quinta-feira, 30 de abril de 2009

# antifahrenheit 451 (xii)


Dantes já anunciávamos os (pouco) escusos interesses do desembargador federal Edgard Lippman Jr., quando insistia em defenestrar o Governo do Paraná e em tentar acabar com as Escolas de Governo das terças-feiras -- a inventar causos e punições contra o chefe do Executivo paranaense --, e as (bastante) duvidosas decisões judiciais por ele proferidas, talvez fruto das suas suspeitas relações com parte do crime organizado e da turma de bingueiros e empreiteiras (v. aqui).
Porém, tudo era noticiado como fantasioso pela grande e golpista mídia, a insistir com a população que o desembargador estava correto e o governador, claro, errado.
Ora bem. Eis que agora o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em decisão (quase) inédita, decidiu na sessão plenária desta terça-feira (28/04) afastar de suas funções o desembargador federal Edgard Antônio Lippman Júnior, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que engloba os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e abrir processo administrativo disciplinar, a fim apurar os fatos indicados em sindicância promovida pela Corregedoria Nacional de Justiça.
A sindicância foi aberta para apurar denúncias de que o desembargador teria recebido valores de forma indevida para possibilitar a reabertura e manutenção de uma casa de bingo da empresa Monte Carlo Entretenimento, além da aquisição irregular de uma série de bens imóveis em nome de sua companheira Ivanise Machado Crescêncio. Os dados preliminares da sindicância indicam que, entre 2003 e 2007, a movimentação financeira do desembargador em instituições financeiras foi superior aos rendimentos declarados nesse período .
Na decisão, o corregedor nacional concedeu prazo de 15 dias para que a Presidência do Tribunal Regional Federal da 4ª Região suspenda todas as vantagens do desembargador, tais como uso de carro oficial, de gabinete, motorista, nomeação de servidores, entre outras, com exceção dos subsídios. Também determinou a convocação de outro magistrado para substituir o desembargador afastado em todos os processos a ele atribuídos.
E viva a nossa grande mídia! E viva a podre imprensa golpista do nosso país!
fds


segunda-feira, 27 de abril de 2009

# alecrim

Não sou muito afeito a datas, mas cá tenho pra mim que as pessoas mais amadas não deveriam passar os seus aniversários longe da gente. Faz a saudade doer.
Ainda que venha de pouco tempo e que tenha prazo certo, faz ecoar o silencioso vazio da noite sem parabéns, sem velinhas, sem doces. Sem festa.
Longe e distante, só resta o consolo de se aguardar a sua volta. Ainda que não no seu aniversário, onde ela fica mais longe e distante do que nunca.
Em meio a alces e gelos, japas e sopas, congratulations et félicitations, espero que tenha tido ela um grande (e longo) dia, overture de mais um novo ano de sua vida, que certamente será tão feliz como outros vinte e seis que já teve aos nossos lados.

domingo, 26 de abril de 2009

# atleticanas (xii)


O JOGO

Geninho foi sem dúvida o maior culpado da derrota, decidida ainda no primeiro tempo do jogo.

Galatto falhou no primeiro gol? Claro, mas não foi um erro absolutamente decisivo ou imperdoável, não apenas pelo recente passado heróico do arqueiro, mas pelo que fez o treinador rubro-negro em toda a escalação e composição do Atlético.

Ora, um time com tantas qualidades individuais do meio-campo pra frente como o do Coritiba não merece (e não pode!) ser encarado com um único jogador de marcação, viúvo de algum outro que saiba jogar e, tanto quanto, marcar.

A única justificativa séria para isso talvez resida na necessidade urgente do Geninho queimar e mandar às favas o excelente paraguaio Julio dos Santos. Por que insistir com ele como segundo-volante? O óbvio ululante mostra que ele é um dos melhores armadores que já passaram pelo futebol paranaense, homem da camisa 10 e dono do time. Marcar, combater, dar cabeçada e pancada e correr atrás de atacantes e pontas-de-lança são funções e atributos de outros jogadores -- feitos mesmo para carregar o piano --, não do meia paraguaio.

Ora, por que insistir com o apequenado e medíocre Júlio César no ataque, ao invés de deslocar para lá o Marcinho (ah, mas ele não quer jogar na frente... ora quando eu era pequeno também não queria ir à escola, mas meus pais obrigavam e eu tinha que ir...)?

Ora, por que sacar o experto garoto Fransergio, que (quase) muito bem sabe atuar como segundo-volante, que já se acostumava com a camisa de profissional, e ainda mais sem ter um único jogador no elenco com a mesma capacidade e função?

Em suma, o primeiro tempo foi trágico (0x2).

E no intervalo, quando praticamente abandonou um esquema tático usado desde o começo do ano (o 3-5-2) -- para "mais-ou-menos" impor um 4-4-2 sem noção e sem treino, com Chico saindo da zaga e formando com Jairo uma pesada e limitadíssima dupla de volantes e, pior, colocando pra jogar quatro atacantes do meio pra frente (Marcinho, Walysson, Rafael Moura e Lima), sendo um deles horroroso (o último) --, contribuiu decisivamente para a acachapante derrota.

E não nos iludamos: o Geninho não teve mérito com o precoce empate conseguido (2x2, com 20 minutos do segundo tempo), ainda que com esta inovada e disforme formação. Na verdade, o empate veio com o empurrão da torcida, o amarelão coxa e o anúncio de que o Nacional ganhava o jogo do Malutrom (J. Malucelli) -- este o nosso adversário direto pelo título --, pois a derrota, logo na sequência (2x4), era mesmo iminente, fruto das absurdas formação e orientação táticas ditadas pelo treinador.

Veja bem, abrir esse tresloucado buraco no meio-campo -- no primeiro tempo sem as peças certas e no segundo-tempo com tantas peças erradas e fora de posição --, dando tanto espaço para os alviverdes jogarem e uma ampla liberdade para o muito competente Marcelinho Paraíba, só poderia mesmo resultar em derrota, daquelas que os deuses do futebol (e a torcida) não perdoam.

Uma derrota inevitável, ora pois.

O TÍTULO

À sombra da mangueira imortal, já dizíamos que confiávamos muito mais no desempenho do Nacional frente ao Malutrom (J. Malucelli) que na vitória do Atlético diante dos coxas.

E neste ponto não estávamos errados, embora, na verdade, tivéssemos uma certeza ainda maior de que o Malutrom consagrar-se-ia campeão estadual, à medida que a nossa confiança no Nacional não era tão grande assim.

Bem, vão-se os dedos, ficam os anéis.

E a derrota para os coxas serviu apenas para que estes tivessem um mínimo contentamente no ano do centenário.

É que, na verdade, ao final, já neste próximo domingo contra o Cianorte, o Atlético, time com a melhor campanha, a melhor estrutura e a maior torcida, ficará mesmo com o título de campeão paranaense, em um grande jogo e uma grande festa na Arena da Baixada, para desespero do vovô e da família Okocha.

Um título inevitável, ora pois.




 

sexta-feira, 24 de abril de 2009

# aspas (xiv)


E insistimos nesta seção, porque é fundamental para que possamos mostrar os porques das nossas opiniões, da nossa realidade e da realidade dos outros.
 
