terça-feira, 29 de setembro de 2009

# reis & magos

fds Acabo de assistir a um momento sublime da história.
fds Ainda que nascido, à época somente teria tido o privilégio de ouvir, vez que os olhos no Brasil ainda não eram capazes de acompanhar os fatos.
fds Eram os tempos do rádio, nada de tv.
fds Era o tempo do mundo, vasto mundo.
fds Hoje, a pequenez do mundo e a infinda tecnologia permitiram-me ter e ver essa história.e
fds E então me preparei. Terno, chapéu e sapato, lenço e relógio nos bolsos e, sentado, liguei a televisão, apertei o "play" e, apagada as luzes, regressei no tempo.
fds Lá estava eu, em Estocolmo, capital da Suécia, no mês de junho de 1958, para acompanhar, na íntegra, a semifinal (com locução inglesa e imagem explêndida) e a final (num mudo e desgastado filme) da VI Copa do Mundo de Futebol.
fds Pela primeira vez em minha vida -- e garanto que tal privilégio seja de poucas pessoas --, ali, por mais de 180 minutos, os dois maiores gênios do futebol brasileiro estão na minha frente, sem dublês, sem montagens, sem clips e sem melhores momentos: Pelé e Garrincha, belos, fortes, impávidos, colossais e idolatrados. Salve, salve!
fds Foi surreal vê-los em ação, vê-los marcar, vê-los chutar e vê-los trocar passes.
fds Sim, porque neste caso uma singela troca de passes tem dimensões inimagináveis, pois é assim, num jogo inteiro e sem compactação que se consegue vê-los mais humanos (demasiadamente humanos) e atletas e menos super-heróis e popstars.
fds Ambos, mais ou menos juntos em três Copas do Mundo, jamais perderam um partida, jamais se estranharam, jamais brigaram, jamais se endeusaram e, embora artistas, jamais encenaram.
fds Mas os jogos não eram só eles.
fds Considerado por muitos como o melhor time de futebol de todos tempos -- discussão milenar que nunca findará e que põe lado a lado essa seleção brasileira, de 1958, e aquela de 1970 --, a faraônica dupla fazia-se acompanhada de tantos outros jogadores geniais.
fds Nas duas partidas, às claras, nota-se o esplendor do goleiro Gilmar, o nosso intocável número 1; vê-se o poder de marcação e a liderança de Zito, um volante à época já moderno; deslumbra a classe, a técnica e o poder de armação de Didi, o melhor camisa 8 que já tivemos; contagia a força, a potência e o oportunismo de Vavá, um dos grandes centroavantes da nossa história; e confirma-se que Nilton Santos e Djalma Santos -- ainda que esse só tenha sido titular no jogo final -- foram certamente os maiores laterais de todos os tempos.
fds Com dois idênticos placares (5 a 2), o Brasil derrota França e Suécia e consagra-se, pela primeira vez, campeão mundial, a minimizar o "complexo de vira-lata" que nos perseguia.
fds Deste junho de 1958, com Pelé e Garrincha juntos, aliados a tantos outros monstros, o Brasil mostrou ao mundo como, enfim, se faz o maior espetáculo da terra.
fds E hoje, enfim, senti-me "testemunha ocular" dessa nossa história.