sexta-feira, 2 de outubro de 2015

# faça-se o caos



Não é (ainda) para se sentir "traído" por este novo início de Governo.

Não há dúvidas de que ele afunda na melancolia, de que está muito mal e de que cedeu muito fácil às pressões da direita e da agenda neoliberal, na ilusão de se que conformaria um melhor "plano de governo" e uma "governabilidade", inevitavelmente aliada aos piores interesses. 

Entretanto, dúvida não há de que hoje (ainda) seja a única opção minimamente viável para se seguir na reconstrução do país.

E de que não somos uma única ilha rodeada de crise por todos os lados -- basta lembrar que a atividade industrial na China está no nível mais baixo em seis anos e que na Europa o negócio se arrasta há quase uma década.

Por isso a ideia é pensar nas bases e nas ações pós-ajuste (ou pós-arrocho).

Sendo assim, insistir na propagação do cenário de terror é contribuir no coro da massa que rumina pelas cercanias das metrópoles aburguesadas, não aceitando (ainda...) a quarta vitória de Lula e Dilma.

No palco de novela global, uma oposição político-partidária sem pé e muito menos cabeça, o óbvio trabalho sujo da grande mídia como alavanca e, claro, as manifestações fantasiosas orquestradas pela elite de plantão, à qual se alia uma classe média que esquece as suas origens e se agarra no sonho de uma vaga na garagem do country club alheio.

Mas, antes, uma pergunta: que "esquerda" é essa que o conservadorismo coxinha tanto quer combater?

Ora, nos últimos anos o Governo esteve, progressivamente, equidistante dos espectros políticos clássicos, não se podendo dizer que aqui se faz uma gestão progressista e políticas públicas de esquerda, basta ver os nomes e as estratégias postas no tabuleiro.

Vamos além: quão diferente (e pior) seria, já neste quarto mandado petista-pmdbista, um alternativo governo tucano-pmdbista?

Logo, em nosso caso não se trata de ideologia ou partidarismo.

É, sim, do lado de lá, preconceito, racismo e ódio: ódio de classe, de cor e de origem.

Ódio do lado que se escolheu e pelo qual se imagina lutar.

Ódio em ver que um partido popular, com bases populares e sob a liderança populista de Lula -- sim, o  "populismo" pode ser bom -- está há doze anos no poder, intransigente na ideia de pôr fim na miséria e de reduzir a redução da desigualdade social.

E, principalmente, ódio em saber que, sem golpe, as perspectivas são desalentadoras e a chance é zero de retomar o poder nas urnas.

Afinal, só há uma candidatura com chance de vitória em -- se houver eleições -- 2018: uma que se faça pelo lado esquerdo do peito, com Lula (PT), Ciro (PDT), Flávio Dino (PCdoB) ou Fernando Haddad (PT).

Depois, o problema está no que diferencia as forças reacionárias do Brasil -- a direita, a grande mídia e a alta burguesia -- e algumas políticas deste Governo.

Claro que tudo ainda é pouco, uma vez que a expectativa era radicalizar para transformar a vida brasileira, como aqui se demonstrou.

Contudo, ora, nunca antes se enfrentou tão a sério o nosso mais grave problema: a desigualdade social, o abismo que separa e segrega a nossas gente -- e nesta esteira vem dezenas de ações que buscam aplacar esta nossa chaga, como "Prouni", "Pronatec", "Pronaf", "Mais Médicos", "Minha Casa, Minha Vida", "Bolsa Família" etc.

E, depois, temos ainda a Petrobras -- como aqui já dissemos, desde Vargas um objeto de desejo nada obscuro das multinacionais e dos países ricos.

Enfim, lá e cá, embora na superfície e em alguns aspectos possam se parecer, o que está em jogo não são apenas os interesses de um Governo que fora eleito com a visão de centro-esquerda e de toda uma sociedade esperançosa em oposição às ideias da direita e dos seus donos de engenho.

O que está em jogo é a nossa construção democrática.

E contra ela se quer o caos.