segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

# ecos do fim do mundo


Papa Francisco está prestes a morrer, e de morte matada.
 
Sinceramente, não acredito que a política vaticanista, os donos do poder e a comunidade burguesa internacional admitirão a sobrevida deste grande homem, que vem para chacoalhar as ideias da Igreja, dos católicos e de nós, humanos, demasiadamente humanos.

A cada dia, a cada mensagem, a cada visita, o Sr. Bergoglio – o Papa! – aprofunda o dedo nas feridas e nas veias abertas do nosso mundo.
 
Se na primeira “encíclica” de Sua Santidade – Lumen Fidei, em junho (v. aqui) – a mexida foi suave e pontual, agora, na primeira “exortação apostólica”, Evangelii Gaudium (v. aqui), o balanço foi geral, agudo e intenso.
 
Na contramão do que os seus antecessores mais recentes fizeram – João Paulo II, o tucano polaco, e Bento XVI, o teórico ratzinger –, o argentino Francisco veio lá do fim do mundo para dar as cartas e abertamente contestar todo este sistema.

Com veementes críticas ao processo capitalista (“uma nova tirania”), ao livre-mercado (“esta opinião, que nunca foi confirmada pelos fatos, exprime uma confiança vaga e ingênua na bondade daqueles que detêm o poder econômico e nos mecanismos sacralizados do sistema econômico reinante, entretanto, os excluídos continuam a esperar”), à péssima distribuição de renda, à acumulação materialista (“a economia de exclusão e desigualdade mata pessoas por todo o mundo”) e à miserabilização das relações humanas (“sistema sem ética, no centro, há um ídolo, e o mundo tornou-se idólatra do dinheiro”), Sua Santidade não perdoa.
 
Nas entrelinhas, ratifica-se o que a “teologia da libertação” propõe desde o final dos anos 60.
 
Indagado pelos meios de comunicação sobre ser marxista, responde: “não sou” mas “não me sinto ofendido com essa acusação” (v. aqui).
 
Enfim, um papa que não se omite de falar e fazer política, como todo homem público deve fazer.

E, diferente daquele pop João Paulo II, este nosso popular Papa Francisco fala e faz a política del otro lado del rio.

Com poucas (e poucos) papas na língua.