quinta-feira, 22 de junho de 2023

# demasiado humano


Um ótimo texto trouxe, sob o viés jurídico-político, as explicações para a indicação do Presidente Lula do seu advogado particular para a Suprema Corte.

Mas é preciso ter algumas ressalvas e também enxergar por outro plano o fim desta medida: o dever de dizer que "a política venceu".

A política vencer significa, no caso, reescrever mais uma vez que "Lula venceu".

E por ter vencido, Lula pôde escolher o sujeito que processualmente enfrentou o seu maior algoz, aquele cujo sonho, veja só, era justamente ocupar uma das cadeiras do STF, um desejo pelo qual vez literalmente de tudo para tentar realizar.

Principal alvo da bizarra operação Lava-Jato  como as jornadas de junho, não durou 15 dias nas ruas até ser usada como meio de derrubar um partido político , Lula foi até o fim com esta sua ideia: registrar na história do judiciário brasileiro, de modo definitivo, a derrota do grupo que, por meio do próprio Poder Judiciário, buscava exterminá-lo da vida (pública).

E conseguiu. 

E fez isso do modo mais cinematograficamente sádico possível, numa mistura de genial com visceral, de quem tira um sui generis gremlin da cartola (e do fígado). Algo inimaginável há, veja só, seis anos... O tempo voa e a vida sopra tufões que viram de cabeça pra baixo o presente.

Porém, a que custo isso?

A Constituição determina que um membro do STF deve ter ilibada conduta e notório saber jurídico, sendo prerrogativa do Presidente da República indicar o nome a ser referendado pelo Senado. 

Convenhamos, mesmo no mundo cinzento e ordinário dos operadores do Direito e apesar do nível desastroso das milhões de faculdades de Direito, não são atributos raros de qualquer cidadão minimamente ético e estudioso dispor.

Agora, porém, Lula perde a oportunidade de marcar esta sua vitória contra os picaretas que o trancafiaram por 580 dias  e que permitiram um tipo anticristo assumir o país por 4 anos , abrindo mão de indicar outro nome. 

Mesmo sabendo das curtas rédeas que a democracia brasileira oferece ao comando do Chefe do Executivo, Lula poderia apresentar um grande nome, indiscutível sob o ponto de vista da ciência do Direito e, mais ainda, da luta política que a aplicação do Direito exige.

Um nome vinculado historicamente à esquerda. 

Um nome associado organicamente às lutas sociais. 

Um nome impessoalmente ligado à defesa das grandes causas político-constitucionais. 

Um nome ligado notoriamente ao pensamento jurídico progressista. 

Mas o nome indicado pelo Presidente Lula não parecer dar guarida a tais características. E isso pode, mais ou menos cedo, trazer problemas e prejuízos para quem pretende construir uma sociedade sob uma visão de mundo progressista. 

Ora, o indicado Cristiano Zanin em toda a sua histórica discrição – ou quase anonimato? – nunca pareceu e nem se comportou como um homem de esquerda, ostensivamente vinculado às pautas e às raízes da esquerda, do ponto de vista jurídico, político, social, econômico... Zanin, na verdade, simplesmente foi advogado de um homem de centro-esquerda. 

Ocorre que a química que forma e fundamenta o mundo e as nossas decisões não dispõe de elementos tão racionais assim. 

É uma química que não é ciência exata. 

É uma matemática que conta mais com a bílis do que com a métrica juspolítica. 

É uma física que faz valer a ideia de que o sabor da vingança move montanhas. 

E por isso se compreende a suprema indicação, afinal, Lula é um ser humano.

Humano, demasiado humano.