Assim, no excelente "Alternatives Économiques" (v. aqui), o ganhador do "Nobel" de Economia deste ano, Paul Krugman, analisa numa entrevista a situação social dos EUA. Leia o seguinte excerto:
 
"― Os norte-americanos podem contar com uma forte mobilidade social para combater as desigualdades?
Não. Alguns indivíduos logram ascender na escala social, mas não tanto como nos gosta imaginá-lo. As histórias de pessoas que saem da pobreza e se tornam ricas são muito, muito raras. Há só 3 por cento de pessoas nascidas entre os 20 por cento mais pobres que acabam sua vida entre os 20 por cento mais ricos. Os Estados Unidos até parecem, na medida em que se pode medir essas coisas, registrar o grau mais débil de mobilidade social entre os países avançados.


― O sonho americano está então morto?
Não. De qualquer maneira, a realidade jamais esteve à altura do que o sonho americano deixava esperar. Mas nós começamos a despertar!"





 

quinta-feira, 23 de abril de 2009

# aspas (xiii)

 
Luiz Fernando Veríssimo assim se pronunciou sobre o MST, após os últimos acontecimentos:
 
   "(...) Mas há um assunto sobre o qual você talvez ingenuamente imaginasse que nenhuma discordância seria possível. A brutal evidência -- geográfica, cartográfica, literalmente na cara, portanto independente de interpretação e opinião -- da iniqüidade fundiária no Brasil, um continente de terra com poucos donos, era tamanha que durante muito tempo uma genérica "reforma agrária" constou do programa de todos os partidos, mesmo os dos poucos donos da terra. Era uma espécie de reconhecimento da injustiça inegável que desobrigava-os de fazer qualquer coisa a respeito, retórica em vez de reforma. O aparecimento do Movimento dos Sem Terra acrescentou um novo elemento a essa paisagem de descaso histórico: os próprios despossuídos em pessoas, organizados, reivindicando, enfatizando e até teatralizando a iniqüidade, para contestar a hipocrisia. A evidência insofismável transformada em drama humano.
   Pode-se discutir os métodos do MST, e até que ponto as invasões e a violência não dão razão à reação e não desvirtuam o ideal, além de agravar a truculência do outro lado. Mas sem perder de vista o que eles enfrentam: não só a injustiça que perdura, apesar de programas governamentais bem intencionados e de alguns avanços, como um Congresso recheado de grandes proprietários rurais, o poder político e financeiro dos agro-business e uma grande imprensa que destaca a violência mas sempre ignorou a existência de acampamentos do MST que funcionam e produzem, inclusive exemplos de cidadania e solidariedade. É a minha opinião."







 
 
 
 

quarta-feira, 22 de abril de 2009

# (in)significâncias


fdsAlguns grandes amigos coxas reclamaram das duas metáforas apresentadas aqui, à sombra da mangueira imortal, nos últimos dias. Repreendo-me, talvez, pelo tom exagerado das comparações ou mesmo pelas ironias que, não obstante já como uma figura de linguagem, poderiam ter sido menos cruéis. Mas, por outro lado, lembro de duas coisas.
fdsPrimeiro, daquela frase clássica que diz: "o futebol é a coisa mais importante dentre todas as menos importantes". Ou seja, no mundo da literatura, das mesas-redondas, das conversas de botequim e das torcidas, o rude esporte bretão não pode ser alçado à quinta-essência mundanal, razão pela qual não permite aos seus respectivos operadores e torcedores tratá-lo como tal em suas vidas.
fdsDepois, ao fato propriamente dito, isto é, estes tais campeonatos estaduais. Ora, como bem disse o técnico do São Paulo, Muricy Ramalho -- antes mesmo das semifinais que eliminou o tricolor paulista --, "para quem vence, o campeonato estadual não vale nada, mas para quem perde é a pior coisa do mundo". Logo, por mais paradoxal que seja a frase, reflete uma puta verdade. Ou seria diferente para a dupla Atletiba?
fdsSe não fosse a magna importância dada pelo Coritiba a este campeonato -- fundamentalmente pelo ano do centenário --, os dois maiores clubes do Estado não estariam dando a mínima para o fato de que o Malutrom (o tal J. Malucelli) está na iminência de se sagrar campeão paranaense, pois o que subsiste é, apenas, a rivalidade entre rubro-negros e alviverdes. O resto do que acontece no âmbito do futebol paranaense, inclusive os seus resultados, não tem a menor importância.
fdsEm suma, os campeonatos estaduais são desprezíveis e horrendos, apresentam um nível técnico ridículo, com jogadores bizonhos e times miseráveis, e servem tão-somente para os dirigentes das federações perpetuarem-se no poder, pelos votos que recebem, a cada eleição, dos clubes filiados. Sobram, no final das contas, apenas os clássicos, que continuarão a existir com uma óbvia e ululante solução: os Campeonatos Regionais, com as Copas Sul-Minas, Rio-São Paulo, Nordeste e Norte-CO a serem disputadas entre os melhores clubes do país, em suas respectivas regiões.
fdsE as novas regras também podem ser bastante claras. Os campeões de cada uma e os vice daquelas duas primeiras com vaga na Sul-Americana, e depois um quadrangular final entre os campeões regionais para decidir uma vaga à Taça Libertadores (tirar-se-ia a vaga do quarto colocado no Campeonato Brasileiro). E deixa os bizarros Campeonatos Estaduais para os pequenos e microtimes, cujos campeões e vices terão vaga na Copa do Brasil, bem como os dois melhores classificados de cada Estado nos Campeonatos Regionais e os 10 primeiros colocados no ranking da CBF (como já é hoje). Assim, passa a Copa do Brasil a ter uma fase a mais.
fdsPronto. Tudo muito simples, fácil e inteligente, para o bem dos amantes dos seus clubes e do (bom) futebol brasileiro.
 
fds

terça-feira, 21 de abril de 2009

# pinocchiadas das trevas

 
fdsPela enésima vez, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vê-se obrigado a esclarecer à sociedade as deslavadas mentiras patrocinadas pela TV Globo, em rede nacional.
 
fdsEis, na íntegra, a carta nacional -- que certamente não merecerá maior repercussão na grande e golpista mídia, nem mesmo como "direito de resposta" -- encaminhada pelo maior movimento social da América Latina, e que vem muito bem a calhar neste dia em que se comemora a data daquele mártir da República, outrora o maior:
 
fds"Em relação ao episódio na região de Xinguara e Eldorado de Carajás, no sul do Pará, o MST esclarece que os trabalhadores rurais acampados foram vítimas da violência da segurança da Agropecuária Santa Bárbara. Os Sem Terra não pretendiam fazer a ocupação da sede da fazenda nem fizeram reféns. Nenhum jornalista nem a advogada do grupo foram feitos reféns pelos acampados, que apenas fecharam a PA-150 em protesto pela liberação de três trabalhadores rurais detidos pelos seguranças. Os jornalistas permaneceram dentro da sede fazenda por vontade própria, como sustenta a Polícia Militar. Esclarecemos também que:fds1- No sábado (18/4) pela manhã, 20 trabalhadores Sem Terra entraram na mata para pegar lenha e palha para reforçar os barracos do acampamento em parte da Fazenda Espírito Santo, que estão danificados por conta das chuvas que assolam a região. A fazenda, que pertence à Agropecuária Santa Bárbara, do Banco Opportunity, está ocupada desde fevereiro, em protesto que denuncia que a área é devoluta. Depois de recolherem os materiais, passou um funcionário da fazenda com um caminhão. Os Sem Terra o pararam na entrada da fazenda e falaram que precisavam buscar as palhas. O motorista disse que poderia dar uma carona e mandou a turma subir, se disponibilizando a levar a palha e a lenha até o acampamento.
fds2- O motorista avisou os seguranças da fazenda, que chegaram quando os trabalhadores rurais estavam carregando o caminhão. Os seguranças chegaram armados e passaram a ameaçar os Sem Terra. O trabalhador rural Djalme Ferreira Silva foi obrigado a deitar no chão, enquanto os outros conseguiram fugir. O Sem Terra foi preso, humilhado e espancado pelos seguranças da fazenda de Daniel Dantas.

