quarta-feira, 20 de abril de 2016

# e assim caminha a humanidade (xxiv)



Enquanto isso, pelas conversas que me cercam, uma interlocutora comenta ao vento:

- “Ah, será que não vamos aprender nunca... Ah, será que vamos ficar repetindo esses erros...”.

Fingindo não ser obra da sua banda, eis que ela e tantos outros, após assistirem o show de horrores de uma Câmara de Deputados sem filtros e imaginando o resultado disso nas páginas da nossa História, de repente se insurgem sem ao menos corar, fazendo-se de avestruzes diante do caos e numa desfaçatez que ojeriza.

Ora, essa massa que desde o fim das eleições de 2014 tem ajudado a desestabilizar a nossa democracia precisa agora ter a coragem mínima de assumir, sem floreios, que o reflexo daquele escárnio de domingo tem a sua "cara".

Sim, é com estes pares que vós têm andado, e por isso vos digo quem sois neste contexto: são todos discípulos do eixo Cunha e Temer, exatamente como se assumia naquelas grandes faixas que circulavam pelo Brasil, revelando nas manifestações haver "milhões" dele.

No meio encastelado das minhas relações sociais, não há silvícolas, mendigos ou adultos inocentes que possam se permitir debruçar sobre o véu da alienação ou da ignorância como desculpas para o lado errado e esfarrapado em que há meses se plantaram, defendendo a "correção" do voto popular como se fossem enviados divinos.

E que, agora, tentam se metamorfosear, talvez convencidos não pelos acadêmicos ou pelos blogs sujos, mas pela avalanche da mídia internacional que escancara o golpe e estampa o escândalo de um país-picadeiro.

Eis, assim, o "respeitável público" que, doravante, com a mudança da pauta midiática, o acorrentamento dos órgãos de controle e o engavetamento da Lava-Jato, aplaudirá o "fim" da corrupção.

Desta "ilha" em que me cerco para não sucumbir a agressões, deboches e insinuações dissimuladas -- sim, o bovino raciocínio fácil, médio, curto e acrítico ataca com a ira medieval os hereges que teimam em não queimar na fogueira do pensamento único --, um blend de altivez, destemor e reflexão é a munição que carrego, sob a serenidade do alívio de saber onde sempre estive neste processo de flagrante ruptura da ordem constitucional.

Nesta trincheira, no dia a dia coabito com poucos engajados na consciência deste nosso estado de coisas, enquanto nas paredes observo os retratos atuais que nos inspiram na defesa do óbvio.

Óbvio que surge, agora, na ladainha que muitos dos irresponsáveis passam a murmurar, como se pudesse ser crível: “putz, foi mal, a gente não achava que era golpe e que iria dar nisso...”.

No ideal cristão arrependimento e perdão devem caminhar juntos.

Mas teimo e, triste, hesito em dar as minhas mãos.

Afinal, o esbulho fascista praticado e depois avalizado por esta gente ficará por um bom tempo entalado como um nó em nossa garganta.