terça-feira, 12 de abril de 2016

# touché


Não haverá golpe – e mais do que um simples mantra, é mera análise do que consta nos fatos, astros, dados, bulas, dogmas e evangelhos.

No retrovisor, porém, o reflexo é também claro: não se desistirá do golpe.

Agora, será frustrado no Congresso (provavelmente na Câmara e indubitavelmente no Senado); depois, embora com certo receio técnico e político  lá temos o trio Fux-Gilmar-Toffoli , não deverá prosperar no Tribunal Superior Eleitoral; e ainda terá o Supremo Tribunal Federal que ao cabo porá fim neste espetáculo de horror.

Porém, a aliança conservadora brasileira – tridente organizado pela elite, pela grande mídia e pela oposição – que carrega (e faz de trouxa) grande parte da “classe média” brasileira pelas orlas do Brasil, não desistirá do golpe.

E não apenas pelo poder, na medida em que nas urnas e pelo voto a direita não voltará tão cedo ao comando do país.

E não apenas pela sua própria visão de mundo, pela qual deseja o definhar de políticas públicas com vistas à recuperação de um terreno hoje compartilhado com muito mais brasileiros.

E não apenas por organização e métodos pragmaticamente díspares – afinal, convenhamos, neste contexto já nem parece o caso (v. aqui e aqui).

E não apenas por um ódio que move montanhas (v. aqui).

Não.

Embora uma carga disso tudo na balança conservadora seja bastante natural, a grande questão que sassarica os ricos brasileiros (e multinacionais) e que fez retumbar os gritos esquizofrênicos de boa parte de um Congresso Nacional é outra.

É o "cagaço".

É a certeza de que aquela antológica frase da Presidente Dilma, dita em 2012 logo no início desse troço a envolver as bandidas parcerias entre homens públicos e empresários privados, será para valer.

“Não sobrará pedra sobre pedra!” – disse Dilma, quando apontou as armas ("Às armas! Às armas!") aos canalhas da Petrobras, demitindo inescrupulosos diretores que, lado a lado do “mercado”, desde os anos 90 roubavam uma grana preta da então caixa-preta estatal (v. aqui e aqui).

E assim foi feito, e assim se faz, e assim se vê tantos ratos saindo da toca para atear fogo na República.

Afinal, enfrentar a corrupção sempre foi uma dissimulada pauta da direita e dos conservadores, abusada na retórica e esquecida na prática.

Porém, hoje, a corrupção – longe de ser o maior problema do Brasil, gize-se (v. aqui) – deixa de ser varrida para debaixo do tapete, deixa de virar notícia episódica de telejornais e, principalmente, deixa de virar um problema só do Estado, cujo fardo carrega o deus-Sol pós-moderno (v. aquiaqui).

Hoje, a corrupção, bem como toda a sorte de crimes contra a Administração Pública, é vista, sabida, combatida, perseguida, esmiuçada e, salvo ainda um ou outro tipo piciforme, punida.

E não apenas por um compromisso de fé da ex-guerrilheira Dilma.

Mas, sim, porque se cortou na carne do próprio partido, sem titubear.

Porque ações preventivas, fiscalizatórias e corretivas são postas em práticas pelos órgãos internos de controle (CGU e Portal da Transparência, criados em 2003) e de repressão (Polícia Federal) e externos, nomeadamente o TCU e o Ministério Público que, apesar de todos os abusos e imperfeições (v. aqui), nunca antes na História gozaram de tantas ferramentas e de tanta autonomia ou independência nas respectivas competências (v. aqui).

Ora, quem fraqueja e lambuza-se diante de tantos desvios e mal-feitos criminais, quem lucra e locupleta-se diante de um Estado frágil, dócil e complacente, jamais veria com bons olhos tal projeto institucional, cuja arquitetura tenta ser capaz de promover novos alicerces éticos e legais, como as novas leis que responsabilizam administrativa e civilmente as empresas pela prática de atos contra a Administração Pública e que proíbem o financiamento empresarial de campanhas.

Ao contrário, políticos picaretas e empresários escrotos se juntariam numa joint-venture capaz de tudo para reverter estes novos modos de guiar o Estado e fazer política.

Com medo, Cunhas (e chikungunyas) querem o caos do país (v. aqui).

Mas com coragem, vamos juntar os cacos e retomar a viagem.

Para desespero daqueles que veem se aproximar um dos aforismos de Kafka: “A partir de um certo ponto não há retorno. Este é o ponto que devemos chegar”.

E chegaremos lá, sob novas bases – posto que não se transforma um país com coalizões de ocasião.

E sob um renovado rumo.

À esquerda, sempre.