fds3- Os trabalhadores Sem Terra que conseguiram fugir voltaram para o acampamento, que tem 120 famílias, sem o companheiro Djalme. Avisaram os companheiros do acampamento, que resolveram ir até o local da guarita dos seguranças para resgatar o trabalhador rural detido. Logo depois, receberam a informação de que o companheiro tinha sido liberado. No período em que ficou detido, os seguranças mostraram uma lista de militantes do MST e mandaram-no indicar onde estavam. Depois, os seguranças mandaram uma ameaça por Djalme: vão matar todas as lideranças do acampamento.
fds4- Sem a palha e a lenha, os trabalhadores Sem Terra precisavam voltar à outra parte da fazenda para pegar os materiais que já estavam separados. Por isso, organizaram uma marcha e voltaram para retirar a palha e lenha, para demonstrar que não iam aceitar as ameaças. Os jornalistas, que estavam na sede da Agropecuária Santa Bárbara, acompanharam o final da caminhada dos marchantes, que pediram para eles ficarem à frente para não atrapalhar a marcha. Não havia a intenção de fazer os jornalistas de “escudo humano”, até porque os trabalhadores não sabiam como seriam recebidos pelos seguranças. Aliás, os jornalistas que estavam no local foram levados de avião pela Agropecuária Santa Bárbara, o que demonstra que tinham tramado uma emboscada.fds5- Os trabalhadores do MST não estavam armados e levavam apenas instrumentos de trabalho e bandeiras do movimento. Apenas um posseiro, que vive em outro acampamento na região, estava com uma espingarda. Quando a marcha chegou à guarita dos seguranças, os trabalhadores Sem Terra foram recebidos a bala e saíram correndo – como mostram as imagens veiculadas pela TV Globo. Não houve um tiroteio, mas uma tentativa de massacre dos Sem Terra pelos seguranças da Agropecuária Santa Bárbara.fds6- Nove trabalhadores rurais ficaram feridos pelos seguranças da Agropecuária Santa Bárbara. O Sem Terra Valdecir Nunes Castro, conhecido como Índio, está em estado grave. Ele levou quatro tiros, no estômago, pulmão, intestino e tem uma bala alojada no coração. Depois de atirar contra os Sem Terra, os seguranças fizeram três reféns. Foram presos José Leal da Luz, Jerônimo Ribeiro e Índio.
fds
7- Sem ter informações dos três companheiros que estavam sob o poder dos seguranças, os trabalhadores acampados informaram a Polícia Militar. Em torno das 19h30, os acampados fecharam a rodovia PA 150, na frente do acampamento, em protesto pela liberação dos três companheiros que foram feitos reféns. Repetimos: nenhum jornalista nem a advogada do grupo foram feitos reféns pelos acampados, mas permaneceram dentro da sede fazenda por vontade própria. Os sem-terra apenas fecharam a rodovia em protesto pela liberação dos três trabalhadores rurais feridos, como sustenta a Polícia Militar".
 

segunda-feira, 20 de abril de 2009

# 100 anos: as intermitências da morte


fdsfdsA família Okocha já vinha definhando, fato este notório pelo mais absoluto esquecimento a que os seus remanescentes se sujeitavam. Nada mais a motivava e nada mais a despontava. Sinceramente, parecia que nada mais a faria renascer e sobreviver, tamanho era o fugaz declínio daquela linhagem. Sim, os Okochas, um a um, iam morrendo.
fdsfdsPorém, quase nas cinzas, eis que o patriarca recebe um recado do além: a morte lhe daria uma sobrevida. Sim, numa carta a Sra. Morte dizia que daria ao Vovô Okocha a oportunidade de esperar chegar aos 100 anos, e que, se alcançado o centenário, toda a família passaria a também gozar desta quase eternidade. Era, finalmente, uma chance dada aos Okochas de se manterem vivos.
fdsfdsA condição, sine qua non, era única: não vacilar neste caminho ao centenário, devendo os Okochas passar incólumes pelos Snurfs, os gigantes azuis, e, depois, vencer o temível Ouragan na grande batalha final.
fdsfdsAlegre, toda a família Okocha não se continha na expectativa de ver no seu Vovô – com as suas longas barbas, os seus brancos cabelos e a pele já cansada pelos sofrimentos que lhe acometem desde o final do século passado – a esperança de se recriar, de reviver e de se mostrar impávida e colossal no cenário medieval. Com uma população envelhecida e oprimida, era a chance – última, talvez – dos Okochas sobreviverem e, finalmente, voltarem a conseguir duelar com os Ouragans, esta a mais tradicional família que em vermelho-e-preto domina todo território.
fdsfdsA redenção proposta pela morte conflitava com o angustiante caminho a ser perseguido pelos Okochas. Eles não poderiam vacilar. Eles tinham que estar preparados para tudo e todos. Mas a morte parecia mesmo inevitável. Eram tantos altos e baixos, tantos (efêmeros) sucessos e (inesquecíveis) insucessos que o desastre parecia iminente. La crónica de una muerte anunciada, dizia-se alhures.
fdsfdsÉ verdade que todos sonham com um mundo de eternidade absoluta. Mas, ao mesmo tempo, todos afirmam, com patética coragem, que a morte faz parte da vida. São, estes, os clichês com que todos embalamos nossas mágoas nos funerais das nossas rotinas. E assim é que os Okochas pareciam tratar daquele momento.
fdsfdsPorém, nas vésperas de enfrentar os gigantes azuis, uma surpreendente força sobrenatural parecia empurrar a família para a glória. Parecia -- sim, parecia! -- que o vento passava a agir em favor dos Okochas. Desgovernado, um quase furacão avançava em sentido contrário e parecia permitir que a família Okocha alcançasse o olimpo. Tudo parecia prosperar para tornar os Okochas imortais.
fdsfdsMas eis que chega o dia da primeira batalha. E ela foi inglória. Cambaleantes, sonsos e fracos, toda a otimista expectativa e toda a empolgante preparação rumo ao eterno centenário foram mesmo em vão. De súbito, os Okochas são esmagados e trucidados pelos Snurfs naquela que ficou conhecida como a "Grande Tarde Azul".
fdsfdsNo alto do seu trono, o Vovô Okocha chora compulsivamente, apoiado apenas em sua já gasta bengala. É a morte, que regressa sem tréguas para informar o momento fatal. A dantes incerteza do corredor da morte torna-se certa, aprazando o desaparecimento definitivo dos Okochas.
fdsfds"Tudo se converterá em pó", diz, em voz já trêmula, o velhinho que quase bem faria 100 anos, antes do instante em que finalmente vem a morrer.
fdsfdsE, no dia seguinte, ninguém dos Okochas pôde mais viver. Pelo menos até fazer duzentos anos...

