terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

# cuba (permanece) libre


A mostrar o grande – e sempre criticado – homem político que é, Fidel Castro reconheceu que o corpo venceu a sua alma e a sua mente e resolveu não dispor o seu nome para a próximas eleições cubanas, em março.
 
As seguintes palavras deverão ser talhadas em bronze: "A mis entrañables compatriotas, que me hicieron el inmenso honor de elegirme en días recientes como miembro del Parlamento, en cuyo seno se deben adoptar acuerdos importantes para el destino de nuestra Revolución, les comunico que no aspiraré ni aceptaré – repito – no aspiraré ni aceptaré, el cargo de Presidente del Consejo de Estado y Comandante en Jefe", pois, após meio século comandando Cuba – e sendo intransigente às tantas novas ordens mundiais que, medusicamente, conseguem perverter o mundo –, Fidel não será mais, oficialmente, o próximo líder cubano.

Já foi dito e confirmo: é o único mito político vivo, talvez ao lado do sul-africano Nelson Mandela.

Não entrarei nos pormenores heroicos deste homem, deste país e desta gente; não explanarei sobre todas as questões que os cercam, do bem e ainda que heterodoxas; e, principalmente, não discorrei sobre quem foi, é e será este grande herói.

Na verdade, a presente observação serve apenas para, mais uma vez, aplaudir a sábia decisão de Fidel, que assim se qualifica por duas razões principais.

Primeiro, porque as "hienas" e os "abutres" de plantão não terão o gosto de ler (ou ouvir) que Fidel renunciou – uma manifestação patentemente negativa e que denotaria fraqueza. Sim, o que a imprensa golpista insiste em colocar nas manchetes é uma mentira, pois não há "renúncia".

Convém lembrar que a recusa em concorrer aos cargos de Comandante-Chefe e Presidente do Conselho de Estado em disputa nas próximas eleições não significa uma "renúncia" de Fidel. Não há renúncia, porque Fidel não "renuncia" ao poder – e isto está claro na sua carta-mensagem.

Repita-se, não se renuncia algo que (ainda) não se tem, à medida que haverá uma nova eleição em março para se eleger a nova direção do partido (e do país).

O fato de não querer disputar as próximas eleições, uma vez que teria condições (visto que fora um dos eleitos para o Parlamento) – e ainda que se pressuponha que, se candidato aos cargos máximos, seria certamente escolhido –, não significa uma renúncia, pois cumprirá até o fim o mandato que lhe outorgaram. Simplesmente reconheceu não ter mais condições físicas de disputar novas eleições, e, então, liderar o povo cubano e a frente alternativa global para algo diferente desta desigualdade, com mãos fortes e com inoxidáveis algemas para as mãos livres do mercado.

Segundo, porque as "hienas" e os "abutres" de plantão não terão o gosto de esperar a sua morte para pretenderem "tomar o poder" e "tornar livre o povo cubano". Sim, era isso que todos esperavam. Agora, com tal decisão, haverá uma transição natural do poder – logicamente que com todas as dificuldades naturais que qualquer mudança ocasiona –, talvez exercido na ponta por Raúl Castro – um dos poucos do grupo remanescente de 1953 –, e não acontecerá o que seria a pior coisa para Cuba (e para a humanidade), ou seja, o vácuo provocado pela sua morte, a possibilitar toda uma pressão internacional, maiormente da mídia e das "fiesp´s", pelo "necessário" (sic) desprezo aos princípios da soberania e da autodeterminação dos povos, e a ingestão estadunidense para, com seus tanques e yankees, "ocuparem" o comando geral.

Assim, com o grande comandante por perto, ainda ativo com a sua doutrina, a sua experiência e a sua voz, e a direção do estado cubano devida e tempestivamente preenchida – e não vacante, como causa certa (e crónica) de uma morte anunciada –, os ideólogos do pensamento único (e dos "restos" cubanos) deverão procurar outras freguesias para impor as suas idéias: quem sabe a China, destratando-a também por ter um partido único (o "Partido Comunista Chinês) e não gostar dessa pseudo-democracia ocidental...
 
Enfim, vê-se que hoje, em Cuba, não há espaço para essas "hienas" e esses "abutres", pois o terreno cubano ainda pertence aos seus leões que, não obstante a aposentadoria de um deles, buscam exemplarmente um mundo melhor para os seus filhos, hipossuficientes à carnificina do mercado desregrado e (auto)proclamado onipotente.