para entender... 
E, quem sabe, para ajudar, ao invés de ir às ruas para tirar fotos em facebooks ou para contar aos colegas no recreio do dia seguinte ou para se pintar de arara e sorrir à imprensa com frases-feitas a tiracolo, este pessoal começasse a estudar, a ler e a refletir mais sobre todo este estado de coisas?
Duvido que ainda continuassem a querer brincar de Turquia ou de Praça Tahrir pelas avenidas brasileiras.

Ao fundo, o caos da noite de ontem; à frente, um grupo de gigantes acordados e
bastante preocupados com as "reformas" no país.