 
fds

domingo, 19 de abril de 2009

# atleticanas (xi)

fdsfA derrota dos coxas para o Irati na gloriosa e formosa tarde azul deste domingo -- que fez então se despedirem do título paranaense, obrigação frustrada no exato ano em que comemoram 100 anos de vida -- fez-me lembrar dos tempos de infância e do bizarro "Programa do Bozo".
fdsfEntre as tantas brincadeiras deste programa, a que mais mexia com a platéia era uma "corrida de cavalos" -- e meus contemporâneos hão de lembrar...--, que se dava mais ou menos assim:
fdsf1. Num páreo, de brinquedo, quatro cavalos: Malhado, Preto, Branco e Azul (não me pergunte por que, mas sim, tinha um cavalo azul).
fdsf2. No palco, colorido, três pessoas: o Bozo, o Garoto Juca e uma criança qualquer sorteada da platéia.
fdsf3. A criança, aflita e nervosa, apostava num dos cavalos do páreo e se o escolhido vencesse ela ganhava uma tosca prenda, dada pelo palhaço e seu ajudante. Bem, suponhamos que ela apostasse no Azul.
fdsf4. Dada a largada, de um lado a criança e o Garoto Juca ficavam na torcida, a gritar: "vai Azulão, vai Azulão, vai, vai, vai...!!", do outro, o Bozo ficava a torcer por qualquer outro cavalo, em regra o Malhado ("Vai Malhado, Vai Malhado...", gritava o palhaço).
fdsf5. Cruzado o disco final, invariavelmente o cavalo escolhido pela criança vencia. Neste caso, o Azulão.
fdsf6. E a criançada toda pulava feliz, enquanto o Bozo ficava, apoiado numa bengala, com uma bunda cara de palhaço.
fds

sexta-feira, 17 de abril de 2009

# causa nossa, causa socialista

fdsO jurista Vital Moreira, da Universidade de Coimbra, finalmente aceitou e encabeçará a lista do Partido Socialista (PS) português para as próximas eleições ao Parlamento Europeu, legislatura 2009-2014.
fdsDepois do professor catedrático, já aposentado, Manuel Carlos Lopes Porto (1989-1999), muito provavelmente a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra terá outro deputado no mais importante locus de reflexões e decisões da União Européia, o mais ativo e plural bloco do mundo.
fdsAqui se poderá acompanhar os diários da campanha e o currículo de um dos mais importantes constitucionalistas portugueses -- coautor, ao lado de Gomes Canotilho, das já clássicas obras "Constituição da República Portuguesa Anotada" e "Fundamentos da Constituição" --, e, aqui, o invariavelmente pertinente blog "Causa-Nossa", editado por ele e por outros intelectuais portugueses.
fds

quinta-feira, 16 de abril de 2009

# aspas (xii)



No excelente jornal "The Guardian", o historiador inglês Eric Hobsbawm, um dos maiores pensadores à esquerda do mundo, traz conclusivas palavras (v. aqui, na íntegra):

   "(...) progressive policy needs more than just a bigger break with the economic and moral assumptions of the past 30 years. It needs a return to the conviction that economic growth and the affluence it brings is a means and not an end.
   The end is what it does to the lives, life-chances and hopes of people".




 

quarta-feira, 15 de abril de 2009

# espelho, espelho meu


Houve um tempo em que era o máximo, era de se inflar os (alter)egos, dizer por aí e em rodas de conversa que se lia dois ou três jornais ou revistas, como grandes sinônimos de que o sujeito estava mais do que muito bem informado: era, na verdade, uma grande amostra de que ele estava na moda e afiado com o pensamento único vigente.

Pelos demais, era, pois, considerado até um intelectual.

Todavia, hoje, o que se vê é a mais absoluta bancarrota moral e técnica destes outrora jornalões e destas revistas que insistem em fazer a cabeça da nossa gente.

Tome-se, por exemplo, as inúmeras contradições entre os fatos noticiados pela grande mídia e os fatos acontecidos ou que acontecem.

Veja-se, também, a imensa quiantidade de fatos inverídicos ou infundados que, depois de noticiados e repisados, são desmentidos ou esquecidos, pois incapazes de traduzir a realidade.

Lembre-se, ainda, que diante da queda livre do faturamento publicitário e do número de assinantes destes meios de comunicação.

E, o que a tantos espanta, como a mim, é o fato de que há muitas pessoas que ainda tem a pachorra de se confessarem grandes leitores de Folha, Globo e Valor Economico, e profundos consumidores de Veja e Exame.

Ainda que muito discutível o viés ideológico que sustentaria estas pessoas na hipnótica leitura de tais folhetins, essa confissão à direita seria muito menos pior que a doce ilusão de acharem que estão a fazer uma profícua e saudável leitura.

Sim, ainda pensam que a intelectualidade está em conhecer e, a sério, repercutir estes tablóides, se iludindo com o falso e vazio conteúdo informativo, científico e moral que tais produtos oferecem.

Pior do que isso, com base e fundamento nestes jornais, nestas revistas e na TV Globo, julgam-se capazes de discutir, pensar e entender o mundo, repita-se, não pelo viés ideológico -- que aqui já me abstenho de questionar --, mas pelo viés da verdade e da justiça moral, que são incapazes de se fazerem presentes nos textos e nas matérias destes infames e golpistas meios, os quais ainda tentam, de todas as formas, salvar o pensamento único mundano e fazê-lo se eternizar na "terra brasilis".
fds


 

terça-feira, 14 de abril de 2009

# no xis da questão

Ora, se na democracia a força é do povo (dêmos, povo + krátos, lei ou força), ou seja, é o povo quem tem o poder para impor as suas vontades e as suas regras, atributos estes temperados pela "representatividade" que se faz presente nos parlamentares e nos governantes, quem teme ou a quais interesses estes que temem servem constantes e cerscentes plebiscitos, destinados à população para que esta faça valer as suas vontades, acerca dos grandes e mais importantes projetos e discussões e projetos políticos do país?
O Senador Cristovam Buarque (PDT/DF), quando na semana passada propôs uma consulta popular, via plebiscito, para se saber se a nação brasileira preferiria o fechamento deste Congresso Nacional e a convocação de novas eleições, nada mais fez do que exteriorizar a lógica da democracia, que se diz querer fazer presente no nosso país e que se diz querer atender à demanda e às necessidades da população.
À frente voltaremos com este importante assunto.
fds

segunda-feira, 13 de abril de 2009

# vou deitar e rolar


fdsfdsfdsAntes da crise ter eclodido -- a crise que rói o corroído modelo capitalista vigente, sublinhe-se --, alguns idiotas de plantão a minha volta, sentados cada qual em seu barril, insistiam, cheios de soberba e graça, em vir com zombarias para o meu lado.
fdsfdsfdsSim, fingiam ou imaginavam que tudo aquilo que tentávamos falar e lhes explicar sobre o "neoliberalismo" e a sociedade "pós-moderna" era bobagem, coisa de socialista ou papo de gente da Academia.
fdsfdsfdsLembre-se amigo leitor, estes amigos não tinham a sede do diálogo e do discurso crítico apresentado por aquele avestruz, que na sua humildade se interessava em aprender e escutar (v. aqui).
fdsfdsfdsBem, eis que agora -- e desde o final do ano passado, quando o mundo viu que as veredas pelas quais os sistemas econômicos nacionais seguiam era burra, ineficaz e imoral --, estes senhores, em especial os mais apequenados nas suas coisas pequeno-burguesas, em todas as oportunidades que temos para nos encontrar, tergiversam e falam de tudo.
fdsfdsfdsDe quase tudo, pois não ousam tocar em assuntos de macropolítica, macroeconomia e macro-qualquer-coisa, dignificando-se a ficarem, ainda que corados, só falando de futebol, fofocas, frutas e fêmeas, como se esquecidos daqueles mais recentes tempos em que era cômodo (e fácil, legal e da moda) zombar de um insistente crítico do neoliberalismo.
fdsfdsfdsE hoje, perante estes amigos (ou não), fico eu como naquela inesquecível música de Baden Powell e Paulo Cesar Pinheiro, consagrada na voz de Elis:

