segunda-feira, 18 de agosto de 2014

# a aranha e a tábua de salvação


Dantes uma mera eco-fundamentalista neandertal, eis que a grande mídia (e a classe média) redescobre Marina Silva e faz dela a evolução da espécie política para recarimbá-la como a “queridinha do Brasil”.

Mas, convenhamos, não há nenhuma surpresa nesse fato: há quatro anos a estratégia foi a mesma e, há oito, até em Heloísa Helena a onda midiática depositou certas esperanças de conter Dilma e Lula.

O que não se esperava, porém, é a mesma tática com a mesma pessoa (v. aqui).

Hoje, com a morte da plataforma Eduardo Campos e seus pífios 8%, a coisa transmuda e novamente vem esverdeada, com um sorriso franciscano e com ares de mico-leão-dourado.

Se antes Marina saiu do PT (e do Governo) para não entrar na história, agora os ventos parecem soprar com mais força e carregá-la junto sabe-se bem para onde.

Ainda raivosa pelo fato de Lula ter preterido-a em relação à Dilma como candidata presidencial de 2010, Marina entregou-se ao ardiloso e insistente assédio do afoito Campos, pois nele enxergou a oportunidade de ressurgir do nada, ressair do ostracismo e resplandecer para os holofotes platinados e midiáticos globais. 

Sabe-se, claro, que no Brasil os verdes nunca federam e nem cheiraram o orgânico sabor de um partido ideológico e independente. 

Aproveitando-se disso, Marina debandou para tentar ficar mais moderninha e livre para criar um novo partido, uma tal de REDE que até hoje não saiu do papel e não enredou ninguém.

Logo, o real foco, agora, é outro, e nada sócio-filosófico-ideológico-antropológico-ecológico... 

E ela passou a ser bastante (e convenientemente) pragmática, com a sua filiação à uma ensopada legenda (PSB) e com um discurso ubíquo e umbilicalmente ligado a tudo e a todos. 

Em suma, se na lente da Globo a candidata Marina condena o pragmatismo do PT, fora dela faz o mesmo, travestido de "alternativa".

Ora, nestes nossos tempos, os ex-verdes olorizam-se pelo aroma prosecco das cheias taças que desfilam sobre as mesas enfeitadas da malta pequeno-burguesa, sob o arrepio de se fazer um "nova política"  é, segundo eles, a lógica da darwinização.

E desta cepa, como indefectível fruto, brota Marina Silva.

Marina, a reboque da grande mídia, que por sua vez é porta-voz dos grandes interesses econômico-financeiros e da ignorância da classe média, tem uma meta: matar a gestão Lula e Dilma, usando como arma a comoção geral em face do episódio trágico, a atmosfera de pena e de velas transmitida a toda hora sob um ar de "recado divino". 

Marina, coitada, antes defensora de índios, boitatá e pirarucus e da política evangelista – e não da evangelização na política –, torna-se agora a última esperança de um 2º turno e a última bala de prata da oposição retrógrada. E, assim, torna-se a heroína defensora das políticas mais atrasadas e mais reacionárias do mundo político.

Marina, com o mote de sair-se bem aos olhos do povo, nega o desenvolvimento e nega a política, pretendendo que se despolitize a Política (v. aqui). E, assim, cai no gosto populesco com as teses do mundo privado, privatista e não-governamental.

Marina não tem senso administrativo, não tem noção de gestão pública e não tem governança alguma, e por isso - sim, por isso! - foi catapultada como a grande herdeira de um espólio ainda bastante raso. E, assim, acalanta os interesses de quem quer ver uma marionete no comando do Estado.

Marina, ainda, com esta cantilena da "terceira via", veste um capuz mágico para iludir que há outro caminho além da direita ou da esquerda

Ora, ora... se não vou para lá e nem para cá – ainda que mais ou menos próximo das extremas e do centro –, fico no meio e, então, passo a ser um conservador. E é desse jogo que as famiglias nacionais gostam, e dos seus resultados são dependentes. E é este clima que os revoltosos nacionais curtem, e do seu chorume é que se fartam (v. aqui).

Marina, meus caros, embora com um passado que não o faça ser de direita e com algumas convicções do presente que não a façam estar à direita, é apenas mais uma destas figuras que se tornaram da direita (v. aqui).

Diante da atual conjuntura nacional que não engole mais o papo da turma demo-tucana e que já prepara o seu funeral – salvo, ainda, no Estado de São Paulo –, Marina traveste-se como a exótica musa capaz de convencer alienados e descolados de que o projeto petista não pode mais seguir em frente.

E, assim, nela se vê a única (e última) esperança de derrotar Dilma que, de chapeuzinho do MST e vestida de vermelho, finalmente dançará a sua dança para, neste seu próximo mandato, propor um governo sem o diabo (v. aqui).

Sim, apenas a ex-chapeuzinho verde será agora capaz de levar os interesses conservadores para um 2º turno, momento em que se tentará, a todo custo, promover a reviravolta eleitoral e insistir com a "ordem" em um país que precisa retomar o progresso (v. aqui).

E, por isso, desconfia-se até que a tosca candidatura de Aécio Neves seja abandonada e que a banda tucana e todo o turbilhão da grande mídia pule de cabeça na débil teia da "Viúva Branca", uma espécie rara, inapta para atacar e incapaz de armar e sustentar a sua própria estrutura, agindo apenas por meio de um blá-blá-blá turvo, volúvel e vazio, bem a gosto das co-espécies verdadeiramente venenosas

O jogo, assim, está com essa gente toda que, não tendo a mínima coragem de votar no ideal retrógrado e vendilhão do PSDB – e de admitir, pelas vias diretas, a volta do mercado na condução do Estado – e tendo máximo hor-ror aos acertos e erros do PT – e de reconhecer, nas urnas, os progressistas governos que Lula e Dilma fizeram –, preferirá sair do “nulo”, do “branco” ou da “abstenção” para cair no conto da vigária.

Enfim, nesta fúnebre alquimia que está a criar uma candidata sobre-humana, finalmente há um certo risco de Dilma não ser eleita, para júbilo da oposição.

E para agonia do Brasil.