quarta-feira, 13 de abril de 2016

# orllando orffei


Nesta doidivana ciranda política na qual tonteamos ao tentar acompanhar, um fato é o mais bizarro.

Até poderia me referir ao multi-indiciado Eduardo Cunha, um ladravaz notório que, se adonando da bola, no dia a dia trabalha inexpugnável na presidência da Câmara de Deputados pela ruptura da ordem democrática e do estado de direito, sem rodeios e com máxima ginga.

Até poderia me referir ao escárnio jurídico que caracteriza os motivos que tentam dar cara de legitimidade ao pedido de impeachment, com uma pretensão – exitosa, gize-se – de chegar à grande parte população, por meio da grande mídia e seus lambe-botas, e convencê-la de que se trata de algo "sério" ou "técnico".

Até, também, poderia me referir aos bailes da massa bem-cheirosa pelas orlas brasileiras, num desfile de zumbis amarelados com suas faixas sem lógicas, seus discursos sem sentido e suas presenças sem alma e amor.

Mas não.

O mais incrível é algo que, embora encarado com a mesma naturalidade dos três fatos acima, reveste-se de uma sordidez ímpar, como sói acontecer com os golpes clássicos.

Refiro-me ao emplastificado Vice-Presidente da República.

Refiro-me a um sujeito que, mais ou menos nos bastidores, constrói, conspira, prepara, promove, arma, articula, move e maneja a expurgação de uma Presidente que, não obstante os tantos defeitos, é absolutamente honrada e sobre a qual não paira nenhum crime.

Ora, um sujeito ocupando o cargo que ocupa deveria, no mínimo – e se titular da mínima decência e ética –, manter-se discreto, sóbrio (e não soturno) e com falas protocolares, como exige o politicamente correto (e agora a expressão tem o máximo cabimento).

Porém, sem qualquer constrangimento, move fundos e contata mundos para ganhar no grito a cadeira mais importante da República Federativa do Brasil.

E isso passa incólume pela propaganda midiática – é elementar, meu caro Watson.

E isso passa indene pelo ódio dos não-democratas – é claro, mein Führer.

E isso passa ileso pela ladainha dos isentões de plantão – e aí, bem, talvez Freud explica.

Assim, neste "circo de horrores" em que transformaram o Brasil, a marmelada maior vem do falsoinfausto Michel Temer, o capitão do espetáculo.

Um mágico malabarista que doma bestas e cospe fogo em pleno globo da morte.

E que da cartola saca o golpe, para risos e o delírio silencioso de um lamentável público.