 
fdsfdsfdsfds
fdsfdsfds Não venha querer se consolar / Que agora não dá mais pé / Nem nunca mais vai dar
fdsfdsfds Também, quem mandou se levantar? / Quem levantou pra sair / Perde o lugar
fdsfdsfds E agora, cadê teu novo amor? / Cadê, que ele nunca funcionou? / Cadê, que ele nada resolveu?fdsfdsfds
fdsfdsfds Quaquaraquaquá, quem riu? / Quaquaraquaquá, fui eu
fdsfdsfds Quaquaraquaquá, quem riu? / Quaquaraquaquá, fui eu
fdsfdsfds
fdsfdsfds Você já entrou na de voltar / Agora fica na tua / Que é melhor ficar
fdsfdsfds Porque vai ser fogo me aturar / Quem cai na chuva / Só tem que se molhar
fdsfdsfds E agora cadê, cadê você? / Cadê que eu não vejo mais, cadê? / Pois é, quem te viu e quem te vê
fdsfdsfds
fdsfdsfds Quaquaraquaquá, quem riu? / Quaquaraquaquá, fui eu
fdsfdsfds Quaquaraquaquá, quem riu? / Quaquaraquaquá, fui eu



fdsfdsfdsfds

# repercute-se, a torto e à esquerda


Após a foto abaixo ficar estampada por quase toda a época quaresmal no caput deste sideral espaço virtual, regozijamo-nos pelo fato de que a mesma -- a julgar pelo teor e pelos comentários das dezenas de emails recebidos no período -- fez as pessoas preocuparem-se, refletirem e indignarem-se com estas odiosas diferenças e desigualdades da nossa República, cuja aristocrata sociedade é a que mais concentra renda do mundo e a que mais faz questão de se separar do trigo, sempre capitaneada por uma elite que se ampara na grande mídia e em boa parte d'algumas instituições estatais.

Doravante, renovados pelo espírito pascal, pensemos e ajamos, ora pois! Os nossos futuros netos desde já agradecem.
 

sábado, 11 de abril de 2009

# expiação




São Paulo, região central.

Morumbi, em laje e zinco, em jacuzzis e varandas.

E um muro, num cenário de céu e inferno.

É Deus e o Diabo na Terra da Garoa.

E todos nós num purgatório.

De que lado estamos? Para onde vamos? Até quando?
fds
fds(v. aqui)
fds

# sábado de aleluia


DE ONTEM
fdsNesta época do ano, espanta-me crescentemente a atitude espiritual-religiosa de boa parte dos terráqueos. E não estou aqui a me referir a muçulmanos, judeus, budistas, hindus, ateus ou agnósticos. Não.
fdsEstou a me reportar àqueles que, não obstante assumam-se cristãos -- ou católicos, como é mais comum (e fácil) --, tratam do tríduo pascal, que se inicia na Quinta-feira Santa, como um grande e qualquer feriado, como um final de semana prolongado feito para foliar e gozar.
fdsPior ainda, constrange-me aqueles que encaram a Sexta-feira Santa, o Dia da Paixão de Jesus Cristo, como um pantagruélico dia para muito bacalhau. Nestes tempos pós-modernos, shoppings, cinemas e restaurantes lotam, como se o dia fosse mais um feriado, para mais uma data que já se passou.
fdsUma data morta.

HOJE
fdsMalhar quem?
fdsOra, no país mais desigual e com a maior concentração de renda do mundo não é fácil encontrar um único judas para se amarrar e debulhar no poste, aos olhos do povo e em praça pública.
fdsA elite otária, hipócrita ou cega, a mídia ascosa e golpista, os políticos da direita, os magistrados conservadores, os advogados e os intelectuais edeológicos, os servidores públicos incompetentes, mandriões ou corrompidos e os empresários exploradores, sonegadores ou corruptores, todos merecem, com as devidas honras, ocupar aquele espaço como os grandes traidores da nossa República.
fds
PARA AMANHÃ
fdsSe haverá efeitos reais -- e não apenas simbólicos -- deste até amanhã estendido período quaresmal, no qual (mínimas) penitências, privações e reflexões ocuparam-nos um lugar de destaque e de primeira importância por mais de 40 dias, não saberemos. Porém, infelizmente dele sairemos com a recrudescida e ratificada impressão de que esta terra está cada vez mais distante do céu.
fdsMas, como o Domingo celebrará o grande dia da esperança e da renovação, não nos custa insistir na luta por esta real e material aproximação, com igualdade, dignidade e justiça na consecução das fundamentais necessidades de todos os humanos brasileiros.
fdsUma Santa e Feliz Páscoa!
fds


quinta-feira, 9 de abril de 2009

# quinta-feira santa

fdsfds A liturgia da Quinta-feira Santa é um convite para nos aprofundarmos concretamente no mistério da Paixão de Cristo, já que quem deseja segui-lo deve sentar-se à sua mesa e, com o máximo recolhimento, ser espectador de tudo o que aconteceu na noite em que entregá-lo-iam.
fdsfds Naquela memorável noite de entrega de Cristo chega-se fazer o sacramento permanente em um pão e em um vinho que convertem em alimento do seu Corpo e do seu Sangue para todos os que queiram recordá-lo e esperar sua vinda no final dos tempos, instituindo-se assim a Santa Eucaristia.
fdsfds A Santa Missa é então a celebração da Ceia do Senhor na qual Jesus, em um dia como hoje, na véspera da sua paixão e na noite de sua última ceia, quis que seus discípulos se reunissem e se recordassem dEle abençoando pão e vinho: "[p]egando o cálice, deu graças e disse: Tomai este cálice e distribuí-o entre vós… Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim" (Lc 22, 17-19).
fdsfds Assim, antes de ser entregue, Cristo se entrega como alimento e, nesta Ceia, celebra sua morte: o que fez, o fez como anúncio profético e oferecimento antecipado e real da sua morte antes da sua Paixão. Por isso "quando comemos deste pão e bebemos deste cálice, proclamamos a morte do Senhor até que ele volte" (Cor 11, 26).
fdsfds Ainda na noite da Ceia Pascal, o Senhor se ajoelha e lava os pés dos discípulos, e fez esse gesto marcante -- que era realizado comumente pelos servos e vassalos aos senhorios -- para mostrar que no seu Reino "o último será o primeiro" e que o cristão deve ter como meta servir e não ser servido, sob os égide da igualdade e da solidariedade, afinal, quem não vive para servir não serve para viver.
fdsfds Outrossim, nesta mesma noite, Jesus fez várias importantes promessas à Igreja que institui sobre Pedro e os Apóstolos: entre outras, prometeu-lhes o Espírito Santo e a garantia de que ela seria guiada por Ele a "toda a verdade", pois, sem isto, a Igreja não poderia guardar intacto o "depósito da fé" (a "sã doutrina" de São Paulo).
fdsfds Enfim, podemos afirmar que a Eucaristia é o memorial não tanto da Última Ceia, mas da Morte de Cristo, cujo regresso esperamos de acordo com a promessa que Ele mesmo fez ao despedir-se.
fdsfds Portanto, nesta Missa da Quinta-feira Santa, de maneira diferente de todas as demais Eucaristias, não celebramos diretamente nem a morte nem a ressurreição de Cristo. Não nos adiantamos à Sexta-feira Santa nem à noite de Páscoa. Hoje celebramos a alegria de saber que esta morte do Senhor, que não terminou no fracasso mas no êxito, teve um por quê e um para quê: foi uma "entrega", um "dar-se por alguém", "por nós e por nossa salvação".
fdsfds E debruçado sobre esta lição e estes testemunhos é que devemos, ao menos nestes dias, refletir o nosso cotidiano.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

