quinta-feira, 5 de junho de 2014

# quatro linhas e as hipotenusas


Com base em um discurso hipócrita, vazio e dissociado da realidade, os clubes de futebol estão reproduzindo, em massa, o fetiche da gestão.

E, junto com ela  e no lado oposto ao interesse maior  a babaquice está a imperar em cada setor, a elitização em cada atitude e a precarização do futebol em cada compromisso com o mercado.

Insiste-se, pois, em um clube sem o povo, sem o torcedor e sem um time  e isso, meus senhores, não é um clube de futebol: é uma mera organização.

E, pior, uma organização que não pode acreditar na fantasia do "sem fins lucrativos", pois é notória a mercantilização do negócio, que nas entranhas dos clubes beneficia, num círculo vicioso, dirigentes, empresários, patrocinadores e meia dúzia de boleiros. Ou seja, uma entidade dissimulada, uma fraude, um faz-de-conta sem final feliz.

Ora, a falácia da contabilidade azul, da gestão financeira pós-moderna e da contratualização fabulosa de tudo, além de mascarar o cotidiano sórdido de maracutaias sem fim, ocupa o espaço inamovível do campo, da bola e dos jogadores, autênticos e sacrossantos entes do velho e rude esporte bretão.

Não se prega aqui a crise, a bancarrota ou a picaretagem nos atos e nos intestinos dos clubes (v. aqui e aqui).

Mas, sim, quer-se o resgate da verdade e da razão de ser do futebol: um time e a sua torcida.

Um time que seja para a sua torcida, e não feito de jogadores escalados por interesses financeiros a mando de donos bufões e seus compromissos pessoais, por ordens televisivas ou por  convenientes intelecções técnicas.

E uma torcida que seja da sua gente, do seu povo, e não reduzida à nata social, com suas camisas oficiais de cem dólares, seus tickets a preço de ouro, suas bocarras de fast-food e seus flashs sincronizados com redes sociais e distantes do campo de futebol.

Há de se ter em vista que o nosso exemplo não pode ser os esportes profissionais estadunidenses, cujos tipos e fins são outros, intimamente ligados aos gostos, padrões e ideais ianques.

Afinal, o nosso mundo é o futebol, sobre a nossa cultura e como nosso patrimônio.

Chega de "arenas", de "balanços superpositivos", de "chuteiras coloridas", de "marketing", "pirofagia" e "malabares".

Chega de super-receitas para supérfluos times, de ingressos com valores nobiliárquicos e de menosprezo às tradições, à torcida e ao trato com a bola.

O futebol brasileiro quer times e torcidas, quer jogadores e estádios, quer, em suma, futebol.

Para o resgate da nossa própria gente e da nossa alma.