segunda-feira, 29 de julho de 2013

# história em movimento


Posso estar enganado, mas é sempre emocionante ver a história sendo escrita assim, sob os nossos olhos.

Afinal, se é possível ter expectativa em progresso e remoralização da Igreja Católica, este parece ser um momento, uma vez que desde João XXIII (1959-1963) não havia alguém com um discurso tão sincero, tão direto e tão corajoso quanto este de Bergoglio, o Papa Francisco.
 
Mais ainda, desde aquele final dos anos 50 que a Igreja Católica não se deparava com um pastor, um homem que deixa a teologia dogmática para os momentos apropriados – muito diferente do ultrateórico e ultraconservador Ratzinger (o Bento XVI) – e que vem ao povo sem amarras e submissões políticas – muito diferente do marqueteiro reacionário Wojtyla (o João Paulo II).
 
E mais, insiste com um discurso que não se esconde atrás de uma intangibilidade monárquica da Cúria e que não rejeita a maiores vocações cristãs, ou seja, servir e professar a fé, em especial aos pobres e marginalizados.
 
E foi além, não tendo receio em apontar o dedo para um dos grandes equívocos da Igreja, ou seja, a barreira que se impôs diante da sua gente, apontamento este que foi direto, olhos-nos-olhos dos bispos e cardeais da Conferência Episcopal Latino-Americana (CELAM), em reunião que ocorrera horas antes dele partir e que fora transmitida ao vivo pela televisão.
 
E as posições a serem adotadas foram claras, e as declarações foram fortes.
 
Aqui, em rápidas palavras, se pode perceber que há uma aproximação e um aproveitamento do que a Teologia da Libertação trouxe, construiu e prega (v. aqui, aqui, aqui e aqui), sem precisar renunciar à Igreja e sem ainda causar muita urticária na maioria que ainda crê numa igreja social e libertária incoerente com a doutrina católica e apostólica.
 
(Lembro que a Teologia da Libertação nasce na América Latina dos anos 60, seio da vivência sacerdotal do atual Papa, o qual não fora nada simpático às teses daquela revolucionária escola católica).
 
Ainda que criticando a teologia socializante e do deus ex-machina – tanto quanto criticando a teologia liberal do capitalismo e do deus-dinheiro –, não se pode negar que Papa Francisco quer avançar neste tema e inserir temas sociais na vida e na visão da Cúria e da sociedade católica.
 
Sim, a Igreja não pode ficar longe da Política, não pode se esconder da realidade econômica-social que nos angustia e nos revolta, o que não pode ser confundido com fazer política e partidarismo.
 
Fieis e Igreja não podem fechar os olhos para o mar de injustiças sociais que a toda hora é mostrado, em um selvagem desequilíbrio social que joga na miséria um número cada vez mais de seres humanos, como se meros tijolos fossem.
 
E é deste “humanismo desumano” que o Papa pede atenção.
 
E é contra esta forma de vida, contra a “cultura do provisório” e do curtir o momento que ele pede aos jovens: “Sejam revolucionários!”.
 
E esta frase nunca esteve tão perto daquilo que uma Igreja social e uma teologia da libertação desejam. Nunca este tão próxima de retomar, com afinco e seriedade, o trabalho nas pastorais e nas CEBs, e a atuação no seio das necessidades espirituais e materiais das nossas comunidades.
 
Ora, ficou claro que em um mundo just in time e plugado de novos desafios, paradigmas e aspirações, Francisco é um papa que entendeu o recado que muitos quiseram ignorar ou reinterpretar de acordo com as próprias posições, ou de acordo com as posições que politicamente fossem mais convenientes.
 
Vida longa ao Papa! embora o próprio Francisco não pareça acreditar nisso, haja vista os tantos e seguidos pedidos de oração que faz por si.