# socialismo cristão


Diversos colegas estranharam a explícita associação feita neste título, e outros tantos parecem não ter compreendido o próprio espírito da Teologia da Libertação, exposta aqui nos últimos dias.

Bem, a Teologia da Libertação nasce na América Latina num contexto histórico muito bem definido:

(i) numa perspectiva sócio-político-econômica, com o peso das ditaduras militares, a dependência político-econômica em relação ao Primeiro Mundo e, especialmente, as graves e crescentes desigualdades sociais, com ricos cada vez mais e pobres com cada vez menos;

(ii) numa perspectiva intelectual-científica, com a análise do cenário vigente sob a ótica da teoria marxista – não obstante tendo como premissa fundamental a Palavra de Deus –, a dissecar a partir de suas entranhas o funcionamento da acumulação capitalista, expondo a nu as contradições do (neo)liberalismo econômico nos países subdesenvolvidos (concentração, pobreza e exclusão social); e,

(iii) numa perspectiva eclesial, com a tentativa da Igreja entrar em diálogo aberto com o mundo moderno (“Concílio Ecumênico Vaticano II”), com o enfrentamento às recôndidas verdades latino-americanas e os discursos sociais combativos (“II Conferência dos Bispos da América Latina e Caribe”) e com a criação das “Comunidades Eclesiais de Base” (CEB's), que passam a uma militância ativa pela transformação das estruturas sociais injustas, mediante uma leitura da realidade à luz da Palavra de Deus e a busca de soluções concretas para os problemas reais, em luta contra a dominação política e a pobreza econômica.

Assim, parte da Igreja Católica busca resgatar os ideais primitivos e verdadeiros do pensamento cristão, a consolidar a "opção preferencial pelos pobres" – conforme hoje também se prega na “Carta de Puebla” – e a desenvolver uma reflexão crítica da sociedade e dos Estados a partir da práxis libertadora dos cristãos. Neste ponto, inclusive, Juan Luis Segundo – um dos maiores teólogos latino-americanos – traz o conceito de “círculo hermenêutico”: a consciência sobre a realidade opressiva leva a uma prática libertadora, a qual alimenta uma reflexão teórica que, por sua vez, retroage sobre a realidade, renovando e aprofundando a ação social e política.

Esse conceito de “liberdade” pregado pelos teólogos da libertação não se subsume ao ir e vir, conceitos amplos da liberdade (a liberdade de). Na verdade, busca no “Livro do Êxodo” o cimento religioso e ideológico para o combate à opressão, à miséria e à desigualdade, aspectos fundamentais a serem combatidos pela real consecução da liberdade para.

Por conveniência do próprio comando vaticano, as teorias, as teses e as vontades encrostadas na “Teologia da Libertação” foram perseguidas, minadas, combatidas e ignoradas, à medida que a aliança aos donos do poder (e às elites, de maneira geral) e as benesses dela advindas eram mais convenientes; todavia, em diversos meios, os seus propósitos renascem e reerguem-se diante da imperiosa necessidade de se prosseguir no combate à miséria, à desigualdade e à exploração exacerbada do ser humano e da biodiversidade, ambas a visar à mera acumulação do capital.

Hoje, as vítimas deste individualismo espetacular, fruto do neoliberalismo criado pelo redivivo capitalismo não são menos numerosas nem menos sacrificadas do que todas aquelas vítimas que padeciam sob os regimes de exceção latino-americanos; afinal, qualquer tipo de ditadura, seja militar ou do mercado – patrocinada pelas elites, pela mídia e pelos agentes públicos conservadores e da direita –, deve ser combatida por quem se diz cristão.

No testemunho radical da cruz, Jesus Cristo descobre o rosto de Deus ao descer ao inferno do sofrimento humano, por um lado, e, por outro, ao partilhar das alegrias e sonhos da população mais pobre, indefesa e excluída. 

E nós, até quando restaremos cegos para descobrir a nossa cruel e injusta realidade, para enfim fraternizar nossas alegrias e riquezas?

Neste ponto, mais do que nunca, a Teologia da Libertação mostra-se viva e fundamental para orientar os cristãos a renovar os ideais de socialismo, igualdade e partilha, buscando sempre pautar as suas condutas na opção preferencial pelos pobres, já muito mais significativa após as mais necessárias reflexões deste período quaresmal.




# atleticanas (x)

fdsJá se sabia que o ABC de Natal não seria de se matar com a unha, não apenas pela (ainda) baixa produção do time rubro-negro, mas, principalmente, pela dificuldade que é enfrentar quaisquer dos times nordestinos lá por aquelas bandas, com aquela lua, aqueles gramados etc.
fdsDiante disso, o empate -- e ainda mais por dois gols -- certamente facilita as coisas e praticamente garante a classificação para a próxima fase, quando o Atlético enfrentará o Corinthians.
fdsTodavia, destaque mesmo merece este trecho da coluna do jornalista e causídico Augusto Mafuz, na Tribuna do Paraná que esta manhã circulará:
fds"(...) São poucos os treinadores que no futebol atual satisfazem a equação custo-benefício, que não está apenas nas conquistas, mas no uso do resultado da base que um clube faz. No mercado central, talvez, só Muricy, do São Paulo, embora Dorival Júnior esteja indo para o mesmo caminho. (...) A maioria é oportunista. Pior são os que juram amor a determinados clubes, fazem um papel perante a torcida, e outro na intimidade do clube. Resistem a lançarem jovens revelados pelo clube, porque a circulação de jogadores lhe interessa".
fdsAo fazer esta (nem tão) velada crítica ao treinador rubro-negro, o jornalista também exprime a mesma opinião aqui já esposada, à sombra da mangueira imortal: o Geninho abusa da sua condição de ídolo da massa, sangra os cofres do Clube Atlético Paranaense e aparenta interesses ocultos e obscuros ao não colocar para jogar os excelentes garotos revelados nas categorias de base.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

