sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

# o segundo

 
Um segundo filho não muda a vida -- a vida é que muda esse segundo filho.
 
Mais serenos, mais certos, mais seguros, mais racionais.
 
Enfim, somos mais pais por conta desta nova vida.
 
Restamo-nos mais independentes, mais autorais, mais confiantes, mais convictos.
 
Tudo flui menos laboratorial e tudo acontece com mais naturalidade, inclusive os sobressaltos.
 
Sem cerimônias e sem firulas, o segundo filho te madura.
 
E te envelhece.
 
E isso te muda, para além da aparência com menos cabelos e mais rugas.
 
E te conforta no aparente alívio do futuro.
 
Afinal, a pouca lógica da nossa cronologia permite esperar que no nosso adeus o primeiro, até então único, não chorará só.
 
Ali, naquela hora -- e sempre --, vestido sob o mesmo sangue e a mesma dor, encontrará o ombro e o abraço fraternal para dividir o vazio da perda.
 
Estranho tudo isso.
 
Deslumbrados com a vida que nos apresenta, já pensamos no porvir.
 
Extasiados com o nascimento que nos chega, já ousamos imaginar o nosso fim.
 
É o ciclo da nossa breve existência.