domingo, 25 de maio de 2014

# atleticania (xvi)



Minhas lembranças da saga como atleticano iniciam-se por volta de 1982 e 1983.

No primeiro ano, o título paranaense -- ainda numa época em que os torneios regionais tinham alguma importância -- e um time que enchia os olhos, ainda mais para a vista impúbere de alguém que estreava pelos campos de futebol.

Lembro-me bem daquele domingo, lá no Couto Pereira, a comemorar a conquista ao lado do meu jovem pai, numa final em que atropelamos o Colorado por uma goleada cujo placar já não me recordo, mas que tem as suas emoções devidamente guardadas na eterna memória.

Lembro-me de muitos gols, a festa rubro-negra a invadir o gramado e o início de uma relação de amor pelas cores de um clube.

Depois, em 83, a semifinal do Brasileirão contra o global e midiático Flamengo, cuja partida da volta, em Curitiba, nos foi surrupiada pelos múltiplos e históricos interesses em jogo.

Lembro-me que tínhamos praticamente o mesmo grande time do ano anterior e logo com trinta minutos do primeiro tempo o Atlético já vencia por 2 x 0 -- mas doce ilusão acreditar que nos deixariam avançar, e o jogo acabou com este mesmo escore e a nossa eliminação.

E também me lembro deste outro domingo (e como se fosse hoje), lá na garagem da casa da minha vó, a ver meu ainda jovem pai saindo para ir àquele mesmo Couto Pereira -- naquela tarde, com quase 70 mil pessoas, fez-se o maior público da história do estádio -- e me dizendo: "Hoje você não pode ir, você é muito pequeno, estará tudo muito lotado, muita confusão, mas prometo que será a última vez...". Eu, triste, num abraço de colo, devo ter lhe dito: "Tudo bem, pai... mas eles vão fazer gols, né?".

Chamar por "eles" não tinha nenhum significado subliminar para quem, mesmo sendo um infante atleticano, bem sabia do que nosso time era feito.

É que, para além daquelas lembranças todas, a minha maior recordação era mesmo "deles".

Era uma dupla que conhecia o nosso valor, que incendiava a massa rubro-negra, que nos enchia de um orgulho máximo e que de mim fizeram um grande piá atleticano.

Eram dois negros, bigodes, camisas 8 e 9, ponta-de-lança e centroavante, cérebro e artilheiro, organizador e matador.

Eram como um só, e sempre juntos eram meus nomes e meus titulares absolutos em todos os times de pelada, de botão, de meia e de bolinha.

Eram Assis e Washington.

Washington, ontem, nos deu adeus.

E com ele leva a paixão infantil de um dos meus dois primeiros ídolos no futebol.

Coincidentemente, num dia em que vencemos outro "Atletiba".

De modo convincente e festivo, a nos animar por se ver tentar resgatar a essência do jogo e de um clube  e de recuperar a máxima de que a nossa camisa só se veste por amor.. 

E assim esperamos ver muitas outras vitórias como a de hoje.

Para que também possamos ver muitas outras crianças rubro-negras criando seus novos heróis, comemorando, vibrando e torcendo por eles.

E até chorando.

Obrigado, Washington.

Obrigado, Atlético.