# dois pesos, duas medidas

fdsEra uma vez, numa manhã de um dia da semana qualquer no escritório em que era sócio de uma banca de advogados -- antes, portanto, do exílio europeu, das aulas e do mundo público --, eu e amigos víamos boquiabertos a capa da "Folha de São Paulo", numa foto de meia página, que lá trazia Fernando Henrique Cardoso (FHC), de braços abertos, não sob a Guanabara, mas perante o Congresso Nacional da França.
fdsAli, no escritório -- todos tapados pela cegueira branca que contagiava, com o discurso neoliberal, meio mundo --, lembro-me muito bem que estavam todos maravilhados com a cena, todos a elogiar o homem que era aplaudido de pé pelos parlamentares gauleses. Nos jornais televisivos, todos a exaltar a conduta do grande chefe de Estado brasileiro. Viva! Nas Folhas seguintes, o fato era curtido até rançar. Bravo! Na "Veja" daquela semana, fotos e frases daquele momento -- e de outro, no qual o presidente demo-tucano estava de fraque num jantar no Palácio de Buckingham -- eram destacados nas mais diversas partes da revista. Olé!
fdsSim, o lord FHC, aquele que ajudou a vender por 30 moedas o Brasil, era considerado o grande gênio nacional, o nosso salvador, e aquela cena, estampada na capa daquele jornal, era apenas a consagração disso tudo. Éramos uns boquiabertos tolos.
fdsPassados quase 8 anos, eis que agora, quando o Presidente Lula é considerado pelo mais poderoso governante do mundo como "o cara" e o "mais popular político da Terra", a repercussão e a consagração é relativizada, exaltando-se pejorativamente a frase final de Obama a Lula ("ele é boa pinta"). Agora, não vejo a mesma exaltação, o mesmo delírio e a mesma reverência neste fato -- muito mais significante, pelas circunstâncias políticas que o cercam -- quando comparadas àquele primeiro.
fdsOra, por que não se reconhecer que o atual presidente do Brasil tem uma moral, uma presença, uma importância e uma responsabilidade perante as outras nações que nunca nenhum outro teve? Por que as palavras de Obama e a fotos ao lado da rainha Elizabeth não mereceram a mesma exaltação daquele lânguido momento do queridinho dos donos do poder?
fdsAh, deve ser -- como veementemente (e preconceituosamente) afirma um grande amigo meu -- porque ele não passa de um ex-metalúrgico estúpido e ignorante...

domingo, 5 de abril de 2009

# atleticanas (ix)

Geninho dá ares de quem descobriu a pólvora.
Na entrevista coletiva que deu após o bom jogo e a boa vitória do Atlético na noite de ontem, reassumindo a liderança do octogonal decisivo do Campeonato Paranaense, Geninho parece que acordou após 4 meses de hibernação.
Entre outras bobagens e caretices que invariavelmente diz nas coletivas para a imprensa, Geninho traz o óbvio ululante, aquilo que aqui, à sombra da mangueira imortal, desde o início do ano, em uníssono com tantos amigos e torcedores, vimos dizendo; porém, parecia que ele avistava a Ilha de Vera Cruz.
Primeiro, se espanta com Fransergio -- uma das maiores revelações do CT do Caju desde Jadson e Fernandinho -- e diz que o guri leva jeito; depois, diz que o mago paraguaio Julio dos Santos dá uma cadência magnífica ao time, é um excelente armador e facilita o jogo para todo mundo. Ora, isso não é desde ontem, Geninho! Por onde você andou desde janeiro?
Enfim, quase sera tamen, com estas duas alterações, e mais a iminente e urgente entrada de Raul -- a nossa outra grande revelação -- na ala-direita, o Atlético já começa a se permitir sonhar com um esboço de time.

sábado, 4 de abril de 2009

# atleticanas (viii)

Ora pá, passaram-se 4 meses, dezenas de jogos desprezíveis e só agora, na fase final do Campeonato, faltando 4 jogos para se decidir o campeão paranaense, o medíocre -- ainda que sangue bom -- treinador rubro-negro Geninho resolve chamar para o time principal algumas das grandes revelações do time vice-campeão brasileiro de juniors.
Ora pá, tal atitude é no mínimo incoerente. E burra.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

# marxismo cristão


fdsfds Do periódico virtual "Carta Maior" (v. aqui), trazemos um texto de Leonardo Boff que, embora numa já conhecida temática -- acerca do mais verdadeiro papel a ser desempenhado pela nossa Igreja Católica, assente nos propósitos e na raison d'être do nosso cristianismo humano, real e libertário --, muito vem a calhar para a nossa reflexão neste período quaresmal.
fdsfds "Desde seu início, ao final dos anos 60, a Teologia da Libertação adotou uma perspectiva global, focada na condição dos pobres e oprimidos no mundo inteiro, vítimas de um sistema que vive da exploração do trabalho e da depredação da natureza. Esse sistema explora as classes trabalhadoras e as nações mais fracas. Além disso, reprime aqueles que oprimem e, portanto, contrariam seus próprios sentimentos humanitários. Em uma palavra, todos devem ser libertados de um sistema que perdura há pelo menos três séculos e foi imposto a todo o planeta.
fdsfds A Teologia da Libertação é a primeira teologia moderna que assumiu este objetivo global: pensar o destino da humanidade desde a condição das vítimas. Em consequência, sua primeira opção é comprometer-se com os pobres, a vida e a liberdade para todos. Surgiu na periferia das Igrejas centrais, não nos centros metropolitanos do pensamento consagrado. Por essa origem, sempre foi considera como suspeita pelos teólogos acadêmicos e principalmente pelas burocracias eclesiásticas e especialmente pela da Igreja mais importante, a católica-romana.
fdsfds A questão teológica de base que até agora não terminamos de responder é: como anunciar um Deus que é um pai bondoso em um mundo repleto de miseráveis? Só tem sentido se implica a transformação deste mundo, de maneira que os miseráveis deixem de gritar. Para que uma mudança semelhante tenha lugar eles próprios têm que tomar consciência, organizar-se e começar uma prática política de transformação e libertação social. Como a grande maioria dos pobres em nossos países era formada por cristãos, tratava-se de fazer da fé um fator de libertação. As igrejas que sentem herdeiras de Jesus, que foi um pobre e que não morreu de velho, mas sim na cruz como consequência de seu compromisso com Deus e com sua justiça, seriam as aliadas naturais deste movimento de cristãos pobres.
fdsfds Em razão de sua causa universal, já no início dos anos 70 a Teologia da Libertação era um movimento internacional e convocava verdadeiros fóruns teológicos mundiais. Estabeleceu-se um conselho editorial integrado por mais de cem teólogos latinoamericanos para compilar uma sistematização teológica em 53 volumes, desde a perspectiva da libertação. Já tinham sido publicados 13 volumes quando o Vaticano interveio para abortar o projeto. O então cardeal Joseph Ratzinger foi rigoroso. Cortou pela raiz um trabalho promissor e benéfico para todas as igrejas periféricas e especialmente para os pobres. Passará à história como o cardeal – e depois Papa – inimigo da inteligência dos pobres.
fdsfds A Teologia da Libertação criou uma cultura política, Ajudou a formar organizações sociais como o Movimento dos Sem Terra, a Pastoral Indígena, o Movimento Negro e foi fundamental na criação do Partido dos Trabalhadores no Brasil, cujo líder, o presidente Lula, sempre se reconheceu na Teologia da Libertação.
fdsfds Hoje em dia, essa teologia transcendeu os limites confessionais das Igrejas e se converteu em uma força político-social. Além de Lula, identificam-se publicamente com a Teologia da Libertação o presidente Rafael Correa, do Equador, o presidente (e ex-bispo) Fernando Lugo, do Paraguai, o presidente Daniel Ortega, da Nicarágua, o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, e o atual presidente da Assembléia das Nações Unidas, o sacerdote nicaragüense Miguel de Escoto. Sua força maior não reside na cátedra dos teólogos, mas sim nas inumeráveis comunidades eclesiais de base (só no Brasil existem cerca de cem mil), nos milhares e milhares de círculos nos quais se lê a Bíblia no contexto da opressão social e nas chamadas pastorais sociais.
fdsfds Roma incorre na profunda ilusão de acreditar que com seus documentos doutrinários emitidos por burocracias frias e distantes da vida concreta dos fiéis conseguirá frear a Teologia da Libertação. Ela nasceu ouvindo o grito dos pobres e hoje a comove o grito da Terra. Enquanto os pobres continuarem lamentando-se e a Terra gemendo sob a virulência produtivista e consumista, haverá mil razões para sentir o chamado de uma interpretação libertária e revolucionária dos evangelhos.
fdsfds A Teologia da Libertação é a resposta a uma realidade injusta e salva a Igreja central de sua alienação e de um certo cinismo."


