terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

# um flautista de hamelin

 
Há milênios, sou das vozes que ecoam contra uma Copa do Mundo no Brasil.
 
E, desde o início, não era por preconceito, partidarismo, ideologia ou coisas do gênero; era, pois, pela "economia" (e pelas public choices), com sede inclusive em inúmeros estudos recentes que demonstram a falácia (ou imprecisão) dos argumentos a favor destes megaeventos (v. aqui, aqui, aqui e aqui).
 
"Entusiasmo político", "orgulho patriótico", "felicidade do povo", enfim, todas ideias metafísicas nas quais (ainda) não podemos nos sustentar para admitir o patrocínio de eventos desta natureza; e, claro, chutes do tipo enxurrada de investimentos privados, chuva de dinheiro internacional, superaquecimento das relações comerciais internas e avalanche de turistas estrangeiros são mentiras, ou no mínimo meia-verdades que a realidade e a história põem à mostra.
 
Agora, entre isso e o boicote ao evento que o nosso país sediará há um abismo, um cenário que em hipótese alguma pode permitir a mínima proximidade.
 
Ora, esta gente toda que chia e guincha, a carregar o tosco mote "não vai ter Copa", soa mal, soa infantil.
 
Quer o quê? Imagina o quê? 
 
Onde esteve há 11 anos, quando o Brasil se articulava para preparar a sua candidatura? Onde esteve quando fomos anunciados como país-sede? Onde esteve, ano a ano, desde o início dos preparativos?
 
Num oba-oba funesto, parecia ser empurrada pelos rompantes político-eleitorais que queriam a luxúria do negócio, era deslumbrada pelos discursos da raça empresária nativa que sonhava com os negócios da coisa e era lobotomizada pela mídia que sempre se empolgou com a ideia.
 
Mas, agora, na ultraiminência do evento, nota-se uma galera que surge para se indignar, ressuscitada pelo novo som hipnotizante da grande imprensa que, vejam só, brada os tantos (e naturais) erros envolvidos na organização, que supervaloriza a centenária falta de investimentos em lugares-chave e que sonha pela catástrofe, afinal, é ano eleitoral e um show de horrores seria a maior chance para, enfim, destruir este Governo. 
 
Lamentável.
 
Afinal, era antes que se tinha que discutir, era antes que se devia cobrar, era antes que se precisava desmascarar, era antes que se necessitava destruir, era antes que se tinha que abrir os olhos para o mau gasto e para a má escolha pública, era antes que se tinha que ir às ruas para dizer não.

Era tudo antes do agora.
 
Por isso, neste momento em que o maior evento do planeta chegou, é claro que torço a favor, é claro que quero ver o nosso país bem falado mundo afora, é claro que quero ver a minha nação bem na foto e nas manchetes, é claro que quero ver uma mínima infraestrutura funcionando, é claro que quero ver tudo quase-pronto, é claro que quero ver seleções, torcedores, autoridades e imprensa bem recepcionados, bem à vontade e vendo o meu Brasil campeão.
 
E, assim, com a minha flauta sairei pelas ruas a anunciar: "vai ter Copa"!


Em dó maior