terça-feira, 9 de dezembro de 2008

# os paralelos entre eugênio e evangelino


fdsEugênio e Evangelino preparavam-se para prestar o vestibular e cumprir a promessa feita no início do ano: passar na Federal.
fdsEmbora frequentassem o mesmo colégio e a mesma turma, ambos viviam paralelas realidades diferentes. Eugênio era daqueles que aprontavam. Não queria muito saber de estudar e vivia os seus 17 anos quase única e tão-somente para o prazer, a diversão e a arte, pois sempre repetia para os seus pares, que ficavam preocupados com o seu temeroso desempenho: "[a] hora que for preciso, estudarei e passarei", garantia ele.
fdsEvangelino, por sua vez, era um jovem bastante dedicado, pouco ligado ao mundo extra-classe e que sempre vivia no seu quadrado, crente que apenas um esmerado dia-a-dia seria capaz de lhe garantir o êxito final.
fdsEugênio, embora nome fácil e cintilante em todas as rodas do recreio, em pleno segundo semestre já apresentava na ficha escolar faltas, brigas, suspensões e notas vermelhas; Evangelino, ainda que meio esquecido por todos, era exemplar nos estudos, sem remendos comportamentais e com o título de aluno modelo.
fdsEugênio, sempre rodeado de amigos, não perdia uma festa na cidade, e, sempre rodeado de lindas mulheres, conseguia malandramente levar o namoro simultâneo com várias delas; Evangelino, sempre sereno, aproveitava as noites e os finais de semana para assistir tv, confortável em seu moleton.
fdsA hora do vestibular se aproximava, e os dois cada vez se mostravam mais diferentes. Eugênio, para todos em volta, era um verdadeiro carnaval de sentimentos: alegria, ódio, gozo, decepção e esperança misturavam-se a cada semana, a cada simulado que fazia e a cada noitada que tinha; Evangelino, entretanto, era um iceberg, pois das suas ações o que menos se sentia era um coração a bater, tamanha a nulidade das emoções que provocava em sua volta.
fdsChega , enfim, o último mês. Dali para a grande prova do vestibular haveria pouco mais de quatro semanas.
fdsEugênio, desesperado, convoca a todos. Chama pais, irmãos, amigos, padres, ladies e prostitutas. Pede perdão e pede ajuda. Todos riem, choram e se abraçam. Ele assegura que, nunca antes na história desta cidade, alguém haverá de se dedicar tanto quanto ele neste final. Empolgados, todos prometem irrestrito apoio nesta reta final. Todos querem auxiliá-lo a conquistar o seu merecido lugar, afinal, ele, Eugênio, era um dos líderes daqueles colégio, tinha uma formosa história lá dentro e sempre foi tido como o grande cara. A comoção foi generalizada e todos a sua volta uniram-se a ele, com um só objetivo: a sua aprovação.
fdsPara Evangelino, porém, nada mudou. Continuou ali, no lânguido trajeto colégio-casa-colégio, envolto em livros e com a fria companhia de sua irmã, do seu já débil e aleijado avô, do seu peixinho e dos animados desenhos japoneses.
fdsDomingo, dia 7, 5:00 pm. É o grande dia. Para Eugênio, serão quase duas horas de aflição, de angústia, de tensão e de tezão. Para Evangelino, um dia como outro qualquer.
Domingo, dia 7, 8:oo pm. Fim da prova. Ambos saem e já conferem o gabarito.
fdsEugênio faz as contas e vê que acerta 85%. Aprovação garantida. Êxtase total. Estoura champagne, toma litros de rum e promove o maior carnaval nas cercanias de sua casa. Vêm toda a família, os amigos, padres, ladies e prostitutas, e a festa vai quase até o sol raiar.
fdsEvangelino, a sós, também faz as suas contas. Acerta 90% da prova e tem a aprovação garantida, ficando umas quatro posições acima de Eugênio. Numa alegria reclusa e nada contagiante, vai para casa, entra, comunica a irmã, acaricia o vovô coxo, alimenta o seu peixinho e deita no sofá para então se animar com o desenho japonês que está para começar.
fdsE diante disso, realmente parece que nem no infinito as paralelas vidas de Eugênio e Evangelino encontrar-se-ão.
fds