Encerrar ciclos sempre machuca um pouco.
É a nossa história sendo passada de página, como capítulos encerrados; porém, diferente de um livro, não se pode mais voltar a ler.
Vamos crescendo, vamos mudando e livros vão se fechando.
E não basta de quando em vez ir à biblioteca para abri-lo, afinal, o tempo não para, nem volta – o que resta são as memórias.
Não tenho da cabeça estes momentos da minha infância, não sei explicar muito bem por onde ficaram ou foram guardadas.
Mas hoje tive a experiência de viver um destes ciclos fechados por alguém tão de mim perto no auge dos seus dez anos.
Era a despedida dele do seu time de futsal, depois de um intenso convívio – praticamente sem falhas, fizesse chuva ou sol, inclusive nos casamentos de espanhol – que lá antes da pandemia se iniciou, depois se interrompeu e durou até hoje.
Durante a semana já sabíamos que esta quarta-feira seria cheia de abraços tristes e boas recordações, ainda mais para ele que explode em sentimentos desta natureza, rememorando cada canto e cada episódio daquele clube e daquela gente.
Antes de entrar no ginásio, bem notei o seu olhar longe e o respirar fundo, parecia também dar piscadelas como discretos acenos ao caminho tantas vezes feito.
Sei que no seu íntimo imaginário infantil também via uma multidão gritando e chorando por ele, agitando lenços brancos de adeus, clamando para que eternamente ficasse.
E eis que ali novamente ele chegou.
Com toda a inspiração, com muito amor e emoção, mostrando como sempre toda sua força e sua raça, fazia mais um dos seus dedicados treinos.
Ocorre que nos instantes finais deste seu último coletivo, quis o destino que ele deixasse o lugar e todo aquele seu pessoal com uma jogada celestial: desarmou antes do meio da quadra, driblou dois, arrancou, deu um toque, driblou o goleiro e, apesar de toda a humildade que lhe caracteriza, entrou com bola e tudo.
Um verdadeiro gol de placa que eu, magnético à beira da quadra, largara as anotações de praxe para aplaudi-lo – e essa foi provavelmente a primeira fez que o fizera, não por falta de seus méritos, mas pela minha rabugice de king richard que insisto transmitir.
Em seguida, o treinador apita o fim do treino.
E ele percebe que acabou.
Ao sair da quadra, vem à minha direção cabisbaixo, com muito suor, com todo o corpo vermelho do sangue ainda bem quente e, sem mais segurar, muitas lágrimas.
Um pranto de quem ali tinha confirmado o encerrar de uma boa fase, de uma agenda atlética divertida e moderadamente descompromissada, mas que dali em diante iria adquirir ares mais sérios num outro clube federado.
Aquilo aconteceria, ele sabia, para então abrir caminho para outras novas coisas acontecerem – é o "ciclo da vida", como um certo leão-rei já desenhou.
Bem, ali não pude lhe dizer mais nada e nem o momento talvez admitisse.
Na saída, apenas agradeci por ser o menino que é.
Um piá por quem diariamente e cada vez mais me encanto.
Que maravilha, filho.