Com base em um discurso hipócrita, vazio e dissociado da realidade, os clubes de futebol estão reproduzindo, em massa, o fetiche da gestão.
E, junto com ela – e no lado oposto ao interesse maior – a babaquice está a imperar em cada setor, a elitização em cada atitude e a precarização do futebol em cada compromisso com o mercado.
Insiste-se, pois, em um clube sem o povo, sem o torcedor e sem um time – e isso, meus senhores, não é um clube de futebol: é uma mera organização.
E, pior, uma organização que não pode acreditar na fantasia do "sem fins lucrativos", pois é notória a mercantilização do negócio, que nas entranhas dos clubes beneficia, num círculo vicioso, dirigentes, empresários, patrocinadores e meia dúzia de boleiros. Ou seja, uma entidade dissimulada, uma fraude, um faz-de-conta sem final feliz.
Ora, a falácia da contabilidade azul, da gestão financeira pós-moderna e da contratualização fabulosa de tudo, além de mascarar o cotidiano sórdido de maracutaias sem fim, ocupa o espaço inamovível do campo, da bola e dos jogadores, autênticos e sacrossantos entes do velho e rude esporte bretão.
Não se prega aqui a crise, a bancarrota ou a picaretagem nos atos e nos intestinos dos clubes (v. aqui e aqui).
Mas, sim, quer-se o resgate da verdade e da razão de ser do futebol: um time e a sua torcida.
Um time que seja para a sua torcida, e não feito de jogadores escalados por interesses financeiros a mando de donos bufões e seus compromissos pessoais, por ordens televisivas ou por convenientes intelecções técnicas.
Um time que seja para a sua torcida, e não feito de jogadores escalados por interesses financeiros a mando de donos bufões e seus compromissos pessoais, por ordens televisivas ou por convenientes intelecções técnicas.
E uma torcida que seja da sua gente, do seu povo, e não reduzida à nata social, com suas camisas oficiais de cem dólares, seus tickets a preço de ouro, suas bocarras de fast-food e seus flashs sincronizados com redes sociais e distantes do campo de futebol.
Há de se ter em vista que o nosso exemplo não pode ser os esportes profissionais estadunidenses, cujos tipos e fins são outros, intimamente ligados aos gostos, padrões e ideais ianques.
Afinal, o nosso mundo é o futebol, sobre a nossa cultura e como nosso patrimônio.
Chega de "arenas", de "balanços superpositivos", de "chuteiras coloridas", de "marketing", "pirofagia" e "malabares".
Chega de super-receitas para supérfluos times, de ingressos com valores nobiliárquicos e de menosprezo às tradições, à torcida e ao trato com a bola.
O futebol brasileiro quer times e torcidas, quer jogadores e estádios, quer, em suma, futebol.
Para o resgate da nossa própria gente e da nossa alma.