 

quinta-feira, 2 de abril de 2009

# atleticanas (vii)

Venceu e, como não poderia deixar de ser, não convenceu.
Já não há mais dúvidas de que o atual Atlético é pior que aquele quase rebaixado no ano passado, vez que, além de ter perdido duas peças fundamentais para a ocasião -- Alan Bahia e Ferreira --, não conta mais com toda a áurea se sentimentos, de emoções e de energia que rodeavam aquele time, provocado pelo inadmissível temor da queda.
Por ora, o que deveria prevalecer era a técnica e a tática; todavia, ambas sucumbem a um elenco paupérrimo e a um treinador fraco, incapaz de enxergar a necessidade de formatar um novo sistema de jogo.
O que restou dessa magra vitória desta noite? A certeza -- já confirmada, à sombra da mangueira imortal, desde o Brasileirão do ano passado (v. aqui) -- de que o armador paraguaio Julio dos Santos deve ser tratado e respeitado como o dono do time, o nosso cérebro e o nosso camisa 10.
Afinal, ao lado do gigante Valencia e do milagreiro Galatto, são os únicos de quem a torcida rubro-negra pode esperar algo, o que é muito pouco para a insituição Clube Atlético Paranaense.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

# pingos nos is

O Ministério Público Federal (MPF) divulgou uma nota acerca das leviandades e das estultices propaladas pela mídia golpista no caso em que a Polícia Federal deflagrou a "Operação Castelo de Areia" e prendeu diversos bacanas da empreiteira Camargo Corrêa, uma das maiores do país, acusados de inúmeros crimes financeiros e econômicos.
Eis a nota -- muito didática para todos que não sabem como devem funcionar a investigação policial e o processo penal --, na qual o MPF detona os absurdos argumentos levantados pelos puxa-sacos midiáticos de plantão, os quais tentam defender, com unhas e dentes, a elite branca nativa.
fds
"Diante de prejulgamentos que surgem no noticiário da imprensa sobre a Operação Castelo de Areia, o Ministério Público Federal, como órgão responsável pelo acompanhamento das investigações e como fiscal da lei, tem o dever de consignar e comunicar à sociedade o que segue:
fds1) O conjunto probatório constante dos autos, lamentavelmente, não foi levado, na sua integralidade, ao conhecimento do Tribunal Regional Federal da 3ª Região que, por intermédio da digna Relatora do habeas corpus impetrado, e sob tais circunstâncias, decidiu liminarmente pela liberação dos diretores da Camargo Corrêa ora investigados e indiciados. O mesmo se dá com relação ao Supremo Tribunal Federal, que segundo veicula a imprensa, sem ter tido acesso aos autos, estaria, por meio de alguns de seus ministros, veiculando prejulgamentos contrários à forma de deflagração da operação;
fds2) O MPF, ao formular os pedidos de prisão preventiva e temporária dos investigados, assim como os de busca e apreensão, agiu no exercício de sua estrita responsabilidade legal e social, analisando tanto o conteúdo das provas materiais já constantes dos autos - e que apontam para a efetiva prática de crimes financeiros e de lavagem de dinheiro - como os pressupostos processuais legais que autorizaram as medidas constritivas adotadas pelo Juízo Federal de primeiro grau, inclusive as ordens de prisão cautelar;
fds3) Em momento nenhum, os pedidos de prisão preventiva e temporária foram utilizados para garantir a conclusão dos interrogatórios dos investigados, nem, tampouco, como antecipação de pena. Tais medidas estiveram estritamente inseridas dentro de um contexto de legalidade, encontrando-se respaldadas, inclusive, por precedentes de Tribunais Superiores - que, em circunstâncias coincidentes, com a participação de pessoas de perfis e condutas semelhantes aos dos investigados, vem, ao contrário do quanto propalado na imprensa, autorizando as prisões preventivas e temporárias nos crimes financeiros e de lavagem de dinheiro;
fds4) Independentemente da fundamentação que tenha sido utilizada na decisão judicial de primeira instância, que decretou a prisão dos investigados e dos óbices levantados pelos seus advogados, é preciso registrar que a deflagração da Operação Castelo de Areia pela Polícia Federal, com ampla participação e respaldo por parte do Ministério Público Federal, manifestado nos contundentes, mas imprescindíveis pedidos de prisões e buscas cautelares, se constituiu numa ação responsável, pautada pelo direito e pelos critérios processuais e jurisprudenciais que norteiam decisões desse quilate, como se deu em inúmeros casos assemelhados e os quais, não obstante impugnados via recursal, jamais tiveram a sua idoneidade questionada;
fds5) As buscas e apreensões no âmbito da empresa Camargo Corrêa seguiram os parâmetros legais, inclusive no espaço reservado à prestação de assistência jurídica ao próprio Grupo. Em preceito algum, a Lei 11.767/2008 ressalva os escritórios de advocacia (ou departamentos jurídicos de empresas) como redutos revestidos de inviolabilidade absoluta, justamente para se evitar a blindagem intencional, por parte de pessoas físicas ou jurídicas que possam deles se utilizar para encobrir o possível cometimento de crimes. Os diretores da Camargo Corrêa investigados têm a seu dispor escritório de advocacia instalado no mesmo prédio. Sob tal justificativa, foi convocado representante da OAB ao local para acompanhar a execução das medidas - fato ignorado nas reportagens. Portanto, não pareceu ao MPF como caracterizada, sob nenhum aspecto, muito menos técnico, a ocorrência de qualquer excesso ou mesmo ilegalidade na adoção de tal medida judicial;
fds6) O envolvimento dos investigados com doações a partidos políticos não fundamentou os pedidos de prisão e de busca, baseados, essencialmente, nas já consistentes provas de crimes financeiros e de lavagem de dinheiro constantes dos autos. Entretanto, a descoberta, nas buscas e apreensões, de eventuais elementos que venham indicar a suposta prática de crimes eleitorais serão, oportunamente e ao final da análise de toda a documentação apreendida, enviadas ao Ministério Público Eleitoral competente;
fds7) Por esta razão, e em defesa incondicional da legalidade e constitucionalidade que sempre norteou as ações do Ministério Público Federal, manifesto nossa inteira credibilidade na Justiça, em todos os seus níveis - inobstante questionamentos judiciais manifestados no decorrer das investigações - ações estas que estiveram e continuarão pautadas na sua serena, legítima e independente busca pela verdade real e pelo seu integral compartilhamento com as autoridades responsáveis pela condução e eventual revisão da investigação, com vistas à sua à detalhada e suficiente conclusão."