quarta-feira, 1 de junho de 2016

# uga-uga



Não entendo de muitas coisas, muitas.

Uma delas, e a qual tem me causado uma certa angústia, é o jeito e a dinâmica desse negócio  de redes sociais, uma doente vitrine humana (v. aqui).

Talvez por não ser muito ligado à elas  tenho apenas um tímido perfil no twitter, nunca estive no ~face~ ou no ~insta~ e não uso whatsapp , acho bem estranho, por exemplo, os desenhinhos que pululam por todos os cantos, colorindo as conversas on-line constrangedoramente e que mais parece um processo de reinfantilização ou um retrocesso às cavernas.

Saramago, pouco antes de morrer, já disse isso, ao se deparar com o hábito pós-moderno da comunicação (v. aqui), e realmente parece que regredimos a ponto de, daqui a pouco, voltar a nos comunicar por “grunhidos”.

O gosto, ora, é imenso por essa nova modalidade de arte rupestre: são “carinhas com sorriso” para dizer, por exemplo, obrigado, são “palmas estaladas” para falar, simplesmente, parabéns, são “polegares para baixo” para falar não gostei... parece-me, pois, a bancarrota da comunicação escrita.

Por quê?

Dia desses dois bons amigos comentavam a loucura do “twitter” e seus pistoleiros mastodontes à caça de homo sapiens (v. aqui).

A mim, meio curumim nisso, me parece que boa parte desta mais nova ágora pós-moderna funciona mezzo como um palanque para tipos celenterados que buscam ali seus 140 caracteres de fama, mezzo como um divã para verdadeiras anêmonas despejarem seus recalques e frustrações, tudo sempre sob uma lógica funcional ausente de racionalidade e de crítica, sem corpo e sem eco, finada em si, numa tola ilusão de que podem alcançar os seus destinatários.

Em ambos os casos, mero reflexo disentérico de uma gente capenga, de quengas incapazes de construir ideias e, principalmente, de aceitar a conversa, a dialética, de querer ouvir, de saber falar e de ousar pensar, unidimensionalmente movida pelo instinto narciso de posar ou covarde de ofender.

Portanto, se não está a gritar debilmente, esta massa está despejando palavras sem pés, sem mãos, sem cabeça, sem tronco, sem nada, simplesmente pelo "prazer" de comentar, retrucar, dar pitacos sobre o que não parou segundos para refletir, num arraial de frases feitas e burras que apenas revelam para o mundo quem são (seus valores) e o que representam (seus fetiches).

Claro que não pretendo qualquer ruptura no avanço tecnológico que tão bem faz na dose certa das nossas necessidades – inclusive para aquelas que ainda nem criamos... –, como também não imagino que todo bate-papo informal deva exigir teses, ritos e uma pomposidade medieval.

Contudo, o abuso no uso dos meios virtuais e o repúdio à falta de inteligência e de decência no trato com tantos involuntários interlocutores devem merecer máxima atenção.

E, por vezes, o recuo neste campo de jogo e o pujante silêncio diante dos indesejados ataques de ratos e rampeiras que se escondem no anonimato formal ou material da internet sejam as melhores soluções.

Afinal, estricnina e antirrábica só funcionam, por ora, no mundo real.